Em uma descoberta que promete abalar os alicerces da mineração tradicional, pesquisadores da CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation) identificaram um fungo microscópico com capacidade única: extrair ouro do ambiente e incorporá-lo em sua estrutura biológica. Publicado na renomada Nature Communications, o estudo revela que cepas do Fusarium oxysporum não apenas interagem com partículas de ouro, mas crescem mais rápido na presença do metal.
O fungo que “cultiva” ouro
Encontrado próximo a Perth, na região de Boddington – área rica em jazidas auríferas –, o Fusarium oxysporum desafia a química convencional. O ouro é um metal quimicamente inerte, ou seja, dificilmente reage com outros elementos. Por isso, a descoberta de que um organismo vivo pode metabolizá-lo surpreendeu até os cientistas.
“É a primeira evidência sólida de que fungos participam ativamente do ciclo biogeoquímico do ouro”, explica Tsing Bohu, líder do estudo.
Como funciona a “mineração metabólica”?
Batizada por pesquisadores como Eduardo Bazo, a técnica de usar organismos vivos para extrair metais ganha contornos revolucionários. O processo envolve:
- Absorção: o fungo retira nanopartículas de ouro do solo ou de rochas.
- Metabolização: o metal é integrado à estrutura do fungo, formando depósitos visíveis sob microscopia.
- Crescimento acelerado: surpreendentemente, o fungo se desenvolve melhor em ambientes auríferos.
Aplicações na terra… e no espaço
A Austrália, 2º maior produtor global de ouro, já enxerga potencial econômico. Mas a ambição vai além:
- Mineração sustentável: substituir escavações predatórias por bioextração reduziria poluição, desmatamento e consumo de energia.
- Exploração espacial: a ESA (Agência Espacial Europeia) estuda usar fungos geneticamente modificados para processar minerais em asteroides ou na Lua.
“Imagine colonizar Marte com ‘fazendas de fungos’ extraindo metais. É viável em algumas décadas”, especula um colaborador anônimo do projeto.
Vantagens sobre a mineração tradicional
Enquanto métodos convencionais geram:
💀 Rios contaminados por mercúrio e cianeto.
🌳 Destruição de ecossistemas inteiros.
⚡ Alto gasto energético (a mineração consome 10% da energia global),
A biotecnologia fungal promete:
♻️ Extração sem escavação.
🌍 Redução de 90% dos resíduos tóxicos.
💡 Custo operacional até 5x menor.
Mas, apesar do otimismo, cientistas alertam:
- A eficiência do fungo em larga escala ainda não foi testada.
- Modificações genéticas serão necessárias para adaptá-lo a diferentes minérios (como lítio e cobre).
- Regulamentações ambientais e de biossegurança precisam ser criadas.
Um futuro dourado?
Se confirmada, a técnica colocará fungos no centro de uma nova era industrial – mais limpa e eficiente. Enquanto isso, a corrida por patentes de bioengenharia mineral já começou. Resta saber se a natureza, mais uma vez, nos dará a chave para progredir sem destruir.
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