Resumo da notícia
- O Porto de Santos, maior complexo portuário da América Latina, é fundamental para o agronegócio brasileiro, movimentando quase um terço da corrente comercial do país e exportando 70% do café nacional em 2024.
- Em 2024, o porto bateu recorde histórico com 179,88 milhões de toneladas movimentadas e projeta ultrapassar 300 milhões em 10 anos, impulsionado por crescimento anual de cerca de 6%.
- São investidos R$ 12,5 bilhões em recursos públicos para ampliar infraestrutura, incluindo o túnel Santos-Guarujá, pavimentação de vias e o novo terminal STS8, além de R$ 3,75 bilhões em caixa para projetos prioritários.
- A gestão aposta em investimentos contínuos e parcerias com o setor privado, com 62 terminais privados recebendo aportes para garantir expansão e modernização, visando atender a demanda crescente e promover segurança nas operações.
Resumo gerado pela redação.
Os investimentos em infraestrutura no Porto de Santos foram assuntos no Agro em Campo nesta semana. Em entrevista, o diretor de operações da autoridade portuária de Santos, Beto Mendes, comentou sobre as estratégias para ampliar a capacidade de exportação do local, tendo em vista o crescimento das negociações internacionais que envolvem inclusive o mercado agrícola.
Responsável por movimentar quase um terço de toda a corrente comercial do Brasil, o Porto de Santos é hoje o maior e mais importante complexo portuário da América Latina. Diante disso, sua relevância para o agronegócio brasileiro é cada vez maior.
Só em 2024, o porto foi responsável por exportar 34,3 milhões de sacas de café, o equivalente a quase 70% de todo o volume embarcado pelo Brasil, se consolidando como um dos principais canais logísticos para o setor.
“O porto de Santos é realmente a maior e a melhor porta de entrada do Brasil para os produtos transnacionais. Devido a sua interlândia, região onde produz os produtos. Produtos agrícolas representam 72% de tudo que se movimenta lá no Porto de Santos. […] Está inserido no maior centro consumidor do Brasil e isso dá condição para que tenha um crescimento muito forte e frequente”.
Crescimento acelerado e visão de longo prazo
Segundo Mendes, a movimentação do Porto de Santos tem crescido acima da média nacional, com taxa anual de cerca de 6%. Em 2024, atingiu seu maior recorde histórico: 179,88 milhões de toneladas, com projeção de ultrapassar 300 milhões de toneladas em 10 anos. Esse ritmo de crescimento exige infraestrutura robusta e capacidade operacional compatível com a demanda.
No total, R$ 12,5 bilhões estão sendo investidos no Porto de Santos apenas em recursos públicos federais, que já estão destinados. Além disso, atualmente o porto conta com mais R$ 3,75 bilhões em caixa.
Entre os projetos prioritários que recebem investimentos estão o novo túnel Santos-Guarujá, orçado em R$ 6,8 bilhões, a pavimentação de vias perimetrais e o novo terminal de combustíveis STS8. O Tecon Santos 10 também é um dos destaques, pois aumentará a capacidade de contêineres em 3,5 milhões de TEUs, além da implantação do VTMIS, um sistema de controle de tráfego aquaviário que promete mais segurança e agilidade nas operações portuárias.
Além dos investimentos que estão relacionados aos recursos públicos, os terminais também recebem aplicações do mercado privado. “As empresas privadas também estão investindo forte em Santos. Nós temos 62 terminais privados, todos eles, na sua grande maioria, recebendo investimentos”, disse Mendes.
Modelo de gestão, investimentos e expansão territorial
Na entrevista ao Agro em Campo, Beto Mendes defendeu que os investimentos na infraestrutura portuária sejam perenes, justamente para acompanhar o crescimento das demandas e sustentar um planejamento de longo prazo.
“Ocorre que no passado recente, no governo anterior, houve um investimento realmente de R$ 70 milhões. Parece ser um volume razoável, mas para um porto do porte de Santos, que vai chegar em 10 anos a 300 milhões de toneladas movimentadas, é um dinheiro irrisório, insignificante. Não dá para recuperar, muitas vezes, o asfalto de uma perimetral”.
