Os trabalhadores do agronegócio enfrentam um risco elevado de desenvolver câncer de pele devido à intensa exposição à radiação ultravioleta (UV). Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam que o câncer de pele é a neoplasia mais comum no Brasil, com aproximadamente 180 mil novos casos diagnosticados anualmente. A situação é alarmante, especialmente para aqueles que trabalham ao ar livre, como agricultores e pecuaristas, que estão expostos ao sol por longas horas.
Diante desse cenário preocupante, o Hospital de Amor, em parceria com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, lançou o Projeto “Retrate”. O objetivo é realizar um trabalho de rastreamento do câncer de pele entre a população rural, especialmente em regiões como Barretos, onde a agricultura é predominante.
Projeto Retrate
O Projeto Retrate já identificou quase 2 mil casos com risco aumentado para o desenvolvimento de melanoma. A iniciativa promove campanhas de busca ativa voltadas a grupos de risco e inclui capacitações para profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS) rurais. Além disso, fornece equipamentos necessários para melhorar o atendimento e eliminar barreiras ao acesso à prevenção e tratamento.
Um dos maiores desafios enfrentados pelo projeto é a resistência cultural à adoção de medidas de proteção, como o uso regular de roupas apropriadas e protetor solar. Desde abril de 2024, o projeto tem promovido ações informativas sobre a doença e atendimentos dermatológicos para rastreamento do câncer de pele.
“Nossa atuação não é fácil. A população rural é muito receosa, até mesmo por questões culturais, tornando difícil dar o primeiro passo para buscar o diagnóstico”, afirma Rolando Salomão, diretor técnico da CATI Regional de Barretos.
Resultados e expansão do projeto
Até o momento, o Projeto Retrate recebeu mais de 7 mil imagens de lesões de pele enviadas por meio das diferentes abordagens implementadas. Essas imagens foram avaliadas via teledermatologia, resultando no agendamento de aproximadamente 700 consultas presenciais e no encaminhamento de 173 pacientes para biópsia.
Leia mais:
+ Agro em Campo: Turismo rural: conheça a capital da uva em São Paulo
+ Agro em Campo: Tecnologia transforma criação de pirarucu no Brasil
O projeto atua atualmente em 18 municípios da Diretoria Regional de Saúde V (DRS-V) e está desenvolvendo propostas para expandir suas atividades para outras localidades.
O diagnóstico precoce é crucial, especialmente para o melanoma, que é uma forma agressiva da doença. Raquel Descie, pesquisadora e doutora em Oncologia pelo Hospital de Amor, destaca que muitos trabalhadores rurais passaram a vida inteira sem usar roupas adequadas ou protetor solar. “Enfrentamos o desafio de combater crenças equivocadas sobre a gravidade do câncer de pele. É fundamental ressaltar que alguns tipos são extremamente agressivos e apresentam alta mortalidade”, afirma Descie.
A saúde dos trabalhadores do agronegócio é essencial não apenas para sua qualidade de vida, mas também para a produtividade do setor agrícola. Iniciativas como o Projeto Retrate são fundamentais para aumentar a conscientização sobre os riscos do câncer de pele e garantir que os trabalhadores tenham acesso a cuidados preventivos e tratamentos adequados. O apoio contínuo à saúde rural é crucial para proteger aqueles que sustentam a produção agrícola do país.
1 comentário
Um conteúdo muito interessante e informativo.