A pecuária de cria no Acre, base da economia rural do estado, enfrenta desafios para se modernizar e alcançar maior sustentabilidade. Diagnóstico realizado pela Embrapa Acre em 246 fazendas revelou que 82% dos produtores são de base familiar e 71% ainda utilizam métodos tradicionais, com baixa adoção de tecnologias. A falta de infraestrutura adequada é apontada como um dos principais entraves para a modernização dos sistemas de produção.
O estudo identificou que 75,4% das propriedades apresentam pastagens de boa qualidade, reflexo do investimento em reforma com gramíneas adaptadas à região. O uso dessas tecnologias contribui para pastagens mais produtivas e duradouras, reduzindo custos de renovação. Além de evitar a abertura de novas áreas, o que favorece a sustentabilidade ambiental.
Importância econômica da pecuária de cria
A pecuária de corte responde por 60% do valor bruto da produção agropecuária do Acre, sendo a criação de bezerros fundamental para a produção de carne de qualidade. Mais de 10 mil produtores dependem da atividade, fornecendo bezerros para propriedades de recria e engorda em diferentes regiões do país. O levantamento da Embrapa traçou um panorama detalhado do setor, apontando pontos fortes, gargalos tecnológicos e demandas por políticas públicas.

Apesar da existência de tecnologias acessíveis, a pecuária de cria no Acre apresenta baixo índice de inovação, especialmente entre pequenos produtores. A falta de informação sobre técnicas como consórcio de gramíneas com leguminosas, controle de plantas daninhas e plantio direto de forrageiras limita a produtividade. O amendoim forrageiro, por exemplo, está presente em apenas 6% das fazendas, apesar de seu potencial para intensificar a produção de pastagens.
Internet como aliada da modernização
O acesso à internet já é realidade em 71% das propriedades, o que pode facilitar a disseminação de informações e tecnologias. Especialistas sugerem a criação de redes locais de troca de conhecimento e o incentivo ao uso de tecnologias de entrada, como calendário reprodutivo, manejo de pastagens e vermifugação estratégica, que exigem baixo investimento e têm impacto direto na produtividade.
O Acre possui o menor índice de degradação de pastagens da região Norte. Apenas 24,6% das áreas avaliadas necessitam de renovação, e 73% das propriedades investem na diversificação de gramíneas adaptadas ao clima local, como a Brachiaria brizantha cultivar Xaraés. Os produtores já utilizam critérios técnicos para identificar sinais de degradação, reflexo do impacto positivo das pesquisas científicas na região.
A taxa média de lotação nas fazendas de cria é 27,7% superior à média estadual, indicando excesso de animais por hectare. O superpastejo compromete a qualidade das pastagens e o desempenho do rebanho. E evidencia a necessidade de capacitação dos produtores para o manejo adequado da lotação animal e gestão das pastagens.
Limitações de mercado e políticas públicas
Apesar de produzir o bezerro mais barato do Brasil, a predominância de pequenos produtores dificulta a comercialização direta e reduz a remuneração, pois a maioria vende para atravessadores. O estudo destaca a necessidade de políticas públicas para facilitar o acesso ao crédito rural, assistência técnica e tecnologias como o plantio direto de forrageiras, além de incentivar programas de melhoramento genético, como o Progenética, para elevar a qualidade do rebanho.
Especialistas defendem que a modernização da pecuária de cria no Acre deve ser progressiva e adaptada ao perfil socioeconômico dos produtores familiares. Investimentos em capacitação, manutenção de estradas, acesso ao crédito e assistência técnica são fundamentais para elevar o padrão tecnológico das propriedades, garantindo sustentabilidade, competitividade e geração de renda no campo.
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