Com 62 terminais privados em operação, o Porto de Santos já funciona sob regime de concessão privada, conforme ele esclareceu. O debate mais recente girou em torno da desestatização da própria Autoridade Portuária, hoje uma empresa pública federal que faz as normas e fiscaliza.
Para Mendes, manter a Autoridade Portuária de Santos sob gestão pública é essencial para garantir isonomia entre os diferentes segmentos logísticos que operam no porto, atuando como se fosse a “síndica do porto”.
“O modelo de gestão de Santos é muito parecido, principalmente, com todos os portos da Europa. São portos multipropósitos que movimentam vários tipos de carga. Se existe uma concorrência interna entre os terminais de granéis líquidos, de granéis sólidos, terminais de fertilizantes, e assim por diante… a autoridade nesse caso é mais inteligente seja pública porque ela não é tendenciosa para um segmento ou para o outro”.
Outro projeto estratégico, de acordo com ele, é a ampliação da poligonal do porto, que passará de 7,8 milhões para quase 21 milhões de metros quadrados, envolvendo áreas em Santos, Guarujá e Cubatão. Com o investimento, o espaço também será ampliado para São Vicente. A proposta visa acomodar novos terminais e dar conta da crescente movimentação de cargas.
“É o primeiro passo. Isso é planejamento. Isso é olhar para o futuro e pensar que daqui 10 anos nós vamos ter que movimentar 300 milhões de toneladas em Santos ou mais. Nós vamos trabalhar para que o Brasil ainda cresça mais acelerado e, se crescer ainda mais rápido, obviamente a média do crescimento de Santos ainda pode ser ampliada”.
Efeitos da taxação do café brasileiro pelos EUA
A entrevista também abordou os impactos da tarifa imposta pelo governo Trump sobre as exportações. Mendes revelou um aumento pontual na movimentação de cargas no porto nas últimas semanas por conta da medida que começa a valer no dia 01 de agosto, com exportadores tentando antecipar embarques antes da aplicação da nova tarifa.
“O perfil do presidente Trump é de um grande fanfarrão. Ele fez isso também com a China e depois voltou atrás. Nós estamos trabalhando acreditando que as nossas lideranças, que as autoridades brasileiras que têm o poder dessa regulação e negociação internacional, estão buscando novas alternativas”.
Para Beto Mendes, faltou assessoria ao presidente dos Estados Unidos antes da tomada de decisão. O diretor de operações portuárias acredita que os norte-americanos vão, na verdade, perder e não ganhar. “Primeiro que o americano produz somente 1% do café que consome. Quase 40% do café que consome, ele compra do Brasil, a grande maioria movimentada em Santos”.
Segundo ele, grandes compradores norte-americanos já pressionam o governo dos EUA para que haja um recuo na decisão. Por outro lado, o Brasil já está preparado para buscar novas rotas e parceiros comerciais.
Futuro: Brasil com pressa
Por fim, Beto Mendes reforçou o compromisso da APS com o futuro do país, inclusive do agronegócio brasileiro. Conforme ele explicou, o porto recebe em média 11 mil caminhões por dia, chegando a picos de até 18 mil em épocas de safra, e cerca de 6 mil navios por ano. A implantação de um novo sistema integrado de agendamento de cargas visa dar mais previsibilidade, reduzir gargalos e aumentar a eficiência logística.
“Estamos contratando o VTMIS, que é um sistema de controle aquaviário focado no cuidado com a segurança da navegação. […] Queremos ainda esse ano iniciar a implantação, que será de radares, onde vai coordenar toda a entrada e saída de navios do porto de Santos. Vamos poder compartilhar tanto com a Polícia Federal quanto com a Receita Federal, e com a nossa diretoria de operações, para que a gente possa continuar tendo as melhores condições de Santos continuar crescendo e atendendo toda a movimentação de carga”.