Um laboratório da Embrapa na Bahia acaba de ser reconhecido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) como apto a emitir laudos para verrugose dos citros. A doença fúngica, que afeta o limão tahiti, é uma barreira fitossanitária para exportações à União Europeia (UE). O Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Mandioca e Fruticultura, localizado em Cruz das Almas (BA), ajuda os produtores a superar essa barreira, mesmo que a Bahia não registre casos da doença.
Desde abril, o laboratório analisou cerca de 200 amostras de produtores da Bahia, Sergipe e Minas Gerais. O processo de emissão dos laudos varia de um a dez dias, dependendo da demanda e dos sintomas encontrados nos frutos. Com isso, a Bahia, que é o quarto maior estado produtor de limão no Brasil, exportou frutos que somaram US$ 34 milhões em 2023.
A verrugose, causada pelo fungo Elsinoë, afeta folhas, frutos e brotações em áreas produtoras de citros ao redor do mundo. A doença tem grande impacto econômico, pois as lesões na casca dos frutos comprometem a comercialização, especialmente para exportação. O pesquisador Francisco Laranjeira, chefe da Embrapa Mandioca e Fruticultura, explica que a verrugose é muitas vezes confundida com o cancro cítrico, outra doença grave. No entanto, ele ressalta que, embora a verrugose passe esporos, ela só infecta tecidos imaturos, diferentemente do cancro, que pode se espalhar facilmente.
Monitoramento intensificado
O Brasil gerou US$ 139,3 milhões com a exportação de lima ácida em 2023, de acordo com o Observatório da Agricultura Brasileira. O país enfrenta desafios para manter essas exportações devido à vigilância rigorosa da UE sobre pragas quarentenárias como a verrugose, por exemplo. O auditor fiscal agropecuário Caio César Simão, do Mapa, revela que a UE tem interceptado cargas brasileiras desde 2021, exigindo um monitoramento mais rígido dos campos produtores.
Entre janeiro e maio deste ano, 60 contêineres de limão tahiti foram devolvidos pela alfândega europeia, o que prejudica o mercado brasileiro. Simão alerta que a situação é preocupante, já que outros países, como Argentina e África do Sul, já enfrentaram problemas similares com suas exportações de cítricos.
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Medidas de fiscalização e controle
Na Bahia, a Agência Estadual de Defesa Agropecuária (Adab) mantém uma vigilância constante contra pragas como o cancro cítrico e a verrugose. Desde 2005, uma portaria estadual estabelece normas rigorosas para a produção e comercialização de mudas e frutos cítricos. Como resultado, a Bahia é considerada área livre de cancro cítrico, o que garante uma vantagem competitiva em relação a outros estados.
Suely Xavier de Brito Silva, coordenadora do Projeto Fitossanitário de Citros da Adab, ressalta que a portaria impede a entrada de frutos contaminados, protegendo o estado. Ela também menciona que, embora a verrugose não cause danos econômicos significativos, as análises realizadas pelo laboratório da Embrapa são essenciais para manter a conformidade com as exigências da UE.
Análises e tecnologias
A Embrapa realiza análises que envolvem a coleta de amostras de frutos. Depois, os técnicos examinam o material para detectar sinais de verrugose. Os pesquisadores confirmam os sintomas por meio de microscopia, se encontrados. E por fim, o laudo emitido é válido por 30 dias e é necessário para a certificação de exportação.
Gabriel Pedreira da Paixão, engenheiro-agrônomo e consultor em citros, destaca que a proximidade do laboratório da Embrapa reduziu custos e facilitou o atendimento às exigências do Mapa. Além disso, ele observa que o custo do procedimento é cerca de quatro vezes menor do que em outros laboratórios, devido ao método mais eficiente utilizado pela Embrapa.
Francisco Laranjeira enfatiza a importância de práticas preventivas, como pulverização adequada e monitoramento dos campos, para evitar a contaminação por verrugose. Ele também menciona que a Embrapa está comprometida em fornecer suporte técnico aos produtores para melhorar o manejo da doença no campo e nos testes laboratoriais.
Impacto da verrugose
A verrugose ataca principalmente limas ácidas e laranjas durante os três primeiros meses de vida dos frutos. As lesões causadas pelo fungo depreciam o valor comercial dos frutos, além de criar condições favoráveis para outras pragas, como o ácaro-da-leprose. Portanto, o controle da verrugose deve ser iniciado preventivamente, já que os frutos são suscetíveis até 12 semanas após a floração.
O laboratório da Embrapa na Bahia desempenha um papel crucial na manutenção das exportações brasileiras de limão tahiti para a União Europeia. Ou seja, com essas medidas ajuda a superar as barreiras fitossanitárias e garantindo a conformidade dos envios.