Uma parceria entre pesquisadores e quebradeiras de coco babaçu no Maranhão resultou na criação de um hambúrguer vegetal inovador, rico em proteínas e sem conservantes, capaz de durar até seis meses congelado. O produto, desenvolvido a partir do bagaço da amêndoa do babaçu – antes descartado como resíduo –, alia sustentabilidade, inclusão social e tecnologia, e já conquistou reconhecimento internacional.
O hambúrguer de babaçu, com 13,17% de proteína por 100g, é fruto de uma colaboração entre cientistas da Embrapa, UFMA, UFC e comunidades tradicionais, como a Cooperativa Coomavi e associações quilombolas. Financiado pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), o projeto visa transformar o babaçu em um “elemento âncora” da bioeconomia maranhense, gerando renda para mais de 300 mil famílias de quebradeiras de coco.

“Valorizamos a identidade sociocultural dessas comunidades, usando resíduos para criar alimentos que atendem a mercados como o vegano e o sem glúten”, explica Guilhermina Cayres, líder do projeto na Embrapa. Além do hambúrguer, a farinha da amêndoa do babaçu já está em biscoitos, pães e até sorvetes.
Da Amazônia para o mundo
O hambúrguer foi finalista no Con X Tech Prize: Amazônia, competição global que premia inovações sustentáveis na região. O critério? Soluções que protegem ecossistemas, respeitam povos tradicionais e distribuem benefícios de forma justa.
“O produto é uma revolução. Usa casca de banana como agente estruturante, aproveita 100% do babaçu e tem aceitação sensorial excelente”, destaca Harvey Villa, professor da UFMA. Testes com alunos do IEMA Gastronomia comprovaram o sucesso: o hambúrguer agradou até consumidores não veganos.
Além da alta taxa proteica, o hambúrguer incorpora casca de banana, rica em fibras e pectina, que ajuda a absorver metais pesados. “É uma alternativa nutritiva e funcional”, afirma Yuko Ono, nutricionista da UFMA. Já a farinha da amêndoa, antes usada como ração, ganhou novo destino: substitui o coco ralado em receitas, agregando crocância e reduzindo desperdícios.
Impacto social: renda e empoderamento
Para as quebradeiras de coco, a inovação significa mais do que tecnologia. “Antes, o bagaço era ração. Agora, virou farinha e hambúrguer, que vendemos em feiras com orgulho”, celebra Rosângela Lica, da Coomavi. A comunidade quilombola Pedrinhas Clube de Mães também celebra a mudança: “O babaçu gera renda, cidadania e reconhecimento”, diz Maria Domingas.

Com treinamentos em boas práticas de fabricação e segurança alimentar, as quebradeiras agora dominam a produção em escala. “Queremos posicionar o Maranhão como referência em bioeconomia”, reforça Samara Bontempo, bolsista do projeto.
Para Westphalen Nunes, da GIZ, a iniciativa prova que é possível aliar desenvolvimento e preservação: “O babaçu traz riqueza, qualidade de vida e sustentabilidade”. E o mercado concorda: nas feiras de São Luís, os produtos à base de babaçu já são campeões de vendas.
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