A China anunciou nesta semana a suspensão temporária das importações de carne bovina de três frigoríficos do Brasil, após auditorias remotas identificarem não conformidades com os requisitos sanitários do país asiático. A medida, comunicada pela Administração-Geral de Aduanas da China (GACC), mobilizou o governo brasileiro, que já iniciou diálogos para resolver as pendências e minimizar impactos no comércio bilateral.
A suspensão afeta uma unidade da JBS localizada em Mozarlândia (GO), outra da Frisa em Nanuque (Minas Gerais), e uma terceira da Bon Mart em Presidente Prudente (SP). Também afeta dois exportadores argentinos, um do Uruguai e um da Mongólia.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as empresas afetadas receberam notificação oficial e estão implementando medidas corretivas para readequação aos padrões chineses. A suspensão ocorre em um momento sensível: a China é o principal destino da carne bovina brasileira, responsável por 60% das exportações do setor em 2023, com vendas superiores a US$ 8 bilhões no acumulado do ano.
Videoauditorias e não conformidades
A GACC realizou inspeções virtuais (videoauditorias) nas unidades, prática adotada desde a pandemia para fiscalização internacional. Embora os detalhes das irregularidades não tenham sido especificados, autoridades brasileiras destacam que o sistema de defesa agropecuária do país mantém credibilidade global. São 126 plantas frigoríficas atualmente habilitadas para exportar para a China. Número que quadruplicou desde 2019, quando apenas 12 unidades estavam liberadas.
O ministro Carlos Fávaro (Agricultura) lembrou que, desde o início da gestão atual, o governo reativou 12 plantas suspensas. E também ampliou em 43 o número de unidades aprovadas. “Temos um histórico de solução rápida dessas questões. A China reconhece a qualidade do nosso sistema, e trabalharemos para normalizar a situação”, reforçou.
Carlos Goulart, secretário de Defesa Agropecuária, destacou que as tratativas com a GACC e o setor privado são prioridade: “Nossa defesa agropecuária é referência, mas cada mercado tem exigências específicas. Estamos ajustando os pontos levantados para retomar as exportações o quanto antes”.
Impacto no mercado doméstico
Apesar da suspensão, o ministro Fávaro ressaltou que as exportações para a China beneficiam o equilíbrio de preços no Brasil. “Os cortes enviados ao mercado asiático têm baixa demanda aqui ou menor valor comercial. Exportar evita sobrecarga no mercado interno e ajuda na formação de preços”. Dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) indicam que 85% da carne exportada para a China corresponde a partes como ponta de agulha e músculo dianteiro, menos valorizadas no Brasil.
A China é parceira estratégica do agronegócio brasileiro, com acordos que incluem protocolos sanitários rígidos. Em 2022, o país asiático chegou a suspender importações de 27 unidades brasileiras por questões burocráticas, mas todas foram reabilitadas em menos de dois meses. Especialistas apontam que a diversificação de mercados – como a recente abertura da Indonésia e Filipinas – reduz a dependência de um único comprador.
O Mapa informou que enviará técnicos às unidades suspensas para acelerar as correções. A expectativa é que a China reavalie as plantas em até 30 dias, prazo comum em casos anteriores. Enquanto isso, as demais 123 unidades continuam operando normalmente, o que deve evitar rupturas no fluxo comercial.
A suspensão pontual reforça a importância de alinhamento contínuo com padrões internacionais, em um setor que movimentou US$ 13,5 bilhões em exportações de carne bovina em 2023, segundo o Comex Stat. Para o Brasil, manter a confiança da China é crucial: o país asiático consome 40% da proteína animal produzida globalmente.
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