A Kappaphycus alvarezii, uma macroalga vermelha amplamente cultivada, está se destacando no Brasil como uma alternativa inovadora para a biofertilização de hortas. Desde a autorização para seu cultivo pelo órgão ambiental estadual em 2022, o interesse pela algicultura tem crescido no litoral norte de São Paulo. O extrato dessa macroalga promove o desenvolvimento das plantas e oferece uma solução sustentável para o setor agrícola.
Originária das Filipinas, a Kappaphycus alvarezii foi introduzida no Brasil em 1995 por meio de uma colaboração entre a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto de Pesca (IP-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. O IP-Apta desenvolve diversos projetos na Fazenda Marinha Experimental e no Laboratório de Macroalgas Marinhas Ricardo Toledo Lima Pereira (LAMAMA), localizado em Ubatuba (SP).
Pesquisa e resultados
Uma pesquisa recente liderada pela pesquisadora Aline Nunes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em parceria com o IP-Apta e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), demonstrou que o extrato aquoso da Kappaphycus alvarezii pode aumentar a produtividade e a qualidade das plantações agrícolas, especialmente da hortelã-pimenta (Mentha piperita). “O biofertilizante derivado da Kappaphycus alvarezii apresenta um grande potencial para aplicação na agricultura”, afirma Nunes.
Os resultados indicam que a aplicação do extrato promoveu um aumento significativo na altura das plantas, no número de nós e no peso seco da parte aérea da hortelã-pimenta. A pesquisa também observou que as melhorias variaram conforme a concentração do extrato utilizado.
Benefícios sustentáveis
O uso do biofertilizante natural representa uma alternativa sustentável e eficaz para o cultivo da hortelã-pimenta. E permite um crescimento mais robusto sem depender de produtos químicos sintéticos. “Esse avanço demonstra o potencial das algas marinhas como aliadas na agricultura sustentável”, destaca Nunes.
Valéria Gelli, pesquisadora científica do IP-Apta e coordenadora do Programa Algicultura SP, enfatiza que as pesquisas sobre o biofertilizante à base da Kappaphycus alvarezii têm sido realizadas desde 2015. “Este novo estudo reafirma sua eficiência agronômica como uma solução sustentável, com grande potencial para reduzir a dependência de produtos químicos”, conclui Gelli.
Maricultor de Santa Catarina produz biofertilizante
O maricultor Raulino de Souza Filho, conhecido como Nino, está inovando na agricultura ao cultivar a macroalga Kappaphycus alvarezii em Palhoça, na Grande Florianópolis. Desde a autorização para o cultivo dessa alga pelo órgão ambiental estadual em 2022, Nino decidiu investir no negócio e já montou uma fábrica para produzir extrato de alga destinado à fabricação de biofertilizantes.
Com uma área de produção de 1,54 hectare, Raulino iniciou suas atividades de forma experimental em parceria com a Epagri. “A alga tem um grande potencial e estamos trabalhando em cima disso. Sou apaixonado por inovação e já tenho mais de 20 anos de parceria com a Epagri. Acreditei nesse projeto e vou ser pioneiro em Santa Catarina”, afirma Nino.
Em 2022, enquanto ainda operava experimentalmente, ele produziu 36 mil litros do extrato de alga, vendendo cerca de 30% da produção. Para 2023, a previsão é aumentar a produção para 50 mil litros e futuramente comercializar o fertilizante pronto. “Há uma grande demanda por algas. Estou conversando com colegas maricultores que poderão produzir a macroalga consorciada com cultivos de ostras e mexilhões”, explica o empresário.
Transformação das macroalgas
Outro exemplo de sucesso no uso das macroalgas é a maricultora Tatiana Gama da Cunha, que também atua em Florianópolis. Ela utiliza as macroalgas para criar alimentos, cosméticos e biofertilizantes artesanais. Com o apoio da Epagri, Tatiana fundou a empresa Algama e inaugurou em 2023 a primeira unidade de beneficiamento de macroalgas para alimentação em Santa Catarina.
O interesse pela Kappaphycus alvarezii surgiu como uma alternativa para melhorar a qualidade da água nos cultivos de moluscos na fazenda da família, localizada no Ribeirão da Ilha. “O trabalho com algas é mais leve”, comenta Tatiana.
Tatiana tem explorado formas de agregar valor ao produto, desenvolvendo artesanalmente sabonetes, hidratantes, xampus, condicionadores e biofertilizantes. Em 2022, ela colheu 4 toneladas de macroalgas em uma área de 0,5 hectare e planeja expandir seu cultivo focando na produção alimentar e oferecendo oficinas culinárias sobre o uso das algas.
“O consumo de alimentos à base de algas traz vários benefícios para a saúde. Elas são consideradas polivitamínicos naturais e têm propriedades antioxidantes”, defende Tatiana.
Apoio Institucional
O apoio da Epagri tem sido fundamental para o desenvolvimento desses negócios. Tatiana participou do curso “Mulheres em Ação” e elaborou um projeto que viabilizou sua unidade de beneficiamento. Com o financiamento obtido através do Programa Jovens e Mulheres em Ação da Secretaria da Agricultura, ela recebeu R$ 11 mil para dar início ao seu empreendimento.
O cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii está se consolidando como uma alternativa sustentável e promissora para o setor maricultor em Santa Catarina. Com iniciativas como as de Raulino e Tatiana, as macroalgas não apenas contribuem para a saúde do meio ambiente, mas também oferecem novas oportunidades econômicas para os produtores locais. As perspectivas são otimistas para o futuro desse mercado emergente no estado.
A utilização do biofertilizante derivado da macroalga Kappaphycus alvarezii não apenas promete aumentar a produtividade das plantações de hortelã-pimenta. Mas também representa um passo importante em direção à sustentabilidade na agricultura brasileira. Com o crescimento do interesse por práticas agrícolas ecológicas, essa inovação pode transformar o setor e contribuir para um futuro mais verde.
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