Pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão desenvolveram, pela primeira vez, uma variedade de feijão editada geneticamente para reduzir fatores antinutricionais. Utilizando a técnica CRISPR, os cientistas desativaram dois genes responsáveis pela produção de rafinose e estaquiose, carboidratos que, embora presentes em alimentos nutritivos como o feijão, estão associados a desconfortos digestivos e flatulências.
A pesquisa, liderada pelos cientistas Rosana Vianello e Josias Correa, utiliza o conhecimento acumulado do genoma do feijão, sequenciado há quase uma década. A técnica CRISPR, que funciona como uma “tesoura molecular”, permitiu bloquear os genes que ativam a rota de produção desses compostos.
“A edição gênica representa uma revolução, especialmente para aprimorar a qualidade nutricional e tecnológica dos grãos, tornando as variedades mais atraentes para produtores e consumidores”, explica Vianello.
Impacto nos próximos anos
Atualmente, a pesquisa avança para estabilizar a nova característica em gerações futuras de plantas. As sementes editadas estão sendo cultivadas em ambientes controlados. Além disso, os cientistas esperam que, ao longo de cinco a oito anos, seja possível lançar uma variedade estável e comercialmente viável de feijão editado geneticamente.
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Esse avanço integra o projeto “Desenvolvimento e aplicação de novas soluções biotecnológicas no melhoramento genético do feijão-comum”, financiado pelo CNPq e coordenado por Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Por que editar o feijão?
Embora o feijão seja uma fonte rica em aminoácidos, fibras e minerais, a presença de fatores antinutricionais, como os carboidratos do grupo rafinose, limita sua digestibilidade. O corpo humano não produz enzimas para digerir essas moléculas, e sua fermentação por microrganismos intestinais gera gases como metano e dióxido de carbono.
Tradicionalmente, práticas como deixar o feijão de molho antes do cozimento ajudam a reduzir esses compostos. No entanto, a edição genética permite uma solução mais duradoura e eficiente, eliminando a necessidade de procedimentos adicionais no preparo.
Uma nova era da biotecnologia
A técnica CRISPR, desenvolvida pelas cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna — vencedoras do Nobel de Química de 2020 —, tem revolucionado a engenharia genética. Essa ferramenta possibilita cortes precisos no DNA, permitindo o controle da produção de moléculas específicas em plantas e outros organismos.
Além de criar alimentos mais nutritivos, a tecnologia CRISPR abre caminho para o desenvolvimento de variedades resistentes a pragas, tolerantes a condições climáticas adversas e até mais produtivas, contribuindo significativamente para a agricultura sustentável.
Feijão com menos , mais saúde
Se bem-sucedida, a nova variedade de feijão promete atender tanto às necessidades dos consumidores quanto às exigências do mercado. Reduzir os fatores antinutricionais sem comprometer o sabor ou a qualidade do grão coloca o Brasil na vanguarda das inovações agrícolas globais. Além disso, a iniciativa demonstra como avanços científicos podem melhorar diretamente a experiência e a saúde do consumidor final.