O mercado brasileiro enfrenta um problema crescente com defensivos agrícolas falsificados. Estes produtos colocam em risco a produtividade das lavouras e a saúde dos trabalhadores rurais. Produtores precisam desenvolver estratégias eficazes para identificar e evitar essas falsificações.
O Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF) calcula que produtos ilegais já ocupam 25% do mercado brasileiro de defensivos químicos, que movimenta cerca de US$ 60 bilhões por ano. Entre 2018 e 2020, o roubo de cargas gerou um prejuízo de R$ 214 milhões.
Mas o impacto vai além das perdas econômicas: o uso de insumos não registrados reduz a eficácia agronômica, favorece o surgimento de pragas resistentes e expõe trabalhadores rurais, consumidores e o meio ambiente a riscos significativos, como a contaminação da água e do solo e casos de intoxicação, já que esses produtos não passam pelas avaliações da ANVISA, do IBAMA ou do Ministério da Agricultura e Pecuária.
Verifique sempre a procedência dos produtos
Compradores devem investigar a origem dos defensivos antes da compra. Produtos falsificados frequentemente chegam ao mercado através de canais irregulares. A rastreabilidade representa um fator fundamental na identificação de produtos originais.

Fabricantes legítimos mantêm registros detalhados de distribuição. Estes registros permitem rastrear cada lote desde a produção até o ponto de venda. Produtores podem solicitar essas informações aos revendedores para confirmar a autenticidade.
Analise embalagens e rótulos com atenção
Falsificadores cometem erros frequentes nas embalagens dos produtos. Cores desbotadas, impressão de baixa qualidade e informações incorretas denunciam produtos falsos. Embalagens originais apresentam acabamento impecável e informações precisas.
Rótulos autênticos contêm códigos de barras funcionais e números de registro atualizados. Produtores devem verificar estes códigos através de aplicativos específicos ou sites oficiais. Informações inconsistentes ou códigos inexistentes indicam falsificação.
A qualidade do material da embalagem também revela muito sobre o produto. Embalagens falsas utilizam materiais mais baratos e frágeis. Tampas que não fecham corretamente ou vazamentos também sinalizam problemas.
Compre apenas de revendedores autorizados
Revendedores autorizados passam por rigorosos processos de credenciamento. Eles mantêm contratos diretos com os fabricantes e seguem protocolos específicos de armazenamento. Esta cadeia controlada reduz significativamente o risco de falsificações.
Órgãos reguladores mantêm listas atualizadas de distribuidores autorizados. Produtores podem consultar essas listas nos sites oficiais do MAPA (Ministério da Agricultura) e dos fabricantes. Compras fora desta rede autorizada aumentam consideravelmente os riscos.
Revendedores legítimos oferecem garantias e suporte técnico adequado. Eles possuem técnicos capacitados para orientar sobre aplicação e dosagem. Vendedores irregulares raramente oferecem esse tipo de apoio.
Desconfie de preços muito baixos
Preços significativamente abaixo do mercado levantam suspeitas imediatas. Defensivos originais têm custos de produção elevados devido às exigências regulatórias. Ofertas muito vantajosas frequentemente escondem produtos falsificados ou vencidos.
Produtores devem pesquisar preços em diferentes revendedores autorizados. Esta pesquisa estabelece uma faixa de preços de referência para cada produto. Descontos superiores a 20% do valor médio merecem investigação cuidadosa.
Promoções legítimas sempre vêm acompanhadas de documentação oficial. Fabricantes comunicam oficialmente suas campanhas promocionais. Vendedores que não conseguem comprovar a origem dos descontos levantam bandeiras vermelhas.
Examine detalhes técnicos dos produtos
Produtos falsificados apresentam composições químicas incorretas ou incompletas. Análises laboratoriais revelam diferenças significativas entre produtos originais e falsificados. Princípios ativos em concentrações erradas comprometem a eficácia.
Testes simples podem ser realizados na propriedade para verificar a autenticidade. Produtos que não se dissolvem adequadamente ou apresentam sedimentação excessiva merecem suspeita. Odores estranhos ou cores diferentes do padrão também indicam problemas.
Documentos técnicos como bulas e fichas de segurança devem estar completos e atualizados. Informações vagas ou genéricas sugerem produtos falsificados. Originais sempre apresentam dados técnicos precisos e detalhados.
