Uma pesquisa internacional envolvendo cientistas de 17 países identificou que o fungo Colletotrichum graminicola, causador da antracnose do milho, tem origem provável na Mesoamérica e se espalhou globalmente com o auxílio da ação humana, principalmente por meio da troca de sementes contaminadas.
A análise genética de 212 isolados do fungo, coletados em cinco continentes, revelou a existência de três linhagens principais: norte-americana, brasileira e europeia. Segundo a pesquisadora Flávia Rogério, da Universidade de Salamanca (Espanha) e da Universidade da Flórida (EUA), a linhagem norte-americana é considerada a mais antiga e ancestral, tendo atuado como intermediária na dispersão do patógeno. Já a linhagem europeia se destacou como a mais virulenta, elevando o risco de novos surtos severos, especialmente em regiões de clima temperado.
O estudo também detectou migração genética entre a América do Sul e a Europa, com isolados argentinos agrupados à linhagem europeia. Esse fluxo pode estar relacionado ao uso de sementes contaminadas em viveiros de inverno para programas de melhoramento genético.
Diversidade genética amplia desafios para o controle
A pesquisa apontou que cerca de 80% dos isolados apresentam sinais de mistura genética, dificultando o desenvolvimento de cultivares resistentes à antracnose. O pesquisador Wagner Bettiol, da Embrapa Meio Ambiente (SP), reforça o papel decisivo da ação humana na disseminação do patógeno, especialmente pelo uso de sementes infectadas.

A mobilidade do fungo e sua alta taxa de recombinação genética contribuem para a diversidade e a capacidade de adaptação do patógeno. Ensaios laboratoriais mostraram variações significativas de virulência entre diferentes isolados, com destaque para os europeus, que podem causar perdas totais em condições severas. Na década de 1970, surtos nos Estados Unidos levaram à destruição completa de lavouras em algumas regiões.
Medidas de manejo e prevenção
Especialistas recomendam estratégias integradas de manejo para conter a antracnose do milho, incluindo:
- Uso de cultivares resistentes
- Rotação de culturas
- Adubação equilibrada
- Evitar plantios sucessivos
Essas práticas ajudam a reduzir o potencial de infecção e proteger a produtividade das lavouras.
Monitoramento genético e segurança alimentar
A identificação da linhagem ancestral do fungo pode ser decisiva para o desenvolvimento de estratégias de controle, já que essa população funciona como reservatório de genes ligados à resistência. O monitoramento genético constante e o uso de múltiplos genes de defesa são considerados essenciais para mitigar os impactos da antracnose e preservar a segurança alimentar global.
A antracnose do milho representa uma ameaça crescente à produtividade agrícola, exigindo ações coordenadas e permanentes para reduzir perdas econômicas e garantir a segurança alimentar mundial.
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