Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão utilizando a agrobacterium para editar o DNA do milho, tornando a planta mais resistente às altas temperaturas e à escassez de água provocadas pelas mudanças climáticas. Essa inovação promete aumentar a tolerância do milho em até 2°C acima da temperatura ideal de cultivo, que varia entre 28°C e 30°C.
Com a crescente elevação das temperaturas globais, que já aumentaram 1°C em comparação aos níveis pré-industriais e devem alcançar 1,5°C entre 2030 e 2050, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, a pesquisa se torna ainda mais relevante. O relatório do IPCC alerta que até 8% da flora mundial pode desaparecer de suas áreas tradicionais devido ao aquecimento global.
Os resultados preliminares da pesquisa indicam que as plantas geneticamente modificadas apresentaram um aumento de 10% na produção. Além disso, as novas variedades de milho requerem apenas 20% da água necessária anteriormente, o que representa um avanço significativo em tempos de seca.
Terceiro maior produtor
O Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial de produção de milho. Contribuindo com cerca de 11,7% do fornecimento global, atrás apenas dos Estados Unidos (30,3%) e da China (24,1%). Nos últimos vinte anos, a produção brasileira cresceu continuamente a uma taxa média de 5,2% ao ano, conforme dados do Ministério da Agricultura e Pecuária.
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Para a safra 2024/2025, que está em fase de plantio, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a área cultivada deve se manter estável em torno de 21 milhões de hectares. A expectativa é que a produção alcance 119,8 milhões de toneladas.
Como funciona a edição genética
A técnica utilizada pelos cientistas envolve a agrobacterium, uma bactéria capaz de modificar o DNA das plantas. Embora na natureza essa bactéria seja considerada uma praga que pode causar tumores nas raízes do milho, no ambiente controlado do laboratório, os pesquisadores removem as partes do DNA que causam doenças antes de introduzi-la nas células do milho.
A inserção da agrobacterium não representa risco para os consumidores. Qualquer alimento com genoma mapeado pode passar por esse processo de edição genética para obter benefícios semelhantes aos observados no milho.
Para monitorar se o gene alterado se desenvolveu corretamente, os pesquisadores utilizam marcadores genéticos que mudam a cor dos grãos. Durante a fase embrionária, essa coloração pode ser observada ao microscópio. Quando o milho se desenvolve completamente, toda a espiga assume essa nova cor. Contudo, ao final do estudo e antes da comercialização da nova variedade, esses marcadores não serão mais inseridos, garantindo que o milho mantenha sua coloração amarela tradicional.
Testes em ambientes diversos
As plantas geneticamente modificadas passam por uma série de testes em diferentes ambientes durante seu desenvolvimento. Desde as salas de aclimatação até estufas com climas extremos, os pesquisadores avaliam como as plantas reagem ao estresse térmico e à variação na quantidade de água disponível. As variedades que demonstram resistência são então replicadas por meio da polinização.
Além disso, os testes incluem o plantio em lavouras reais para verificar como as novas variedades se comportam no campo.
Portanto, com essas inovações na genética do milho, o Brasil se posiciona na vanguarda da pesquisa agrícola voltada para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. A capacidade de produzir milho mais resistente não apenas ajuda os agricultores locais a manterem suas colheitas em condições adversas. Mas também contribui para a segurança alimentar em um cenário global cada vez mais incerto.