Uma ação conjunta entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Ministério Público Estadual (MP/RS) resultou na apreensão de toneladas de produtos e na descoberta da fórmula utilizada para a fraude. Foi a 13ª fase da Operação Leite Compen$ado, uma ação coordenada para combater fraudes na indústria de laticínios. A operação resultou na prisão de Sérgio Alberto Seewald, químico conhecido como “Alquimista”, que é acusado de adulterar leite e outros produtos lácteos, colocando em risco a saúde dos consumidores.
A operação foi desencadeada após uma denúncia formal recebida pelo MP/RS, que indicava práticas irregulares na produção de leite UHT e composto lácteo. A empresa Dielat, envolvida nas investigações, é suspeita de participar do esquema que manipulava a composição do leite, utilizando substâncias químicas para aumentar o volume e melhorar a aparência do produto.
A empresa investigada mantinha registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF) e, nos últimos dois anos, enfrentou várias ações fiscais, incluindo cinco interdições e seis autuações por fraudes.
Durante a operação, as autoridades realizaram buscas em diversas instalações da Dielat e apreenderam documentos e equipamentos que comprovam a adulteração dos produtos. O “Alquimista”, que trabalhava como consultor para a empresa, foi detido por sua suposta participação ativa no esquema.
Márcio Todero, coordenador regional do 10º Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIPOA), destacou que a fiscalização foi produtiva. “Identificamos indícios do uso de soda cáustica, um elemento impróprio para consumo humano que pode mascarar o pH do produto em análises”, afirmou Todero. Ele acrescentou que a operação resultou na suspensão cautelar das atividades da empresa e na emissão de um auto de infração devido ao risco à saúde pública.
Soda cáustica e água oxigenada no leite
Segundo as autoridades, os produtos adulterados incluíam leite UHT, leite em pó e compostos lácteos, manipulados com substâncias como soda cáustica e água oxigenada.
Sérgio já havia sido absolvido de um processo similar. Em 2014, investigadores apuraram práticas semelhantes em outras empresas de laticínios localizadas em Imigrantes, no Vale do Taquari.
Por conta do processo, o Ministério Público determinou que ele fosse proibido de trabalhar no setor e utilizasse uma tornozeleira eletrônica.
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Além de Sérgio Seewald, a operação resultou na prisão de outras quatro pessoas: Antonio Ricardo Colombo Sader, sócio-proprietário da empresa Dielat; Tales Bardo Laurindo, diretor; Gustavo Lauck, supervisor; e uma mulher sem nome divulgado.
As investigações apontam que os produtos adulterados eram vendidos em grande escala, o que gerou lucros significativos para os envolvidos. As autoridades enfatizaram a importância da operação para garantir a segurança alimentar e proteger os direitos dos consumidores.
“Estamos comprometidos em erradicar práticas fraudulentas que comprometem a qualidade dos alimentos e a saúde da população”, afirmou um representante da polícia durante uma coletiva de imprensa.
A Operação Leite Compen$ado é um desdobramento das ações contínuas das autoridades para combater fraudes no setor alimentício e reforçar a confiança dos consumidores na indústria de laticínios. Portanto, as investigações continuam, e as autoridades podem realizar novas ações nos próximos dias para desmantelar completamente o esquema criminoso.
A operação começou em 2013, e em suas 12 fases anteriores já desarticulou quadrilhas e grupos criminosos em varias cidades do Rio Grande do Sul, fechando empresas e prendendo pessoas que fraudam os produtos alimentícios, colocando a população em perigo.
Conheça as fases da ação contra fraudes na indústria láctea
A Operação Leite Compen$ado, que visa combater fraudes na indústria de laticínios, foi deflagrada em várias fases desde 2013. Abaixo, estão os principais eventos que marcaram cada etapa da operação:
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1ª Fase – Maio de 2013
A primeira fase resultou em oito prisões de suspeitos ligados a transportadoras de leite. As investigações envolveram cinco empresas de transporte e postos de resfriamento em Ibirubá, Horizontina, Selbach, Tapera e Guaporé, onde uma indústria foi interditada. Os atravessadores adicionavam ureia ao leite para mascarar a adição de água de poço. Amostras coletadas em supermercados de Porto Alegre revelaram fraudes em 14 lotes de leite UHT.
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2ª Fase – Maio de 2013
Cinco agentes cumpriram mandados de prisão preventiva em Rondinha, Boa Vista do Buricá e Horizontina. A polícia prendeu um vereador e empresário do setor de transporte de leite e encontrou uma fórmula para adulteração do leite na casa de um dos suspeitos.
