Um estudo conduzido na região de Caracaraí, em Roraima, aponta que o fenômeno El Niño impacta diretamente o crescimento da castanheira-da-amazônia (Bertholletia excelsa), espécie emblemática da floresta Amazônica e de grande importância econômica, histórica e cultural para a região.
Segundo a pesquisa, períodos de estiagem provocados pelo El Niño resultam em uma redução significativa do crescimento em diâmetro dessas árvores. Maria Eduarda Guimarães, estudante de Engenharia Florestal da Esalq e bolsista da Embrapa Meio Ambiente, destaca que as castanheiras funcionam como verdadeiros arquivos do clima, permitindo resgatar informações históricas por meio da análise dos anéis de crescimento, técnica conhecida como dendrocronologia.
Detalhes da pesquisa
Foram analisadas amostras de 10 castanheiras coletadas de forma não destrutiva em uma área de castanhal nativo de nove hectares. Os exemplares avaliados apresentam, em média, 92 anos de idade, 17,5 metros de altura e diâmetro de 78 centímetros. O crescimento médio anual dos anéis foi de 3,87 milímetros.
As cronologias de crescimento dessas árvores foram correlacionadas a dados de temperatura e precipitação local. Além de informações sobre a temperatura da superfície do oceano Pacífico, utilizadas para identificar eventos de El Niño e La Niña.
De acordo com Patrícia Costa, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e coordenadora do estudo, há uma forte relação entre o crescimento da castanheira e a quantidade de chuva na região. Quanto maior a precipitação, maior o desenvolvimento da árvore. Por outro lado, o aumento da temperatura do oceano Pacífico — característica do El Niño — desacelera o crescimento da espécie.
A série histórica analisada (1951-2010) apresentou alta qualidade nos sinais climáticos registrados nas árvores. O professor Mário Tomazello Filho, coordenador do Laboratório de Anatomia e Identificação de Madeira, ressalta que a castanheira se mostrou um importante bioindicador, sensível às variações de precipitação e aos efeitos do El Niño.
Importância para a conservação e economia
Os resultados do estudo reforçam a necessidade de preservar as florestas. E também ampliam o conhecimento sobre como eventos climáticos extremos afetam a dinâmica das espécies amazônicas. Além disso, servem de alerta para possíveis impactos futuros no ecossistema e na economia regional, que depende fortemente da castanha-da-amazônia.
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