Em entrevista ao Agro em Campo, CEO da Fex Agro detalha por que culturas ganham espaço sobre parceira estratégico
Foto: divulgação - Mapa

O crescimento das exportações de gergelim e feijão-mungo recolocou o Brasil no centro da estratégia de abastecimento asiática e abriu espaço para um novo ciclo de negócios no agronegócio. Dados do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (IBRAFE) mostram que, até setembro de 2025, o País embarcou 349,6 mil toneladas de gergelim e 171 mil toneladas de feijão-mungo, avanços que superaram 60% em relação ao mês anterior e consolidaram uma rota comercial em expansão.

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Esse movimento está ligado à combinação entre tecnologia de produção, rastreabilidade e maior demanda do mercado asiático por alimentos com origem comprovada.

A ampliação de estabelecimentos brasileiros habilitados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) reforça esse cenário: já são 61 plantas autorizadas a exportar gergelim para a China, responsável por cerca de 38% do consumo mundial do produto.

Para entender o impacto desse reposicionamento e os próximos passos do setor, o Portal Agro em Campo conversou com Daniel Pinheiro Barbosa, CEO da FEX Agro, empresa que atua no mercado de insumos e comercialização de grãos.

A seguir, ele explica como o Brasil se tornou um parceiro de confiança da Ásia e por que culturas antes secundárias agora ganham protagonismo.

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“O Brasil deixou de ser apenas fornecedor e passou a ser parceiro estratégico”

Como o senhor avalia o aumento das exportações de gergelim e feijão-mungo registradas em 2025?

Esse crescimento mostra que o Brasil entrou em uma nova fase. Essas culturas tinham participação pequena na pauta exportadora e, de repente, passaram a conectar o produtor ao mercado asiático de forma muito mais direta. Quando o IBRAFE aponta um salto de mais de 60% em um único mês, isso revela um nível de confiança que não existia antes.

Daniel Pinheiro Barbosa, CEO da Fex Agro – Arquivo Pessoal

O que explica esse avanço tão rápido?

Há dois fatores. Primeiro, a demanda asiática está mais sofisticada. O consumidor quer saber origem, manejo, sustentabilidade e estabilidade de fornecimento. Segundo, o Brasil tem capacidade de entregar isso. Produzimos com tecnologia, possuímos áreas adaptadas ao cultivo e garantimos volume com regularidade. Esse conjunto cria vantagem competitiva.

Como a habilitação de 61 estabelecimentos para exportar gergelim à China impacta o setor?

Essa habilitação é um marco. A China responde por quase 40% do consumo global e, para acessar esse mercado, é preciso ter credibilidade sanitária e institucional. Quando o MAPA amplia as plantas autorizadas, envia um recado claro: o Brasil é confiável e está alinhado aos padrões internacionais.

Rastreabilidade e governança puxam novo ciclo de confiança

A Fex Agro adotou a rastreabilidade como base do modelo operacional. Por quê?

Porque a Ásia valoriza segurança alimentar. Quando apresentamos origem, lote, análise, histórico do produtor e logística, mostramos respeito pelo comprador. A rastreabilidade virou a nova moeda de confiança. Ela reduz ruído, diminui risco e fortalece relações de longo prazo.

Os produtores estão preparados para essa nova exigência?

Sim. O produtor brasileiro é tecnificado e sabe que rastreabilidade não é obstáculo — é ferramenta comercial. Muitos já entenderam que quem entrega transparência se posiciona melhor no mercado internacional.

O gergelim e o feijão-mungo podem se tornar culturas permanentes no calendário nacional?

Com certeza. São culturas eficientes, rentáveis e bem adaptadas ao clima. Além disso, dialogam com janelas estratégicas de plantio no Centro-Oeste, o que ajuda a melhorar a renda e distribuir melhor o uso do solo.

“A Ásia já não vê o Brasil apenas como vendedor, mas como parceiro”

Como o senhor enxerga essa relação nos próximos anos?

Vejo como uma parceria madura. A Ásia não está buscando apenas toneladas. Ela busca previsibilidade, segurança e compromisso ambiental. O Brasil tem capacidade de entregar tudo isso — e tem feito isso cada vez melhor. Por isso o relacionamento evoluiu: deixou de ser transacional e se tornou estratégico.

O que ainda falta para consolidar essa posição?

Continuar investindo em governança, comunicação e coordenação da cadeia produtiva. Cada grão exportado carrega a reputação do País. Quando mantemos padrão, mostramos que somos mais do que um celeiro mundial: somos guardiões da segurança alimentar global.