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3ª Fase – Novembro de 2013
Um transportador foi preso e a presença de água oxigenada no leite foi detectada pela primeira vez. A operação cumpriu cinco mandados de busca e apreensão em Três de Maio e Nova Candelária, focando em uma família envolvida na adulteração.
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4ª Fase – Março de 2014
Após seis condenações, mais uma fase foi deflagrada com prisões em oito cidades gaúchas. Um empresário foi detido em Condor com mais de meia tonelada de soda cáustica. Parte do leite adulterado foi entregue a uma empresa laticinista que o vendeu no mercado.
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5ª Fase – Maio de 2014
Três agentes cumpriram mandados de prisão em dez cidades do Vale do Taquari e Vale do Sinos. O “alquimista”, alvo da 13ª fase da operação, foi preso pela primeira vez, juntamente com os proprietários de duas indústrias que ordenaram a adição de substâncias nocivas ao leite.
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6ª Fase – Junho de 2014
A operação se expandiu para o Paraná, resultando na prisão de quatro pessoas e cumprimento de 16 mandados judiciais nas cidades paranaenses e gaúchas.
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7ª Fase – Dezembro de 2014
Um posto de resfriamento foi interditado em Jacutinga por adicionar sal ao leite adulterado com água. A operação resultou em 17 prisões e apreensões em seis municípios do Norte.
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8ª Fase – Maio de 2015
Oito prisões foram realizadas no Norte do Estado, onde produtos químicos foram apreendidos. Foi comprovada a tentativa de repassar leite com larvas e a mistura de leite “velho” com “novo”.
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9ª Fase – Setembro de 2015
O MPRS confirmou que leite azedo era vendido como saudável, resultando em quatro prisões e apreensões em Esmeralda e Água Santa.
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10ª Fase – Outubro de 2015
Donos de laticínios foram presos por adulteração durante uma operação simultânea à Operação Queijo Compensado 2, com mandados cumpridos em várias cidades.
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11ª Fase – Julho de 2016
Foi detectada a presença de coliformes fecais, água oxigenada e amido em amostras analisadas. A operação ocorreu junto com a Operação Queijo Compensado 4.
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12ª Fase – Março de 2017
Autoridades realizaram cinco prisões em três laticínios, enquanto áudios revelavam integrantes da cadeia leiteira debochando sobre o destino do leite adulterado.
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13ª Fase – Dezembro de 2024
A fase da operação Leite Compen$ado mais recente focou na empresa Dielat Laticínios, com mandados cumpridos contra três empresários no Rio Grande do Sul e um em São Paulo. Desde sua primeira fase em 2013 até agora, a operação já resultou em 275 denúncias e 82 prisões.
A Dielat, que fabrica marcas como Mega Lac, Mega Milk, Tentação e Cootall, manifestou surpresa com as acusações e anunciou a suspensão temporária de suas atividades enquanto as investigações prosseguem.E emitiu a nota abaixo.
Nota da Dielat:
“A DIELAT Indústria e Comércio de Laticínios Ltda., vem a público manifestar surpresa diante da divulgação de infundadas suspeitas sobre a regularidade de sua atuação industrial e dos produtos por ela comercializados. A DIELAT reafirma seus compromissos com o oferecimento de produtos com qualidade e inovação, com responsabilidade socioambiental, reconhecida nacionalmente por oferecer produtos de qualidade.
Em sua trajetória iniciada há mais de 8 anos, a empresa mantém permanente dedicação à ética, à moral, aos bons costumes, às leis, a todos os seus clientes e consumidores, traduzida no oferecimento de produtos livres de quaisquer dúvidas em relação à sua integridade. A empresa submete as suas instalações, insumos e produtos a constante e rigorosa fiscalização das autoridades sanitárias brasileiras e internacionais, já que exporta parte de sua produção para o exterior, e permanece à disposição de todos os órgãos públicos, de maneira ininterrupta, para demonstrar a excelência de seus produtos e o cuidado empregado na sua elaboração.
A todos os clientes, fornecedores, colaboradores e funcionários, a DIELAT manifesta tranquilidade frente aos questionamentos, com a certeza de que o esclarecimento da lisura de sua atuação será inevitavelmente obtido ao cabo de todas as apurações que se fizerem necessárias. Neste momento, os responsáveis pela empresa decidem interromper temporariamente as suas atividades, que serão imediatamente retomadas, com a mesma qualidade e compromisso, assim que superada a presente situação momentânea e finalizadas as necessárias investigações, com a certeza de que será finalmente demonstrada a absoluta regularidade de seus procedimentos e a excelência dos produtos disponibilizados ao mercado consumidor.”
Portanto, a Operação Leite Compensado continua sendo uma ação crucial para garantir a segurança alimentar e combater práticas fraudulentas no setor lácteo brasileiro.