Um estudo recente realizado no Centro Experimental Central do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), trouxe novas evidências sobre os efeitos do biochar (biocarvão) de eucalipto na qualidade de solos argilosos em ambientes tropicais. A pesquisa, conduzida em parceria com a Embrapa Meio Ambiente e a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, teve duração de 28 meses e focou na eficácia do biocarvão em solos altamente intemperizados, que apresentam significativa presença de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio.
Isabella Lucon, professora da Faculdade de Agronegócios de Holambra (Faagroh), explica que o solo utilizado no estudo, típico de regiões tropicais, é naturalmente desafiador para a agricultura devido à sua baixa fertilidade e alta acidez. “No entanto, a aplicação de biochar se mostrou promissora na melhoria de propriedades físicas e químicas do solo”, observa.
O biocarvão, produzido a partir de resíduos de eucalipto por meio de pirólise, foi incorporado ao solo e seus efeitos foram monitorados durante dois ciclos de cultivo de milho, nas safras de 2016/2017 e 2017/2018.
Resultados do estudo
Ruan Carnier, bolsista na Embrapa Meio Ambiente, destaca que os resultados indicaram melhorias significativas na fertilidade do solo. “A aplicação do biochar aumentou a disponibilidade de nutrientes essenciais, como fósforo, cálcio e potássio, na camada de solo de 5 cm a 10 cm de profundidade. Esses elementos são fundamentais para o crescimento saudável das plantas, e seu aumento pode contribuir para aumentar a produtividade agrícola em solos previamente deficientes”, afirma Carnier.
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Cristiano Andrade, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, complementa que, além das melhorias químicas, o biochar também influenciou positivamente as propriedades físicas do solo. A densidade aparente, que indica a compactação do solo, diminuiu, enquanto a porosidade total aumentou. “Essas mudanças são benéficas para a estrutura do solo, facilitando a penetração das raízes e a movimentação de água e ar, que são essenciais para a saúde das plantas”, enfatiza Andrade.
Retenção de água e desafios
Outro aspecto positivo observado foi o aumento da capacidade do solo em reter água. Para cada tonelada de biochar aplicada, houve um incremento de 500 litros de água disponível por hectare. Essa retenção hídrica pode ser crucial em períodos de estiagem, especialmente para culturas com menor demanda hídrica, como algumas culturas de inverno.
Entretanto, o estudo também revelou limitações importantes na aplicação do biochar em solos argilosos de regiões tropicais. Embora tenha havido melhorias na porosidade e na retenção de água, a resistência do solo à penetração, que indica a facilidade com que as raízes podem crescer, não foi significativamente afetada. Além disso, os pesquisadores apontam para a questão do custo-benefício. Já que doses maiores de biochar podem ser necessárias para efeitos mais expressivos, elevando os custos. O estudo não detectou mudanças significativas nos níveis de micronutrientes ou no carbono orgânico do solo, o que poderia limitar os benefícios a longo prazo.
Implicações e futuras pesquisas
Este estudo destaca a importância de considerar as características específicas do solo e do ambiente ao avaliar a eficácia do biocarvão. Em regiões tropicais com solos argilosos, o uso de biochar pode trazer benefícios, mas esses são mais discretos em comparação a outros tipos de solo. Portanto, antes de recomendar sua aplicação em larga escala, é crucial realizar análises econômicas e experimentos de longo prazo que levem em conta as particularidades de cada região.
Os pesquisadores enfatizam que, apesar das limitações, o biochar continua sendo uma ferramenta promissora para a melhoria do solo. Especialmente em áreas onde a sustentabilidade agrícola é uma preocupação. Eles apontam para a necessidade de mais pesquisas em campo para entender melhor as interações do produto com diferentes tipos de solo e condições climáticas. As futuras pesquisas deverão se concentrar em otimizar as doses e métodos de aplicação para maximizar os benefícios. Isso enquanto se avaliam os custos e a viabilidade econômica para os agricultores.