Resumo da notícia
- O 6º Encontro Nacional das Mulheres Cooperativistas reuniu participantes de 25 estados e países da América do Sul para fortalecer a presença feminina no cooperativismo agrícola brasileiro.
- O evento destacou a importância da igualdade de gênero no agro, ressaltando que as mulheres enfrentam dificuldades para acessar crédito, apesar de maior responsabilidade financeira.
- Painéis abordaram liderança feminina, inovação e sustentabilidade, mostrando como ferramentas digitais ampliam o papel das mulheres nas cadeias produtivas do campo.
O 6º Encontro Nacional das Mulheres Cooperativistas (Enmcoop) começou na manhã desta segunda-feira, 2 de dezembro, no White Pavilion, em Itupeva (SP), reunindo mulheres de 25 estados brasileiros e participantes de países da América do Sul. Considerado um dos principais eventos voltados ao fortalecimento da presença feminina no cooperativismo agrícola brasileiro, o encontro abriu sua programação com o auditório, mais de 520 lugares, completamente tomado. A cerimônia inicial foi conduzida por Tirso Meirelles, presidente da Faesp e do Senar-SP, seguida da saudação de Marco Vinholi, diretor técnico do Sebrae-SP, que destacou a importância do evento para a formação e integração de lideranças rurais.
Em seu discurso, Marco Vinholi destacou o avanço da participação feminina no setor, ressaltou a relevância econômica do campo. “A agricultura brasileira é responsável por quase 30% do PIB nacional, mas é fundamental que a gente persiga essa igualdade de gênero.”
Segundo Vinholi, dois eixos são determinantes nesse processo: integração cooperativista e empreendedorismo. “O cooperativismo precisa ser integrado e distributivo. E o empreendedorismo é o irmão do cooperativismo. Várias iniciativas têm sido feitas nesse sentido: apoiar a agricultura, o cooperativismo de crédito e o empreendedorismo.”
“Em São Paulo, fizemos uma parceria com a Faesp e estamos fomentando o protagonismo feminino no campo. Identificamos que, na área de crédito, as mulheres têm mais dificuldade para conseguir financiamento do que os homens, o que é um absurdo, porque os índices de uso responsável e de adimplência são maiores entre as mulheres. Mesmo assim, essa dificuldade persiste dentro da nossa sociedade e do sistema financeiro brasileiro.”

“Estamos lançando uma iniciativa para apoiar as mulheres a conseguirem crédito, levando aos parceiros do sistema financeiro a mensagem de que isso precisa mudar, que isso precisa melhorar, e rápido, no nosso país.”
Economia, liderança e inovação abriram o primeiro dia
A programação teve início com a palestra “Liderança da mulher no agro: oportunidades e desafios no cenário atual”, apresentada por Juliana Farah, Presidente da Comissão Semeadoras do Agro da Faesp e do Sindicato Rural de Mineiros do Tietê, produtora rural, empresária e membro do Conselho Superior Feminino da Fiesp, da Comissão de Mulheres Empreendedoras do Sebrae-SP e da Comissão Nacional das Mulheres do Agro da CNA.
Logo depois, o painel Liderança feminina: sustentabilidade, inovação e o papel das mulheres nas transformações tecnológicas no campo” reuniu Dulce Ciochetta, Paula Curiacos e Teresa Vendramini.

O painel reforçou como a adoção de ferramentas digitais e práticas sustentáveis tem ampliado o espaço das mulheres nas cadeias produtivas.
Daniella Marques, chairwoman da Legend, com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Após, foi a vez de por Simone Silotti, embaixadora Comlink, com “Em Breve”.
Durante a tarde, foi realizado o Talk – “Do prato ao pasto” , com Helô Palácio, assadora, especialista em fogo de chão, empresária e produtora rural;o painel – A força das mulheres: conectando realidades e potencializando resultados, com Fabiana Venzon (produtora rural e conselheira de administração da Cooperativa Cotrijal), Jussara Liebel (integrante da Comissão de Mulheres da Cooperativa Castrolanda), Leandra Miglioranza (coordenadora do Comitê de Mulheres do Sistema OCB – Elas pelo Coop) e
Sônia Bonato (agropecuarista, embaixadora do agro, conselheira Embrapa Territorial – mediadora)
Leandra falou sobre o sentimento em participar do encontro:
É muito gratificante poder levar o nome do Comitê Nacional Elas pelo Coop e dialogar com representantes de tantos estados, diante de tantas mulheres presentes e engajadas no evento. Há inúmeras líderes envolvidas, e isso reforça nosso papel de inspiração para quem atua na gestão de suas cooperativas e na condução de suas propriedades.
A nossa fala funciona como um estímulo para fortalecer essas mulheres, para que tomem posse de seus espaços e reconheçam a capacidade que têm de exercer, com autonomia, o que realizam no dia a dia.
Outro aspecto essencial é o engajamento e o avanço de tantas mulheres no agronegócio brasileiro. O Enmcoop proporciona um momento valioso, marcado por aprendizado, trocas e compartilhamento de experiências que, certamente, gerarão frutos para todas as participantes”.
Suleima Cury, médica, mãe e avó de sete netos levou ao público o tema: Saúde emocional para cuidar dos outros. Para fechar o primeiro dia, a palestra “Posicionamento: Método Próspera”, apresentada por Luciana Martins, CEO do Grupo Conecta, tratou do equilíbrio entre propósito, profissionalização e autoconhecimento como eixos para fortalecer a atuação feminina no campo.
Produtoras celebram intercâmbio de experiências
Uma das participantes do encontro é Bruna Borriero, integrante da Cooperativa Agrícola Nossa Senhora das Vitórias, de Jundiaí (SP).
“O cooperativismo ele une as pessoas. Aqui a gente pode compartilhar nossos valores e desafios. Quando estamos em uma cooperativa, a gente constrói e cresce junto”, afirmou.

