“O que está acontecendo agora é uma crise. É um problema de curtíssimo prazo”. A frase veio do diretor de políticas setoriais, planejamento e inovação do Ministério de Portos e Aeroportos, Tetsu Koike, em entrevista ao Portal Agro em Campo.
A crise logística nos terminais portuários do Brasil foi um dos destaques do painel “Desafios Logísticos no Abastecimento de Café”, um dos mais movimentados do terceiro dia do 10º Coffee Dinner & Summit, evento promovido pelo Cecafé, em Campinas (SP).
Segundo Koike, o governo federal tem um plano de investimentos privados nos portos por meio de programas de arrendamento e autorizações portuárias, mas que o diálogo entre os envolvidos no processo logístico podem formar um esforço coletivo importante.
“Um investimento novo portuário demora anos para ser operacional. Não adianta dizer agora que está investindo mas só vai ficar pronto daqui a 5 ou 6 anos. O problema é agora. A gente está na urgência. Só a articulação e o diálogo para enfrentarmos essa situação”
Especialistas debatem crise logística nos portos

Também participante do painel, o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, avaliou que o conteúdo apresentado atendeu às expectativas dentro do contexto logístico do país. “Nós entendemos, na nossa avaliação, que o planejamento logístico é dessa forma: reunindo carga, transportador marítimo, terminal… hoje nós temos a clara evidência de que há um esgotamento na infraestrutura portuária do país”.
Heron reforçou que as cargas seguirão crescendo e que a falta de estrutura compromete o escoamento da produção brasileira. “É importante que a gente coloque na mesa as pessoas para debaterem e planejar os próximos anos. Não há dúvida de que, tanto o café quanto outras cargas, seguirão crescendo. Nós vamos precisar de condução adequada, de infraestrutura, para escoar nossas cargas”.
Para Casemiro Tércio, engenheiro naval e sócio da 4Infra, a situação já aponta para quase um colapso nos próximos três ou quatro anos. “Principalmente para o agronegócio, que depende do contêiner. E não é só o café. Essas cargas vão sofrer esse engargalamento, não só dentro do terminal”.
Ele lembrou que os navios precisam de berço liberado para operar, mas também enfrentam desafios externos.
“O clima não só atinge a lavoura, mas atrasa a navegação. E para uma operação que teoricamente deveria ser sincronizada, dessincronizando, perde a janela. Quando você chega no porto, tem um navio operando no seu lugar. Você omite aquele porto e já sabe o problema: a carga vai ficar para o próximo serviço”.
Tércio destacou que esse descompasso gera prejuízos em cadeia.
“Os cumprimentos de contratos, a entrega de mercadoria, o fluxo de pagamento para quem está no campo… esse descasamento entre a entrega do produto no consumidor final é consequência dessa logística bagunçada”.
Falta de infraestrutura nos próximos anos
Ainda conforme Eduardo Heron, apesar de anúncios recentes de investimentos públicos, o setor deverá conviver com a ausência de infraestrutura adequada nos próximos anos. Para ele, é essencial evidenciar cada vez mais a atual a situação.
“O Cecafé vem fazendo exatamente esse trabalho, de mostrar que nós já estamos colapsados. Nós precisamos de outras alternativas, de apoio público, de promover o diálogo com o comércio exterior”.
De acordo com Heron, a situação atual prejudica as empresas exportadoras, compromete a competitividade e deixa de gerar renda ao produtor.
Para Tércio, é preciso buscar soluções alternativas enquanto a estrutura ideal não é entregue.
“Toda carga tem a melhor logística. Hoje, essa melhor logística está comprometida. Então, buscar a segunda e terceira opção em grupo, até para justificar um desvio de rota de um navio no terminal […] seria uma solução temporária”.
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