A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), por meio do Ciram (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia), desenvolveu um medidor de vazão de baixo custo voltado ao controle de geadas em pomares de frutas de caroço, como pêssego e ameixa. A equipe instalou o equipamento em fevereiro no campo experimental da Epagri, no município de Videira, no Meio-Oeste catarinense.
A tecnologia tem como objetivo aprimorar a técnica de controle de geada por aspersão, uma das principais estratégias utilizadas para proteger plantas frutíferas contra o frio intenso. O sistema permite medir com precisão a vazão da água utilizada na irrigação, facilitando o cálculo da lâmina adequada para proteger as culturas durante os eventos de geada.
Segundo o pesquisador Guilherme Miranda, responsável pelo desenvolvimento do dispositivo, o instrumento alia baixo custo à facilidade de fabricação e à precisão nas medições. As informações geradas serão integradas ao monitoramento agrometeorológico realizado pela Epagri/Ciram. Contribuindo para avaliar se o volume de água aspergido atende às necessidades da proteção térmica das plantas.
Redução de custos e uso racional da água
O pesquisador André Luiz Kulkamp de Souza, gerente da Estação Experimental de Videira, destaca que a nova ferramenta contribui para reduzir os custos com irrigação e promove o uso racional da água, reforçando a sustentabilidade ambiental da fruticultura.

A pesquisadora Iria Sartor Araujo, coordenadora do estudo, ressalta que, embora existam referências internacionais sobre controle de geadas, ainda faltam parâmetros técnicos adaptados às condições climáticas de Santa Catarina. “Essa pesquisa busca desenvolver soluções tecnológicas alinhadas às demandas específicas dos agricultores catarinenses, especialmente diante da alta frequência de geadas no inverno”, pontua.
Tecnologia integrada ao monitoramento ambiental
A pesquisa também visa validar uma tecnologia de monitoramento automático e telemétrico das variáveis ambientais do pomar, como temperatura, umidade relativa do ar e molhamento foliar. A proposta é entregar, diretamente no celular, tablet ou computador do produtor, informações em tempo real. E assim, apoiar a tomada de decisão quanto ao acionamento do sistema de aspersão.

Durante o último inverno, a equipe instalou sensores de temperatura em diferentes níveis do dossel do pessegueiro. Durante um evento de geada moderada, o sistema enviou automaticamente e-mails a cada hora, com dados atualizados a cada cinco minutos. A inovação permite que o agricultor acompanhe a situação sem sair de casa. E ative os aspersores sempre que a temperatura atingir o limite de 1°C.
Como funciona o controle de geada por aspersão
Na prática, o produtor precisa iniciar a irrigação quando a temperatura atinge 1°C e apresenta tendência de queda. A ideia é formar uma fina camada de água sobre as plantas, que congela ao atingir 0°C. Essa proteção térmica evita que as temperaturas mais baixas causem danos às flores e frutos. De acordo com André Souza, os frutos começam a ser danificados a -1°C, enquanto as flores resistem até -3°C. Com a planta completamente congelada, ela se mantém protegida a 0°C, evitando prejuízos à produção.
A Epagri foi pioneira no Brasil na difusão dessa técnica. Os primeiros testes ocorreram ainda em 1983, no Centro de Treinamento da instituição em Videira. Desde então, a empresa realizou cursos e capacitações que ajudaram a disseminar o uso da aspersão contra geadas em diversas regiões do Sul do país.
A equipe de Monitoramento Agroambiental da Epagri/Ciram conduziu a instalação do novo medidor. O grupo é composto pelo assistente de pesquisa Roberto Carlos Silveira e pelo técnico em meteorologia Rafael Ataide de Araujo. O trabalho contou com o apoio dos pesquisadores Adelar Rech e Roberto Bolzani, da Estação Experimental de Videira.
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