Marcha reúne seringueiros, ribeirinhos e quebradeiras de coco em defesa de territórios e da vida na Amazônia
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

As chamas das porongas brilharam pelas ruas de Belém. Centenas de extrativistas marcharam nesta quinta (13) com um grito que ecoa há décadas: “a morte da floresta é o fim da nossa vida”. Vieram de diferentes biomas. Amazônia, Cerrado, Pantanal. Todos com o mesmo propósito;  exigir que seus territórios entrem de vez nas metas climáticas do Brasil.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

O ato, batizado de Porongaço dos Povos da Floresta, reuniu seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, pescadores artesanais e quebradeiras de coco. Juntos, transformaram a tarde quente da capital paraense em um cortejo de resistência. As lamparinas acesas na cabeça, as mesmas usadas nas trilhas da selva, viraram símbolo de uma luta antiga — iniciada nos anos 1970, no Acre, com Chico Mendes.

“Se a floresta não está bem, a gente também não está”, disse Letícia Moraes, vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS). Nascida na Ilha do Marajó, ela vive de atividades agroflorestais em um projeto de assentamento agroextrativista, o PAE.

Segundo o CNS, as reservas extrativistas e assentamentos agroflorestais preservam mais de 42 milhões de hectares, cerca de 5% do território nacional. São áreas que evitam o desmatamento e armazenam 25,5 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente. Isso representa onze anos das emissões totais do país.

COP30

Durante a COP30, que nesta edição acontece em Belém, o movimento tenta garantir que esses serviços ecossistêmicos entrem nas metas oficiais. Joaquim Belo, líder do CNS e enviado especial do grupo, resume o sentimento: “nós somos solução. Cuidamos da floresta e, com isso, ajudamos o clima a respirar”.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

A marcha saiu da Praça Eneida de Moraes e terminou na Aldeia Cabana, no bairro Pedreira. No fim do percurso, representantes entregaram um documento à ministra Marina Silva. O texto pede que as reservas sejam reconhecidas formalmente nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e nos tratados internacionais.

“Queremos prioridade nas políticas de adaptação e mitigação, com investimentos reais”, afirma o documento. O pedido inclui apoio à gestão comunitária, fortalecimento da vigilância e incentivos a práticas sustentáveis.

Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Marina ouviu. E respondeu com memória. Lembrou do Acre, de Chico Mendes, dos anos de borracha e resistência. “Vocês têm um modo de vida que protege a floresta e resolve o problema climático”, disse. Para ela, a “tecnologia” desses povos é o próprio jeito de viver, o que mantém a floresta viva, o carbono preso e a cultura pulsando.

Belém amanheceu temática da COP, mas anoiteceu iluminada pelas porongas. Um lembrete silencioso: quem protege a floresta quer mais que discurso. Quer ser parte da solução global.

Com informações da Agência Brasil