O avanço de frentes frias intensas no Centro-Sul do Brasil preocupa produtores de café e cana-de-açúcar, que enfrentam riscos elevados de prejuízo com a chegada de geadas e temperaturas mínimas. Segundo levantamento da StoneX, eventos climáticos extremos como esses afetam diretamente o metabolismo das plantas, comprometendo a produtividade e a qualidade das safras.
A intensidade dos danos provocados pelo frio depende de fatores microclimáticos, como topografia do terreno, posição das lavouras e umidade local.

“Também influenciam fatores climáticos de grande escala, como os fenômenos El Niño/La Niña e a Oscilação Antártica, que interferem de forma significativa nas condições do tempo no Brasil”, explica a analista de Inteligência de Mercado, Carolina Jaramillo Giraldo.
Cana-de-açúcar: prejuízo imediato e colheita antecipada
No caso da cana-de-açúcar, temperaturas abaixo de 5 °C ocorrem ao menos uma vez por ano em grande parte do Centro-Sul. Áreas produtoras do Mato Grosso, por exemplo, registram até sete dias anuais com frio intenso. Quando os termômetros se aproximam de 0 °C, os produtores enfrentam queima de folhas, morte de gemas, paralisação do crescimento e queda na qualidade industrial e produtividade.
Após a geada, a necessidade de colheita imediata compromete o rendimento, pois muitas vezes a cana ainda não atingiu o ponto ideal. “Na safra 2021/22, a produtividade já vinha em queda devido à estiagem. Com as geadas e, posteriormente, incêndios em agosto, a quebra foi ainda maior. A moagem final ficou em 524,1 milhões de toneladas — cerca de 60 milhões abaixo da expectativa inicial de 580 milhões”, pontua o analista de Inteligência de Mercado, Marcelo Di Bonifácio Filho.

Regiões como o noroeste do Paraná, sudeste de Mato Grosso do Sul e sul de São Paulo apresentam mais de 90% de chance de registrar temperaturas abaixo de 5 °C ao menos uma vez por ano. Áreas do Triângulo Mineiro, centro de Minas Gerais e oeste de Goiás também enfrentam riscos semelhantes.
Café: histórico de perdas e risco de queda na produção
A cultura do café arábica já sofreu severamente com geadas ao longo da história. O frio intenso pode causar estresse térmico, abortamento floral e queda expressiva na produção, como ocorreu em 2022.
“Em 2022, o potencial de produção era de 50 milhões de sacas, mas foram colhidas apenas 39,8 milhões, cerca de 20% abaixo do esperado. Isso teve impacto direto nos preços internacionais”, explica o gerente de Inteligência de Mercado do grupo, Fernando Maximiliano.

Regiões como sul de Minas, noroeste do Paraná e sul de São Paulo apresentam mais de 90% de probabilidade de registrar ao menos um dia por ano com temperaturas abaixo de 5 °C. Em áreas de altitude no extremo sul de Minas Gerais, o risco de frio intenso é ainda maior, com até 18 dias anuais de temperaturas mínimas abaixo desse patamar em pontos específicos.
O frio reduz a fotossíntese e coloca as plantas em estado de “hibernação metabólica”, limitando o crescimento e a formação de gemas florais. Quando o frio ocorre durante a florada, o risco de abortamento floral aumenta, dificultando a previsão de perdas.
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