O baruzeiro (Dipteryx alata), árvore nativa do Cerrado, surge como uma alternativa promissora para sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Atualmente, o eucalipto predomina nesses sistemas, mas o baruzeiro apresenta vantagens adicionais: além da madeira de qualidade, produz sementes altamente valorizadas no mercado nacional e internacional.
O baru, também conhecido como cumaru ou cumbaru, tem registrado aumento significativo de demanda, impulsionado por seu alto valor nutricional. De acordo com a revista Fact.MR, a previsão de crescimento da comercialização desse produto é de 25% ao ano entre 2019 e 2029. O Brasil lidera a produção mundial, exportando quase metade das sementes, sendo 25% destinadas à Europa e 22% aos Estados Unidos.
Esse crescimento reflete a busca por alimentos saudáveis. O baru é considerado um superalimento, pois possui alto teor de proteína (quase 30% de seu peso), além de ser rico em vitamina C, ferro, polifenóis, flavonoides e antocianinas.
Oportunidade para comunidades rurais
Atualmente, a maior parte da produção provém do extrativismo. No entanto, a crescente demanda pode superar a capacidade de oferta, tornando essencial o desenvolvimento de sistemas de plantio comercial. Para Fernando Rocha, pesquisador da Embrapa Cerrados, essa iniciativa pode aumentar a produção e a renda dos produtores rurais.
O baruzeiro se destaca nos sistemas integrados devido ao seu potencial econômico e adaptação ao ambiente. “O baru pode ser uma nova fonte de renda para os produtores, pois além da semente, sua madeira é valorizada”, explica a pesquisadora Maria Madalena Rinaldi.
Rocha acrescenta que a árvore já é preservada espontaneamente pelos pecuaristas. “Quando limpam a área, eles retiram todas as árvores, exceto o baruzeiro, pois ele fornece sombra e alimento para os animais.”
Avanços na produção de mudas
Um dos principais desafios para a domesticação do baruzeiro é a produção de mudas de qualidade. Atualmente, não há metodologia estabelecida para sua reprodução assexuada, essencial para garantir a uniformidade das plantas. No entanto, pesquisas da Embrapa avançam em técnicas como enxertia e estaquia, apresentando resultados promissores.
Com a enxertia, o percentual de pegamento das mudas pode chegar a 60%, com potencial para atingir 90% com aprimoramento da técnica. Outra abordagem inovadora envolve a estaquia, onde ramos lenhosos e reguladores de crescimento foram usados para induzir o enraizamento.
Sementes de qualidade e novos experimentos
Para um cultivo eficiente, é fundamental utilizar sementes de qualidade. Pesquisadores da Embrapa Cerrados avaliaram mais de 2.200 amostras de frutos colhidos no Distrito Federal e Minas Gerais, analisando aspectos como tamanho, rendimento em polpa e teor de proteína.
Além disso, estão sendo conduzidos experimentos inéditos para testar a adaptação do baruzeiro em ILPF. Cerca de 400 mudas serão plantadas em uma área de três hectares na Embrapa Cerrados. O cultivo será realizado em três etapas: inicialmente com soja ou sorgo, seguido de culturas anuais e, por fim, pastagens para a inserção de animais.
Sustentabilidade e mercado internacional
O baruzeiro representa uma opção sustentável e rentável. Segundo Kolbe Soares, analista da WWF-Brasil, o baru se insere em um mercado global crescente de produtos nativos do Cerrado, como pequi e babaçu. Seu comércio fortalece comunidades extrativistas e reduz a pressão pelo desmatamento.
Fernando Rocha alerta para a necessidade de um sistema de produção estruturado, evitando que o cultivo comercial seja desenvolvido por outros países, como ocorreu com a macadâmia, levada da Oceania para os Estados Unidos no século 19.
O baruzeiro se destaca como uma alternativa viável e lucrativa para sistemas ILPF, oferecendo benefícios ambientais, econômicos e sociais. Além disso, com o avanço das pesquisas e o fortalecimento do cultivo comercial, a árvore pode consolidar-se como um importante ativo para a agropecuária brasileira.
Leia mais:
+ Agro em Campo: Criadores de Marchigiana agora podem registrar animais na ANC
+ Agro em Campo: Flos Olei 2025: azeite brasileiro está entre melhores do mundo