O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) responsabilizou a JBS Aves, unidade do grupo JBS em Passo Fundo (RS), por submeter dez pessoas a condições análogas à escravidão em granjas fornecedoras no Rio Grande do Sul. Esses trabalhadores atuavam na coleta de frangos, atividade conhecida como “apanha de frangos”, que consiste em capturar e encaixotar aves para transporte até os frigoríficos da empresa.
Segundo a fiscalização, os trabalhadores enfrentavam jornadas exaustivas de até 16 horas diárias, sem intervalos regulares para alimentação. Em muitos casos, a única fonte de proteína disponível eram aves descartadas do processo produtivo por estarem fora dos padrões da JBS. Alguns trabalhadores precisaram de atendimento médico devido ao esgotamento físico. Os alojamentos oferecidos eram precários: em um deles, os trabalhadores dormiam em colchões no chão. Em outro, estavam sem água há duas semanas, obrigando-os a buscar água em um valão próximo para consumo, preparo de alimentos e higiene pessoal.
Os trabalhadores, oriundos de estados como Pernambuco, Bahia, Maranhão e até da Argentina, foram aliciados com promessas de salários altos e boas condições de trabalho. No entanto, ao chegarem ao local, encontraram uma realidade diferente. As despesas de transporte e alimentação foram ilegalmente convertidas em dívidas a serem abatidas dos ganhos diários, caracterizando servidão por dívidas, uma das formas de trabalho escravo previstas na legislação brasileira.
Contratação foi terceirizada mas JBS foi considerada responsável
Embora a contratação tenha sido feita por uma terceirizada, a MRJ Prestadora de Serviços, o MTE considerou a JBS Aves como principal responsável, pois era ela quem determinava os locais, cronogramas e horários do serviço. O resgate ocorreu em dezembro de 2024, mas a responsabilização formal da JBS Aves só foi oficializada em abril de 2025, após conclusão da investigação.
A JBS afirmou, em nota, que suspendeu imediatamente a prestação de serviços, encerrou o contrato e bloqueou a empresa terceirizada assim que tomou conhecimento das denúncias. A companhia informou que recorre da autuação e mantém política de tolerância zero para violações trabalhistas e de direitos humanos.
O caso segue em tramitação administrativa. A JBS pode recorrer antes de ser incluída na Lista Suja do Trabalho Escravo. Esse cadastro do governo federal reúne empregadores responsabilizados por esse tipo de infração.
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