O dia mal havia clareado quando o fotógrafo Mycchel Legnaghi apontou a lente para o campo coberto de branco, na Serra Catarinense. O que viu pela frente foi mais que um cavalo pastando na neblina: era como se a natureza soprasse poesia gelada sobre o Vale do Caminhos da Neve, em São Joaquim. No instante do clique, o frio virou espetáculo, e o bicho, moldura viva de um fenômeno raro e silencioso: a sublimação.

Com os termômetros despencando a -5,6°C no centro do Caminhos da Neve, segundo dados da Epagri/Ciram, e -7,3°C na estação Corujas, o amanhecer de segunda-feira (1º) congelou até o tempo. Os açudes ficaram rígidos, os lagos endureceram e o orvalho sequer teve chance de virar água: virou vapor direto. O chão, coberto por cristais finíssimos, parecia sussurrar em branco. E lá estavam eles, os cavalos, imóveis por um segundo, como se soubessem que algo ali era maior do que o frio.

“Foi um daqueles momentos que te deixam sem palavras ao ver os animais”, disse Mycchel. “Essa névoa de ouro que transforma o frio nesse espetáculo. Fenômeno sutil, mas grandioso quando a ciência do frio encontra luz”.
Sublimação: a física por trás da beleza
A tal dança tem nome científico: sublimação. Acontece quando o gelo vira vapor sem passar pelo estado líquido, fenômeno comum em condições extremas como as da manhã congelante em São Joaquim. A cidade, que já é famosa pelas baixas temperaturas, viveu mais um capítulo do seu inverno rigoroso, desses que congelam não só a água, mas também o tempo.
Entre cavalos serenos e o vapor que subia do chão como um véu, a paisagem parecia saída de um conto nórdico. Só que era bem aqui, no coração do Sul do Brasil.
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