O Brasil, maior produtor mundial de laranjas e líder na exportação de suco cítrico, acaba de ganhar duas novas variedades de laranjeira-doce: Kawatta e Majorca. Desenvolvidas em parceria entre a Embrapa, o Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM/IAC) e a Fundação Coopercitrus Credicitrus (FCC), as cultivares foram lançadas nesta segunda-feira (3) durante a 50ª Expocitros, um dos principais eventos do setor.
As novas laranjas se destacam por combinar precocidade na colheita (entre maio e agosto) com alta qualidade de suco, característica demandada tanto pelo mercado interno quanto pela indústria exportadora. Enquanto a Kawatta, originária do Suriname, chama a atenção pela coloração intensa da polpa, a Majorca, trazida da Flórida, apresenta maior teor de vitamina C em comparação com outras variedades precoces.

Atualmente, as laranjas Hamlin e Valência Americana dominam o cultivo precoce no país, mas enfrentam críticas por qualidade inferior no sabor e na coloração do suco. “Essas novas variedades oferecem uma alternativa mais equilibrada, com sólidos solúveis e acidez ideais para processamento, especialmente para suco NFC (Not From Concentrate), que tem maior valor agregado”, explica Camilla Pacheco, pesquisadora da Citrosuco, empresa parceira no projeto.
Resistentes e adaptáveis, mas exigem manejo contra doenças
Testadas desde os anos 1990 em diferentes regiões de São Paulo, as cultivares demonstraram:
- Produtividade acima de 30 toneladas por hectare mesmo sem irrigação.
- Adaptação climática, com bom desempenho tanto em áreas mais frias quanto mais quentes do estado.
- Compatibilidade com os porta-enxertos mais usados no Brasil (limão Cravo, citrumelo Swingle e tangerina Sunki).
Por outro lado, assim como outras laranjeiras, são suscetíveis ao HLB (greening), doença que afeta a qualidade do suco. “O manejo fitossanitário adequado é essencial para manter a produtividade e a qualidade”, alerta Eduardo Girardi, pesquisador da Embrapa.
Próximos passos: quando chegarão aos produtores?
A partir do segundo semestre de 2025, viveiristas credenciados terão acesso a borbulhas de plantas básicas fornecidas pelo IAC para multiplicação. A expectativa é que as mudas estejam disponíveis para os citricultores em 2026, integrando um portfólio de novas variedades que inclui ainda outras laranjas e tangerinas em desenvolvimento.

“Estamos oferecendo opções para diversificar os pomares e aumentar a competitividade da citricultura brasileira”, destaca Marinês Bastianel, curadora do Banco de Germoplasma do IAC.
Homenagem e colaboração
O lançamento também presta homenagem ao pesquisador Eduardo Stuchi, falecido em 2024, um dos responsáveis por impulsionar a inovação no setor. “Seu legado permitiu que essas tecnologias chegassem ao campo com segurança”, afirma Girardi.

Com investimento contínuo em pesquisa, o Brasil reforça sua posição na vanguarda da citricultura global, alinhando produtividade, qualidade e sustentabilidade.
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