Uma equipe internacional de cientistas acaba de realizar um feito que parece saído de um filme de ficção científica: reviver microalgas dormentes há 7.000 anos, encontradas no fundo do Mar Báltico. O experimento, liderado pela bióloga Sarah Bolius, não só comprova a incrível resiliência da vida, mas também oferece pistas cruciais sobre como as mudanças climáticas moldaram – e ainda moldam – os oceanos.
Durante uma expedição em 2021 ao Eastern Gotland Deep, região profunda do Báltico, pesquisadores coletaram testemunhos de sedimentos a 240 metros abaixo da superfície. Lá, escondidas em camadas de lama sem luz ou oxigênio, estavam células de fitoplâncton da espécie Skeletonema marinoi, em estado de dormência profunda – uma estratégia de sobrevivência usada por bactérias, plantas e até alguns animais.
Ao serem reativadas em laboratório, as algas não apenas “acordaram”, mas começaram a se reproduzir e fazer fotossíntese com a mesma eficiência de variedades modernas. “É como se o tempo não tivesse passado para elas”, explica Bolius, líder do estudo publicado na revista PHYTOARK.
Por que essa descoberta é revolucionária?
Ecologia da ressurreição: o campo científico que “revive” organismos antigos ganha força. Recentemente, vírus de 50.000 anos foram reativados no Ártico.
Cápsulas do tempo genéticas: análises de DNA revelaram mutações ligadas a eventos históricos do Báltico, como alterações na salinidade e oxigenação.
Previsão climática: ao comparar algas antigas e modernas, cientistas entendem como espécies se adaptam a mudanças ambientais.
Segredos sob a lama: o que mais as amostras revelam?
Além das algas, os sedimentos são arquivos naturais que guardam registros de:
- Níveis de oxigênio há milênios.
- Variações de temperatura e salinidade.
- Eventos extremos, como eras glaciais e aquecimento abrupto.
“Essas algas são testemunhas silenciosas da história do planeta”, destaca Bolius. “Agora, elas estão nos contando sua versão dos fatos.”
O próximo passo é submeter as algas a condições extremas em laboratório – como aquecimento artificial e falta de nutrientes – para simular crises climáticas do passado e antever respostas a futuros desastres.
A Skeletonema marinoi é uma das algas mais comuns no Báltico hoje. Sua capacidade de sobreviver milênios sugere que a vida marinha pode ser mais resistente do que imaginamos – um alento em tempos de aquecimento global.
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