Um estudo realizado pela Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS), demonstrou o potencial do Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI) no monitoramento de sistemas agrícolas integrados, utilizando dados da constelação de satélites Sentinel-2.
A pesquisa analisou dois ciclos completos do sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP), que combina o cultivo de soja no verão e azevém no inverno, destacando a correlação entre o NDVI, a produtividade da soja e as condições climáticas.
O estudo utilizou 72 imagens livres de nuvens de um total de 288 passagens de satélites, com uma taxa de aproveitamento de 25%. As imagens foram obtidas da plataforma EarthExplorer, do Serviço Geológico dos EUA (USGS), e processadas automaticamente com Python e o software QGIS. A análise gerou mapas NDVI para cada passagem, que permitiram avaliar o vigor da vegetação e a variabilidade espacial das culturas.
NDVI e sua aplicação no monitoramento agrícola
De acordo com o pesquisador Marcos Neves, da Embrapa Meio Ambiente, o NDVI se mostrou uma ferramenta eficaz para acompanhar o desenvolvimento das culturas em diferentes condições climáticas. No primeiro ciclo de soja, marcado por baixa precipitação (160,1 mm nos 90 dias após a semeadura), o NDVI registrou descontinuidade no crescimento. Isso refletindo em uma produtividade de 1,04 t/ha em 2018. Já no segundo ciclo, com chuvas de 649 mm, o NDVI atingiu picos mais altos e constantes, resultando em uma produtividade de 2,81 t/ha em 2019.
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O monitoramento por satélites também revelou que o azevém apresentou desenvolvimento mais homogêneo, com picos de NDVI de 0,94 e 0,93 nos dois ciclos avaliados. Essa estabilidade foi atribuída à maior disponibilidade hídrica durante o período frio, favorecendo a cultura e reduzindo a variabilidade espacial.
Desafios e perspectivas para o monitoramento por satélite
Embora o Sentinel-2 ofereça alta resolução espacial (10 metros) e frequência de revisita de dois a três dias em latitudes médias, a presença frequente de nuvens ainda é um desafio. Segundo Neves, a alta frequência de revisita e a gratuidade dos dados do Sentinel-2 representam vantagens significativas para o uso do NDVI na agricultura de precisão.
“Apesar das limitações, o NDVI tem se mostrado uma ferramenta valiosa para estimar vigor e produtividade das culturas. Especialmente em sistemas integrados como a ILP”, afirma Alfredo Luiz, também pesquisador da Embrapa Meio Ambiente. O estudo ainda destacou a importância de maiores taxas de revisita para fornecer dados cruciais em momentos decisivos do manejo agrícola.
O futuro do NDVI na gestão agrícola
A pesquisa abre caminho para novas aplicações do NDVI, como a estimativa de biomassa em sistemas de integração lavoura-pecuária, ajudando a determinar a taxa de lotação ideal nas pastagens. Os pesquisadores planejam aprofundar os estudos, relacionando os mapas de produtividade com os índices NDVI em diferentes estágios fenológicos.
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A integração de tecnologias de sensoriamento remoto e o processamento eficiente de dados têm o potencial de revolucionar a gestão agrícola. Além disso, combinadas, essas ferramentas prometem avanços significativos na agricultura de precisão. Permitindo uma tomada de decisão mais estratégica e sustentável, alinhada às necessidades do agronegócio brasileiro.