O avanço dos drones agrícolas tem remodelado práticas no campo e ampliado a produtividade das lavouras brasileiras. Desde a regulamentação em 2021, o número de aeronaves agrícolas em operação saltou de cerca de 3 mil para 35 mil, segundo estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Drones (ABDrone) e da Schroder Consultoria Agro. O ritmo de crescimento indica uma profissionalização contínua, impulsionada pela busca por eficiência, redução de custos e maior precisão nas operações.
Com o objetivo de orientar produtores e operadores sobre como garantir o melhor desempenho das aeronaves, o Portal Agro em Campo, conversou com Matias Lazarotto, fundador da AgroAcademy — uma das maiores escolas de pilotos agrícolas do Brasil.
Lazarotto reuniu sete recomendações essenciais para quem está começando ou deseja qualificar a operação. As respostas destacam a importância de técnica, planejamento e adaptação às novas funcionalidades dos drones.
7 pilares para uma operação agrícola de sucesso com drones
Qual é o primeiro passo para melhorar a eficiência dos drones na lavoura?
É fundamental conhecer profundamente o equipamento e suas configurações. Não basta comprar um drone e começar a pulverizar. É como usar um celular moderno: é preciso explorar funções, personalizar, ajustar e adaptar para cada cenário. Os acessórios fazem muita diferença, como kits de bicos que permitem variar o tamanho da gota ou agitadores de cauda que facilitam a mistura dos produtos.
Como adaptar a operação ao tipo de cultura e ao terreno?
Cada cultura exige um tipo específico de aplicação, com janelas e características próprias. Uma lavoura de soja é totalmente diferente de uma lavoura de café, por exemplo. Terrenos acidentados também exigem planos de voo distintos, e softwares de mapeamento ajudam muito. O ideal é entender profundamente a cultura e ajustar o drone à realidade do local.
Qual é o peso das condições climáticas no desempenho da operação?
O clima é decisivo. Ventos fortes, chuva e altas temperaturas podem prejudicar a pulverização e até danificar a aeronave. Ainda há quem trabalhe “no olho”, mas isso traz risco. Hoje existem softwares capazes de monitorar o clima em tempo real e emitir alertas. Em dias quentes demais, quando a pulverização perde eficiência, o drone pode ser usado para outras funções, como aplicação de fertilizantes.
Por que o planejamento operacional deve anteceder cada aplicação?
Planejar melhora a velocidade, a segurança e a rentabilidade. O operador precisa definir o melhor ponto de posicionamento para reduzir deslocamentos do drone. Também é essencial preparar uma estrutura eficiente de pouso, recarga e reabastecimento. Quanto mais organizado for esse processo — quase como um pit stop de Fórmula 1 — maior será o rendimento por hectare.
Como a manutenção interfere no desempenho do equipamento?
Manutenção e higienização adequadas são indispensáveis. O drone precisa de cuidado no manejo, no transporte e, principalmente, na limpeza. Por lidar com químicos, o tanque e os acessórios exigem uma tríplice lavagem para evitar resíduos. O mesmo vale para bateria e bicos. Muitos operadores não fazem isso corretamente, e isso reduz a vida útil do equipamento.
Quais regras precisam ser seguidas para operar dentro da legislação?
Drones não são brinquedos. Eles exigem responsabilidade, atenção e cumprimento das normas. Operador e aeronave precisam ser registrados na Anac e no Ministério da Agricultura. Também é obrigatório fazer o Curso de Aplicação Aeroagrícola Remota (CAAR) em instituição homologada.
Além disso, cada voo exige autorização e relatórios de operação. A segurança vem sempre em primeiro lugar.
Por que investir em especialização e atualização constante?
A tecnologia evolui rápido e exige operadores preparados. Depois do CAAR, há caminhos de especialização, como cursos de mapeamento de terrenos, que permitem aplicações mais precisas e localizadas.
O mercado está aquecido, a mão de obra ainda é escassa e quem se especializa aumenta muito as chances de empregabilidade.

Carreira em alta e formação profissional aquecida
A demanda por pilotos cresce em ritmo acelerado. Com milhares de drones registrados no país e expansão da pulverização aérea remota, produtores relatam dificuldade para encontrar profissionais qualificados — especialmente em regiões como o Mato Grosso.
O salário médio atual gira entre R$ 5 mil e R$ 6 mil, com possibilidade de comissões por hectare aplicado.
A formação profissional acompanha esse crescimento. Cursos como o CAAR + Piloto de Drone reúnem certificações exigidas pela legislação e ampliam as perspectivas de atuação.
São módulos teóricos e práticos, com acesso permanente ao material didático e possibilidade de certificação em até 24 horas após a prova. Mais de 4 mil pilotos já foram formados nos últimos anos.
Além do CAAR, existem formações complementares, como o curso de Operador Enterprise, voltado ao uso de drones menores para acompanhamento de culturas, e o curso de manutenção de drones, lançado recentemente.
A oferta de novos cursos específicos por cultura também está em desenvolvimento para atender a um público cada vez mais especializado.
A expansão segue acelerada: novos polos estão sendo implementados em diferentes regiões para facilitar o acesso de operadores e produtores rurais que buscam qualificação.