A China deu um passo inesperado e comprou, nos últimos dias, pelo menos 40 cargas de soja brasileira — o equivalente a mais de 2,4 milhões de toneladas do grão. Segundo apuração da Bloomberg, esse volume representa cerca de um terço do consumo mensal médio chinês, com entregas previstas entre maio e julho.
O movimento, além de expressivo, é sintomático. A tensão crescente entre Pequim e Washington tem provocado efeitos colaterais pelo mundo, e o agronegócio está no olho do furacão. Com a escalada de tarifas entre os dois gigantes, a soja americana perdeu espaço. O Brasil, então, entrou em cena com força total.
Nos últimos meses, o governo Trump subiu o tom e impôs tarifas de até 145% sobre produtos chineses. A China respondeu no mesmo nível, aumentando as taxas sobre produtos dos EUA, inclusive a soja. Resultado: os importadores chineses passaram a evitar o grão norte-americano e buscar alternativas mais vantajosas — e o Brasil, com seu preço competitivo e produto de qualidade, virou a bola da vez.
Brasil assume o protagonismo
Essa nova leva de compras reforça uma tendência que já vinha se desenhando. Em março de 2025, o Brasil embarcou 10,25 milhões de toneladas de soja, um salto de quase 60% em relação a fevereiro. Do total exportado no primeiro trimestre, 79% foi parar na China.
A força do Brasil nesse mercado não é à toa. A agricultura por aqui tem avançado graças a práticas como o cultivo em novas áreas e o sistema da safrinha, que permite duas colheitas no mesmo terreno durante o ano. Isso significa mais produção, mais grão no mercado e mais poder de barganha com grandes compradores — como os chineses.
No radar dos especialistas
Analistas do setor acreditam que a demanda chinesa por soja brasileira tende a crescer ainda mais, enquanto durar o impasse comercial com os Estados Unidos. Mas o otimismo vem com um certo pé no freio. Se o ritmo de compras se mantiver alto e o estoque brasileiro apertar, o preço da soja pode subir nos próximos meses, especialmente no quarto trimestre, quando tradicionalmente a China volta a olhar para a safra americana.
No pano de fundo, a estratégia chinesa vai além de uma birra tarifária. A busca por fornecedores mais confiáveis, com produto competitivo e sustentável, tem colocado o Brasil em evidência. Com safras recordes e logística aprimorada, o país não apenas aproveita a brecha deixada pelos americanos, mas reforça sua posição como líder mundial no setor.
Enquanto isso, os EUA se veem em uma encruzilhada. Recuperar espaço no mercado chinês — que já foi seu maior cliente — vai exigir mais do que diplomacia: será preciso preço, qualidade e, sobretudo, confiança.
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