Indústria de transformação é a maior beneficiada. Mesmo com recuo parcial dos EUA, sobretaxa de 40% ainda pressiona setor
Foto: divulgação - Agência Brasil - Fernando Frazão

A tensão comercial acirrada com os Estados Unidos, marcada pela imposição de tarifas extras sobre produtos brasileiros, encontrou uma trincheira de resistência no crédito. E os números mostram a escala da batalha: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já aprovou impressionantes R$ 9,72 bilhões em financiamentos para empresas no front do “tarifaço”. A linha de frente do Plano Brasil Soberano, criado como resposta direta às medidas do governo Trump, já mobilizou 717 operações de crédito.

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A cena é de uma corrida contra o tempo e os impactos econômicos. De um lado, 171 grandes empresas receberam o sinal verde para recursos. Do outro, um contingente significativo de 546 micro, pequenas e médias empresas também conseguiram aprovação, mostrando que o alcance da medida busca proteger desde os grandes players até a base da cadeia produtiva.

“O Plano foi uma determinação importante diante de um ataque unilateral e ajudou a proteger empregos e a ampliar a resiliência da nossa indústria”, defende o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Para ele, os quase R$ 10 bilhões aprovados reforçam o papel do banco na execução de uma “política pública exitosa”.

O mapa do auxílio desenha claro o eixo industrial do país. São Paulo lidera, com R$ 2,96 bilhões aprovados, seguido pelos estados do Sul: Rio Grande do Sul (R$ 1,33 bi), Santa Catarina (R$ 1,26 bi) e Paraná (R$ 1,08 bi). No campo setorial, a indústria de transformação carrega o peso maior do conflito, absorvendo sozinha R$ 7,8 bilhões do total. Comércio e serviços vêm depois, com R$ 1,21 bilhão.

A guerra não acabou, e a demanda por munição financeira segue alta

Aqui que a história toma um novo fôlego. Mesmo com o anúncio de um recuo tático dos Estados Unidos em novembro – que retirou carnes, café e algumas frutas da lista de tarifas extras –, a pressão continua firme. “A maior parte da indústria brasileira ainda conta com 40% de sobretaxa adicional”, lembra Nelson Barbosa, diretor do BNDES.

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A prova está nos números. No final de novembro, o governo reabriu as consultas de elegibilidade, ajustando as regras para tornar o crédito mais acessível. O resultado? Uma enxurrada de novos pedidos. Em poucas semanas, 267 novos protocolos surgiram, somando uma demanda adicional de R$ 4,55 bilhões. O apetite por recursos, claramente, não diminuiu.

A mudança nas regras foi crucial. No início, o crédito focava em empresas com faturamento de exportação para os EUA superior a 5% do total. Agora, esse limite caiu para apenas 1%, e a grande novidade: os fornecedores dessas empresas exportadoras também ganharam o direito de pleitear o apoio. É o BNDES tentando blindar não só quem exporta, mas toda a rede produtiva por trás das mercadorias.

Enquanto acadêmicos e economistas debatem os rumos da economia em eventos como a Semana de Economia Brasileira – que conta com patrocínio do próprio BNDES –, nas agências de bancos por todo o país, a realidade é mais prática. Empresários buscam informações, preenchem formulários e tentam garantir que suas operações sobrevivam a uma guerra comercial que, pelos dados, está longe de ter um armistício. A linha de crédito virou, pelo menos por ora, o principal escudo disponível.