Exija certificações e registros obrigatórios
Todo defensivo agrícola precisa ter registro no MAPA para comercialização legal. Este registro garante que o produto passou por testes de eficácia e segurança. Números de registro devem ser verificados no sistema oficial do ministério.
Certificados de qualidade ISO e outros selos técnicos agregam credibilidade ao produto. Fabricantes sérios investem em certificações que comprovam seus padrões de qualidade. Falsificadores raramente conseguem reproduzir estes documentos com precisão.
Notas fiscais completas e corretas são obrigatórias em todas as transações. Elas comprovam a origem legal do produto e permitem rastreabilidade completa. Vendedores que evitam emitir notas fiscais operam irregularmente.
Relate suspeitas aos órgãos competentes
Denúncias de produtos suspeitos ajudam a combater o mercado irregular. MAPA, ANVISA e polícias especializadas investigam essas denúncias. Produtores que relatam irregularidades contribuem para a proteção de toda a categoria.
Órgãos competentes mantêm canais específicos para receber denúncias. Estes canais garantem sigilo e proteção aos denunciantes. Informações detalhadas sobre produtos, vendedores e locais facilitam as investigações.
Associações de produtores e sindicatos rurais também apoiam no combate às falsificações. Eles mantêm redes de informação que alertam sobre produtos suspeitos no mercado. Participar dessas redes fortalece a defesa coletiva contra fraudes.
Vigilância constante
A compra de defensivos agrícolas originais exige vigilância constante dos produtores. Verificação de procedência, análise de embalagens e escolha de revendedores autorizados formam a base desta proteção. Preços suspeitos e documentação irregular sempre merecem investigação cuidadosa.
Investir tempo na verificação de produtos evita prejuízos muito maiores no futuro. Defensivos falsificados podem arruinar safeiras inteiras e colocar em risco a saúde dos trabalhadores. A prevenção continua sendo a melhor estratégia contra essas fraudes no setor agrícola.
Operação em Franca impede circulação de defensivos agrícolas ilegais
Uma operação conjunta do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Militar apreendeu, em Franca (SP), mais de 30 mil embalagens irregulares usadas para armazenar e vender defensivos agrícolas falsificados. A ação, realizada nesta terça-feira (8), representa a maior apreensão desse tipo de material no estado nos últimos anos.

A força-tarefa combate de forma sistemática organizações criminosas envolvidas na falsificação e adulteração de insumos agrícolas. O grupo desarticulado atuava principalmente no núcleo gráfico, responsável por falsificar galões e tampas de embalagens de agrotóxicos. Esses itens abasteciam outras frentes da quadrilha, que continuavam o processo de adulteração dos produtos.
Segundo o promotor Adriano Mellega, do Gaeco de Franca, a apreensão demonstra o potencial de dano que a quadrilha poderia causar. “Se essa estrutura criminosa continuasse agindo com essa quantidade de insumos, haveria grande prejuízo aos produtores, consumidores e ao meio ambiente”, afirmou.
Nos locais vistoriados, os agentes encontraram equipamentos usados na falsificação e milhares de embalagens irregulares. As garrafas apreendidas poderiam armazenar até 155.535 litros de defensivos agrícolas ilegais. Após a operação, todo o material seguiu para perícia da Polícia Científica.
Nilto Mendes, gerente de Combate a Insumos Agrícolas Ilegais da CropLife Brasil, ressaltou o impacto da apreensão. Ele destacou que o uso de insumos falsificados ameaça a produção agrícola, o meio ambiente e a saúde humana. Mendes também reforçou a importância de devolver embalagens vazias de defensivos químicos aos órgãos competentes, colaborando para o combate ao comércio ilegal e promovendo boas práticas agrícolas.
Materiais apreendidos
Durante a operação, o Gaeco reteve:
10.164 garrafas de 1 litro
3.888 galões de 2 litros
9.339 galões de 5 litros
4.830 galões de 10 litros
2.130 galões de 20 litros
Atuação coordenada
O combate à ilegalidade exige a atuação coordenada entre órgãos públicos e setor privado. Nesse sentido, a CropLife Brasil e a Universidade de São Paulo (USP) lançaram, recentemente, a terceira edição do curso de combate ao comércio ilegal de insumos agrícolas. A iniciativa tem como objetivo capacitar profissionais da cadeia produtiva, ampliar a conscientização sobre os riscos associados ao uso de produtos falsificados e fortalecer a colaboração entre diferentes setores para coibir práticas criminosas no campo.
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