O preço do cacau disparou cerca de 180% nos últimos dois anos, impactando os custos da indústria do chocolate. Portanto, o aumento afeta tanto os produtos da Páscoa quanto a produção permanente do setor. Em geral, a alta se intensificou no segundo semestre de 2023, após uma quebra de safra nos principais países produtores da África.
Seca e calor afetam a produção de cacau
A tendência é de instabilidade. A Costa do Marfim, maior produtor mundial, ainda sofre com os efeitos da seca e do calor extremo. “Esses fatores influenciam o desenvolvimento das plantas, a brotação e a formação dos frutos, reduzindo a oferta”, explica Letícia Barony, assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Em Gana, segundo maior produtor, há sinais de recuperação. O governo prevê uma colheita atrativa, o que pode reequilibrar a oferta global. No Brasil, a perspectiva é de aumento da safra, após anos de quedas sucessivas. O país ocupa a sexta posição no ranking mundial, com produção concentrada no Pará e na Bahia, que juntos somam 90% da colheita nacional.
Volatilidade
A volatilidade do mercado preocupa toda a cadeia produtiva, desde os produtores até as indústrias de processamento. “Há incerteza na oferta, na demanda e, principalmente, nos preços”, afirma Barony. A CNA espera crescimento da produção nos próximos anos, impulsionado por investimentos em novas regiões produtoras, como o Cerrado baiano, o norte de Minas e o interior de São Paulo.
Queda na produção de ovos de Páscoa
A alta do cacau também afeta a indústria do chocolate. Em geral, a produção de ovos de Páscoa deve cair 20% em relação a 2024, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). Ainda assim, o setor planeja contratar 9,6 mil trabalhadores temporários, um aumento de 26% sobre o ano passado. A expectativa é que 20% dessas vagas sejam efetivadas.
Nos supermercados, os preços dos ovos de chocolate subiram 14% e os das colombas, 5%, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Ao mesmo tempo, para driblar o impacto dos custos, as empresas apostam na diversificação do portfólio, com opções menores e mais acessíveis. Ou seja, como o chocolate não é um item essencial, seu consumo pode ser reduzido quando os preços sobem, forçando a indústria a limitar os reajustes.
Pequenos produtores se adaptam
A alta do cacau já reflete nos preços do atacado e do varejo. Em lojas populares, ovos de Páscoa custam mais de R$ 70. Pequenos produtores buscam fornecedores com melhores condições e ampliam a variedade de produtos para manter as vendas.
A chef Dayane Cristin, de Osasco (SP), investe em pesquisa de preços para otimizar os custos. Semanalmente, ela visita três grandes lojas para comparar valores de chocolate e insumos. Com barras de 2,5 kg, produz cerca de 1.250 trufas por semana, vendidas no transporte público. “O preço do chocolate sobe constantemente e alguns produtos estão em falta. Preciso comprar em grandes quantidades para conseguir descontos”, conta.
Mesmo com essa estratégia, ela teve que reajustar o preço das trufas de R$ 3 para R$ 4. Outros insumos, como leite condensado, creme de leite e frutas, também ficaram mais caros. A incerteza nos custos levou Dayane a segurar sua tabela de preços para a Páscoa, divulgada apenas nesta semana. “Minha meta é faturar entre R$ 15 mil e R$ 20 mil com ovos de colher”, diz a chef, que segue otimista com as vendas.
Tecnologia impulsiona a produção
O setor cacaueiro avança com o uso de tecnologias que aumentam a produtividade e a qualidade do produto. “Novas técnicas melhoram processos como quebra, fermentação e armazenagem, garantindo maior eficiência e valor de mercado”, explica Letícia Barony, da CNA.
Em geral essas inovações também ganham destaque na política externa. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) participou de uma missão na África, visitando Costa do Marfim, Gana e Nigéria. Durante a viagem, representantes do governo e do setor privado firmaram acordos de cooperação tecnológica para fortalecer a produção cacaueira.
Apesar de possuírem 60% das lavouras, os países africanos recebem apenas 6% da renda do setor. Portanto, para a Apex, a organização dos principais produtores pode aumentar os ganhos de quem está na base da cadeia produtiva.
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