Dados da Fenabrave indicam recuperação das máquinas agrícolas, puxada por expectativa de safra positiva e recomposição de estoques
Foto: Agro em Campo/Rodarte

Na beira da estrada de terra, o barulho do motor de um trator zero quilômetro já não chama tanta atenção assim. Na concessionária da cidade, esse som virou rotina outra vez. Depois de uma sequência de anos mais travados, o mercado de máquinas agrícolas voltou a ganhar fôlego, e os tratores estão, literalmente, saindo do pátio. De janeiro a setembro deste ano, as vendas cresceram 19,6% na comparação com o mesmo período de 2024, alcançando cerca de 39,9 mil unidades no país, segundo os dados mais recentes da Fenabrave.​

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O salto fica ainda mais evidente quando o olhar vai para setembro. Em um único mês, o volume vendido subiu 27,5% frente a setembro do ano passado, chegando a aproximadamente 6 mil tratores comercializados, com alta de 15,7% em relação a agosto. Nas revendas, o clima é de “finalmente a chave virou”, embora ninguém se iluda: a conta de juros, custo de produção e endividamento do produtor continua pesando no fechamento de cada negócio.​

No discurso do presidente da Fenabrave, Arcelio Junior, aparece uma palavra que começou a rodar forte no campo: recomposição. As concessionárias, que vinham de um período de vendas fracas e estoques mais enxutos, agora aproveitam a expectativa de uma safra melhor para repor máquinas e alinhar o portfólio às demandas do produtor. Depois de quedas sucessivas em 2023 e 2024, o avanço de quase 20% em 2025 ainda ocorre sobre uma base baixa, mas indica que o pior da ressaca pode ter ficado para trás.​

Agricultura familiar

Na prática, quem puxa a fila desse crescimento são, principalmente, os tratores de até 100 cavalos de potência, voltados para a agricultura familiar e propriedades menores. Esse segmento sentiu forte as restrições de crédito e a piora de renda nos últimos anos, então qualquer melhora no acesso a financiamento e alguma perspectiva de preço melhor para as principais culturas já vira motivo para destravar a compra adiada. Não raro, o produtor volta à loja com aquela frase meio tímida: “lembrá daquele orçamento que fiz ano passado… vamos refazer ele?”.​

De acordo com o gerente de Vendas da Agritech, Cesar Roberto Guimarães de Oliveira, o resultado traz também o fortalecimento de modalidades de aquisição como o consórcio. “O mercado de máquinas agrícolas vem mostrando retomada consistente, impulsionada pelo interesse de pequenos e médios produtores em modernizar suas propriedades. O consórcio, em especial, tem se consolidado como uma alternativa viável e segura para planejar a compra de equipamentos sem comprometer o fluxo financeiro”, afirma.

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Mesmo com a reanimação do mercado de tratores no Brasil, o cenário ainda pede cautela. As taxas de juros seguem em patamar elevado, o nível de endividamento no campo continua alto e a rentabilidade, em muitas regiões, não voltou ao pico recente do agronegócio. A leitura das entidades é que 2025 marca um ano de retomada gradativa: as vendas sobem, a frota começa a se renovar de novo, mas o sprint mais forte só deve acontecer se o crédito ficar menos caro e se os programas de apoio à compra de máquinas tiverem continuidade. Até lá, o ronco do trator novo aumenta, sim, porém ainda com o pé meio leve no acelerador.​