A castanha, fruto da imponente árvore Bertholletia excelsa Bonpl., é um dos símbolos da sociobiodiversidade da Amazônia. Conhecida por diversos nomes – castanha-do-pará, castanha-do-brasil, castanha-da-amazônia –, a discussão sobre qual denominação é a mais adequada ganhou destaque em 2025, após uma polêmica envolvendo o ator manauara Adanilo no programa É de Casa, da Rede Globo.
Durante a preparação de uma tapioca caboquinha, prato típico amazonense, Adanilo referiu-se ao ingrediente como “castanha-da-amazônia”, gerando uma intervenção da apresentadora Talitha Morete, que destacou o uso do termo “castanha-do-pará” no Sudeste. O debate se estendeu às redes sociais, ganhando ainda mais força com a defesa do nome “castanha-do-pará” pela ex-BBB paraense Alane Dias.
Nomes populares versus nomenclatura oficial
A diversidade de nomes reflete aspectos históricos, culturais e identitários das regiões onde o fruto é consumido. No entanto, no âmbito comercial, a denominação mais utilizada é “castanha-do-brasil”, estabelecida pelo Decreto Federal nº 51.209, de 1961, que regulamenta a classificação e fiscalização da exportação do produto.
Historicamente, o termo “castanha-do-pará” surgiu no período colonial, quando a antiga província do Grão-Pará era o principal centro de exportação do fruto. Já o nome “castanha-do-brasil” foi adotado oficialmente na década de 1960, visando padronizar a nomenclatura para fins técnico-científicos. E também alinhar o produto à terminologia internacional, onde é conhecido como Brazil nut.
Identidade regional e inclusão
A ampla distribuição da castanheira pela Amazônia brasileira e outros países sul-americanos tem motivado a busca por uma denominação mais abrangente. O termo “castanha-da-amazônia” tem sido defendido por cientistas e produtores locais por refletir melhor a origem e a importância do produto para a região. A pesquisadora Patricia da Costa, da Embrapa Meio Ambiente, ressalta que a espécie ocorre em diversos estados da Amazônia brasileira e em países como Bolívia, Peru e Colômbia. “O Amazonas é o maior produtor no Brasil, mas a Bolívia superou o país como maior exportador de amêndoas desde 1998/1999”, afirma.
A pesquisadora Kátia Emídio, da Embrapa Amazônia Ocidental, reforça que o nome “castanha-da-amazônia” representa melhor a ocorrência ampla do fruto na região. No entanto, a força do nome “castanha-do-brasil” no mercado internacional tem dificultado a adoção de uma nova nomenclatura.
A Assembleia Legislativa do Amazonas recebeu o Projeto de Lei nº 913/2024, proposto pelo deputado Sinésio Campos (PT), que visa adotar a denominação “castanha-da-amazônia” para produtos e derivados no estado. A medida busca valorizar a produção local e fortalecer a identidade amazônica.
Além disso, o projeto NewCast, liderado pela Embrapa, está revisando as normativas relacionadas à nomenclatura e aos padrões de qualidade do fruto. A pesquisadora Lúcia Wadt, da Embrapa Rondônia, explica que, embora haja um sentimento de inclusão em torno do nome “castanha-da-amazônia”, o termo “castanha-do-brasil” permanece consolidado internacionalmente. “Há um receio de que a mudança gere confusão entre os consumidores globais”, afirma.
A importância para a Amazônia e o mundo
A história da amêndoa da Amazônia é marcada por uma rica interação entre aspectos culturais, históricos e comerciais. Independentemente da nomenclatura, o fruto é fundamental para a sociobioeconomia, a cultura e a biodiversidade da região. Projetos como o NewCast, que busca fortalecer a cadeia produtiva e promover o desenvolvimento sustentável, destacam a relevância não apenas para a Amazônia, mas para o mundo.
Para mais informações sobre a história e a nomenclatura do fruto, confira o livro da Embrapa: Castanha da Amazônia.
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