No mês de maio, comemora-se o Dia Mundial da Abelha e o Dia Internacional da Biodiversidade, respectivamente. Ambas as datas foram estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e alertam para a necessidade de preservação dos diversos ecossistemas ao redor do globo. No Brasil, as usinas de cana-de-açúcar mantêm projetos específicos voltados para a proteção desses insetos, de forma a garantir a convivência de apiários e meliponários com a produção agrícola. As abelhas são responsáveis pela polinização de mais de 90% das plantas nativas e 75% das lavouras, garantindo a conservação da biodiversidade e a segurança alimentar.
Renata Camargo, gerente de Sustentabilidade da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), explica que os projetos desenvolvidos pelas usinas não só atendem às exigências da legislação vigente, com adoção de técnicas de manejo adequadas, como vão além dessas obrigações.”Os projetos incluem ações em diferentes frentes de atuação, desde medidas de segurança na aplicação aérea de defensivos agrícolas, até o cadastramento e monitoramento dos apiários e meliponários. Com uso de tecnologia, novos recursos de comunicação e ações de responsabilidade socioambiental, as usinas estão promovendo a coexistência harmoniosa e a preservação das abelhas”, pontua Renata.
Protocolo Agroambiental Etanol Mais Verde
Nos últimos anos, a UNICA desenvolveu ações junto às usinas associadas para incentivar a boa convivência não só com apicultores e meliponicultores, mas com produtores de alimentos orgânicos e de outras culturas no entorno das usinas. A instituição também participou diretamente da construção do regulamento das Diretivas Técnicas do Protocolo Agroambiental Etanol Mais Verde, elaborado em 2017, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.”O documento estabeleceu uma série de diretivas voltadas à garantia da sustentabilidade na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, incluindo eliminação da queima como método agrícola pré-colheita e boas práticas no uso de agrotóxicos nas áreas de canaviais do estado. As usinas se adaptaram rapidamente às exigências deste protocolo e ainda foram além. Até hoje estamos colhendo os frutos. Há projetos muito importantes sendo desenvolvidos e aprimorados, que são cases de sustentabilidade, preservação da biodiversidade e convivência pacífica entre usinas e pequenos produtores do mel e derivados”, destaca a gerente de Sustentabilidade da UNICA.
Mapeamento via satélite e GPS
A COFCO International, empresa de agronegócio, lançou o Projeto Polinizar para conciliar a produção de cana-de-açúcar com a preservação das abelhas. O projeto utiliza tecnologia de ponta para identificar e georreferenciar apiários próximos aos canaviais, garantindo a proteção das colmeias durante a aplicação de defensivos agrícolas.
O Projeto Polinizar realiza um mapeamento via satélite dos apiários que fazem divisa com as lavouras de cana da COFCO International. Os dados coletados são transmitidos ao GPS das aeronaves responsáveis pela pulverização, que contam com uma bomba de alta precisão equipada com um sistema de travamento automático ao identificar a aproximação das colmeias. Dessa forma, não há aplicação de inseticidas em áreas classificadas como de “restrição”.
O projeto está dividido em quatro frentes principais: identificação de apicultores para o georreferenciamento dos apiários; capacitação de apicultores; mapeamento das colmeias para manejo das lavouras e apiários; e treinamentos para empresas de aviação agrícola sobre protocolos de segurança, aplicabilidade de defensivos e desenvolvimento de novas tecnologias.
Desde a implementação do projeto, não houve mais registros de mortandade de abelhas relacionadas às aplicações da COFCO International nas regiões próximas às suas usinas de açúcar e etanol, localizadas no noroeste do estado de São Paulo. O projeto ganhou reconhecimento internacional e foi apresentado como case da UNICA na 14ª Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica (COP-14), promovida pela ONU, no Egito, em 2018.
Meio Bilhão de Abelhas Salvas
A São Martinho, uma das maiores empresas do setor sucroenergético do país, estima que seu Projeto Abelhas tenha garantido a proteção de aproximadamente meio bilhão de abelhas desde 2019. A iniciativa, desenvolvida em conjunto com apicultores locais, monitora as áreas vizinhas às lavouras de cana-de-açúcar nas quatro unidades da companhia.”O Projeto Abelhas é uma ação contínua para a preservação de polinizadores no entorno das nossas unidades”, explica André Tebaldi, Assessor de Meio Ambiente da São Martinho.
“O total controle e manejo das aplicações, associados à comunicação constante com os apicultores, foram fundamentais para garantir a efetividade do projeto.”
A chave para o sucesso do projeto foi o investimento em novas tecnologias de comunicação. A companhia identificou os apicultores das áreas vizinhas e realizou um trabalho para auxiliar na melhor distribuição espacial dos apiários, usando georreferenciamento. Além disso, a usina utiliza um aplicativo para emitir alertas sobre as pulverizações, informando os apicultores com pelo menos 48 horas de antecedência. Desde 2019, a intensificação da gestão e comunicação junto aos apicultores conferiu uma melhora significativa nos indicadores, não sendo identificada qualquer tipo de mortandade de abelhas desde então”, destaca Tebaldi.
Benefícios Socioambientais
O Projeto Abelhas traz benefícios não apenas para a preservação das abelhas, mas também para a comunidade local. A São Martinho também desenvolve o Programa Ciclo do Mel, em parceria com a Associação de Apicultores de Botucatu, que fortalece a atividade econômica dos apicultores e beneficia crianças e jovens atendidos por um projeto social.”Como a espécie é muito sensível, a convivência saudável demonstra que a aplicação de defensivos agrícolas é realizada dentro da legislação, garantindo a proteção das abelhas e, consequentemente, que os níveis de polinização sejam suficientes para a permanência da biodiversidade do ecossistema”, explica Moacir Fernandes Filho, diretor da São Manoel. Além disso, o programa incentiva a apicultura regional, oferecendo apoio jurídico e acesso a crédito. Em contrapartida, a Associação de Apicultores doa anualmente o valor correspondente a 1kg de mel por colmeia instalada para uma instituição social que atende crianças e adolescentes em vulnerabilidade.