Entre os aromas que preenchem a Bienal do Ibirapuera durante o São Paulo Coffee Festival 2025, um em especial tem provocado comoção entre baristas, especialistas e coffee lovers: o Café 100 Pontos. Inédito no mundo, o microlote foi produzido por indígenas do povo Suruí, na Terra Indígena Sete de Setembro (RO), e apresentado com exclusividade pela 3 Corações, que celebra o feito como marco histórico da cafeicultura brasileira.
O café atingiu a nota máxima no protocolo de avaliação da Specialty Coffee Association (SCA), feito atestado por Silvio Leite, referência mundial em cafés especiais. “Nunca existiu um café com essa complexidade. Este é o café perfeito”, declarou o especialista, que também é embaixador do Projeto Tribos, iniciativa da 3 Corações criada para impulsionar o protagonismo indígena e valorizar os Robustas Amazônicos.
Uma história que começa com escuta e respeito
Gerente de cafés especiais da 3 Corações, Patrícia Carvalho relembra que o Projeto Tribos surgiu de forma orgânica, a partir de uma descoberta quase acidental na Semana Internacional do Café, em 2018. “Fomos apresentar o Projeto Florada, voltado às mulheres cafeicultoras, e encontramos um indígena expondo seu café em um estande minúsculo. Era o Dalton Tupari, ao lado da Embrapa. Aquilo nos encantou”, contou em entrevista ao portal Agro em Campo.
Meses depois, em janeiro de 2019, a equipe da 3 Corações viajou até Cacoal (RO) e visitou as terras indígenas Paiter Suruí e Tupari. Lá, descobriram um cenário que unia agrofloresta, ancestralidade e potencial produtivo inexplorado. “Na época, apenas três famílias cultivavam café. Fizemos um censo com a Funai e mapeamos 169 famílias que já tinham pés plantados, herança do homem branco antes da demarcação”, explica Patrícia.

O projeto foi estruturado com base em três pilares: protagonismo indígena, proteção da floresta e qualidade do café. A partir daí, veio o concurso anual, que estimula a melhoria contínua, premia os melhores microlotes e garante a compra de 100% da safra. O resultado: Robustas Amazônicos com notas acima de 85 pontos e, agora, o lendário 100.
Do território ao cristal de Murano
Cultivado pelo cacique Rafael Suruí e apresentado por Celesty Suruí — a primeira barista indígena do Brasil — o Café 100 Pontos simboliza não apenas excelência técnica, mas uma revolução silenciosa na maneira de pensar a cadeia do café. “É doce, complexo, com retrogosto longo. Um café que emociona. Uma iguaria”, resume Patrícia. A bebida será lançada oficialmente em agosto, em embalagem artesanal feita com cristal de Murano, com tiragem limitada a 300 unidades.
Celesty conduziu pessoalmente as degustações no evento e também ministrou a palestra “Projeto Tribos e a Cafeicultura dos Robustas Amazônicos” no espaço O Laboratório. “Ela é embaixadora do projeto, barista e filha de cafeicultores. Leva essa história na pele”, destaca Patrícia.
Inovação e novas experiências sensoriais
A 3 Corações ainda apresentou no festival outros destaques como o Florada Canéfora Rituais, produzido exclusivamente por mulheres, e o Cappuccino Frozen — sobremesa cremosa à base de café. No espaço A Cozinha, o casal Ana Carolina Lembo e José Luis Soares (@dopaoaocaviar) assinou uma receita harmonizada com o Café Rituais. Ativações interativas, como a Roleta Digital e harmonizações com snacks da NUU e Zaytas, também marcaram presença.

“O São Paulo Coffee Festival nos permite contar histórias reais, de pessoas que transformam o café em cultura, renda e identidade. Cada xícara que o público experimenta carrega isso”, afirma Anderson Spada, head de marketing do Grupo 3 Corações.
Para além do marketing ou da inovação de produto, o protagonismo indígena, a agrofloresta e a valorização cultural emergem como novos vetores da cafeicultura contemporânea — e o Café 100 Pontos é, sem dúvida, seu maior emblema até agora.
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