As barragens subterrâneas vêm revolucionando o Semiárido brasileiro, transformando áreas historicamente secas e improdutivas em solos aptos para a agricultura familiar. Essa tecnologia social, desenvolvida pela Embrapa Solos, gerou impactos econômicos significativos, proporcionando um acréscimo anual de mais de R$ 7.361,10 por hectare aos agricultores que adotaram a prática.
Além do benefício financeiro direto, a tecnologia também contribui para a recuperação ambiental e o fortalecimento da segurança hídrica na região, destacando-se como uma solução sustentável para a convivência com o clima árido.
Segundo um estudo realizado pela Embrapa entre 2006 e 2023, cada real investido em barragens subterrâneas retornou R$ 2,27 à sociedade. Agricultores que implementaram a tecnologia observaram um aumento médio de 375 kg na produção anual, resultando em uma renda excedente que ultrapassa os R$ 7 mil por hectare.
Esse crescimento econômico é impulsionado pela conversão de áreas antes improdutivas em solos agrícolas, permitindo a produção de alimentos para consumo próprio e comercialização. Atualmente, cerca de 3.050 barragens subterrâneas já foram instaladas em propriedades familiares no Semiárido nordestino, beneficiando diretamente pequenos agricultores.
Como funciona a barragem subterrânea
A barragem subterrânea utiliza lonas plásticas enterradas a profundidades de 3 a 5 metros, formando uma barreira que impede o escoamento da água da chuva. Isso mantém o solo úmido por até cinco meses após o período chuvoso, tornando-o apto para o cultivo de alimentos e forragem para animais.
Essa tecnologia permite o cultivo contínuo em áreas que antes permaneciam improdutivas durante boa parte do ano. Em algumas localidades, as barragens subterrâneas possibilitam produções durante todo o ano, inclusive em períodos de estiagem prolongada.
Entre os cultivos mais comuns estão milho, feijão, hortaliças e frutas, além de plantas forrageiras como palma e capim. Além disso, a tecnologia possibilita a criação de pequenos rebanhos de gado leiteiro, aves e porcos, que complementam a renda das famílias.
Estudo de viabilidade e retorno econômico
O estudo conduzido pela Embrapa avaliou a viabilidade econômica da tecnologia em dois cenários:
- Com subsídios: Agricultores que investiram cerca de R$ 20 mil, com apoio governamental ou de ONGs, recuperaram o valor investido em aproximadamente três anos.
- Sem subsídios: Aqueles que financiaram a construção de barragens subterrâneas de forma independente, com um custo médio de R$ 27 mil, tiveram o retorno do investimento em quatro anos.
Em ambos os casos, a Taxa Interna de Retorno (TIR) foi superior à inflação oficial do país, comprovando a atratividade econômica do projeto.
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Além do impacto econômico, as barragens subterrâneas promovem a recuperação ambiental de áreas degradadas. A retenção de água no solo reduz a erosão, evita a lixiviação de nutrientes e melhora a qualidade do solo, tornando-o mais produtivo.
A valorização dos terrenos onde as barragens são instaladas é outro benefício observado. As propriedades que utilizam a tecnologia social têm se tornado referência na produção sustentável e na resiliência ao clima árido.
Projeto GuardeÁgua: um novo passo para a sustentabilidade
Para ampliar o impacto das barragens subterrâneas, a Embrapa e parceiros lançaram o Projeto GuardeÁgua, uma iniciativa que busca desenvolver sistemas de manejo mais eficientes para a água, o solo e os cultivos. Com início em 2023 e previsão de conclusão em 2026, o projeto inclui a criação de uma plataforma digital para auxiliar agricultores na escolha de locais ideais para a instalação das barragens.
Segundo a pesquisadora Maria Sonia Lopes da Silva, líder do projeto, o objetivo é fortalecer a sustentabilidade dos agroecossistemas com barragens subterrâneas, reduzindo a dependência das famílias de políticas públicas compensatórias.
Nas áreas onde a tecnologia está em pleno funcionamento, os agricultores cultivam uma ampla variedade de produtos, como milho, feijão, mandioca, hortaliças e frutas tropicais. Além disso, a criação de gado leiteiro, aves e outros animais complementa a renda das famílias.
Em períodos de chuva, muitos agricultores conseguem excedentes para comercialização, como ovos, leite e até sementes crioulas. Alguns casos relatam rebanhos de até 30 cabeças de gado e criações de 50 aves, reforçando a importância da barragem para a segurança alimentar e econômica.
A importância das barragens subterrâneas no semiárido brasileiro
O Semiárido brasileiro, que abrange 38 municípios em Alagoas e outras áreas do Nordeste, enfrenta desafios como chuvas irregulares e alta evapotranspiração. Tecnologias sociais, como as barragens subterrâneas, têm se mostrado fundamentais para promover a inclusão produtiva e a autonomia das famílias agricultoras.
A cientista Maria Sonia destaca que, embora a tecnologia já esteja consolidada, sua eficiência depende de suporte técnico e do uso de práticas agrícolas adequadas. A partir de iniciativas como o Projeto GuardeÁgua, espera-se que a adoção das barragens subterrâneas continue crescendo, trazendo benefícios econômicos, sociais e ambientais para o Semiárido.
As barragens subterrâneas representam uma solução inovadora e sustentável para os desafios do Semiárido brasileiro. Além de gerar renda para os agricultores, a tecnologia melhora a qualidade de vida e promove a sustentabilidade ambiental na região.
Com iniciativas como o Projeto GuardeÁgua, a expectativa é de que mais famílias sejam beneficiadas, contribuindo para o fortalecimento da agricultura familiar, a segurança hídrica e a resiliência climática no Semiárido.