Para ela, a participação feminina nas cooperativas vive um momento de transformação.
“Nesse encontro a gente percebe que o papel da mulher cooperativista tem se destacado cada vez mais. A gente lidera, empreende, está sempre inovando nos negócios”, disse.
Bruna avalia que o pertencimento ao cooperativismo estimula novas decisões e amplia horizontes. “O fato de ser mulher e estar em uma cooperativa hoje faz a gente ter coragem pra atingir novas oportunidades”, afirmou.
Ela também relaciona a vivência atual ao futuro das propriedades familiares e das cooperativas.
“O mais importante de estar em uma cooperativa e viver momentos como este é acreditar no futuro. Acreditar que ele vai ser cada vez melhor, que as próximas gerações terão mais oportunidades, e que a gente vai ver a sucessão familiar acontecendo na agricultura, dentro das cooperativas e isso vai garantir continuidade, crescimento e renovação. Então é muito gratificante.”
Em entrevista ao Portal Agro em Campo, Luciana Martins, CEO do Grupo Conecta, responsável pela realização do evento, detalha os pilares que estruturam o Enmcoop 2025, fala sobre o papel das mulheres no agro e destaca a força do cooperativismo como motor de desenvolvimento.

Qual é a base conceitual do Enmcoop 2025?
Este evento foi construído sobre três pilares. O primeiro é gestão, trazer para essas mulheres a capacidade de gestão financeira, de governança, de sucessão. Queremos que elas possam rentabilizar, prosperar, verticalizar dentro da própria fazenda e monetizar mais por hectare.
O segundo é o autoconhecimento. A ideia é abrir oportunidades para que cada mulher enxergue o quanto é capaz quando acredita em si, fortalecendo competências pessoais e profissionais.
E o terceiro é saúde mental e espiritualidade. Produtoras lidam com dificuldades todos os dias: turbulências, variações climáticas, intempéries. Queremos que encontrem força e equilíbrio emocional para atravessar tudo isso de forma mais tranquila.
Quem são as mulheres que participam desta edição?
São mais de 25 estados representados. Vieram produtoras do Pará, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul — do Oiapoque ao Chuí, literalmente. Recebemos também mulheres da Amazônia, do Paraguai, da Argentina, da Bolívia e do Chile. É um encontro realmente plural.
O que a mulher agrega ao agronegócio?
Eu sempre digo que a força está na união: o espírito empreendedor do homem e o equilíbrio da mulher. Ela traz gestão financeira, controle de custos, cuidado com as pessoas, organização e isso faz diferença dentro das fazendas.
As mulheres sempre estiveram no campo, mas agora elas entenderam que o lugar delas também é ali liderando, gerindo, plantando. Estão fazendo uma grande transformação.
O Brasil tem a chance de se tornar um dos principais provedores de alimentos do mundo, e as mulheres vão ser parte essencial desse movimento, entregando mais valor por hectare e mais produtividade. Da mesma forma que cuidam da gestação, elas cuidam da semente que lançam ao solo.
Como você enxerga o papel do cooperativismo nesse processo?
Meu primeiro trabalho, aos 19 anos, foi em uma cooperativa. O que aprendi é simples: onde há cooperativismo, há desenvolvimento. Uma cooperativa é, muitas vezes, o supermercado da região, o posto de combustível, a instituição financeira, o maior empregador.
Onde existe cooperativismo, existe sustentabilidade, geração de renda, geração de emprego, aumento de IDH.
Eu vejo no cooperativismo um grande caminho para o futuro do agro, especialmente para as mulheres.

Cooperativismo e diversidade produtiva ampliam conexões
O encontro conta com a participação de lideranças femininas de todas as regiões do País, chamadas de “comandantes do Enmcoop”, que representam diferentes modelos produtivos — grãos, pecuária, flores, café, erva-mate, tabaco e agricultura regenerativa.
A diversidade reforça o papel do cooperativismo como ponto de apoio para inovação e geração de renda no interior brasileiro. Além de uma ampla rede de cooperativas do país que reforça a capilaridade do sistema e a força do cooperativismo feminino no agro.
A presença conjunta dessas organizações evidencia a representatividade do setor, a diversidade produtiva e o alcance nacional do Enmcoop, consolidando o encontro como ponto de convergência para lideranças femininas do cooperativismo brasileiro.
Com realização do Grupo Conecta e parcerias da Faesp e do Sistema OCB, o evento segue nesta terça-feira, 3 com programação técnica, oficinas simultâneas, encontros de negócios e palestras sobre reforma tributária, gestão financeira, comportamento feminino e sucessão familiar.