Pesquisadores da Embrapa, em parceria com quatro universidades brasileiras e um instituto italiano, desenvolveram um método inovador para identificar milho transgênico de forma rápida, precisa e acessível. A técnica combina espectroscopia de plasma induzida por laser (LIBS) com algoritmos de aprendizado de máquina, substituindo os tradicionais testes de PCR, que são caros e demorados.
Atualmente, a detecção de organismos geneticamente modificados (OGMs) depende da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), que analisa o DNA em busca de proteínas específicas. Apesar da precisão, o processo pode levar dias e custar até 10 vezes mais do que o novo método. “Nosso modelo classifica amostras em segundos, com 95% de acurácia, usando apenas a composição química dos grãos”, explica Matheus Cicero Ribeiro, autor do estudo pela UFMS.
Como funciona a LIBS + IA?
A técnica LIBS dispara pulsos de laser sobre o grão, vaporizando parte dele e gerando um plasma. A luz emitida por esse plasma revela a assinatura elementar do material (como carbono, nitrogênio e magnésio). Esses dados são processados por algoritmos de IA, que identificam padrões invisíveis ao olho humano.
“O carbono foi o elemento-chave para diferenciar transgênicos de convencionais”, detalha Ribeiro. O estudo analisou 160 amostras de seis variedades de milho (quatro transgênicas e duas tradicionais), validando o método em escala inédita.
Vantagens que transformam o mercado
- Custo 80% menor que o PCR;
- Resultados em tempo real (menos de 1 minuto);
- Portabilidade: futuros dispositivos poderão ser usados em campo;
- Aplicações amplas: de laboratórios a portos, garantindo rastreabilidade e combate à fraude.
“Isso é um marco para a segurança alimentar. Empresas e governos poderão fiscalizar produtos com agilidade, assegurando conformidade com leis nacionais e internacionais”, afirma Bruno Marangoni, orientador do estudo.
Impactos na Cadeia Agrícola
- Indústrias: certificação rápida de lotes para exportação;
- Vigilância Sanitária: aumento no volume de amostras analisadas;
- Consumidores: transparência sobre a origem dos alimentos.
A tecnologia já interessa a países como Itália e EUA, onde a demanda por métodos ágeis de detecção cresce junto com o mercado de transgênicos, que movimentou US$ 20 bi em 2023.
Próximos passos: do laboratório para o campo
O objetivo agora é expandir a base de dados com amostras de diferentes regiões e desenvolver dispositivos portáteis. “Queremos tornar essa solução acessível a pequenos produtores e cooperativas”, destaca Débora Milori, coordenadora do Laboratório de Agrofotônica da Embrapa.
A equipe também busca parcerias com empresas de biotecnologia para integrar o método a sistemas de controle de qualidade. “Imagine identificar um grão transgênico diretamente no silo, sem precisar enviá-lo ao laboratório. Isso é revolucionário”, completa Milori.
Milho transgênico: 90% da produção nacional
No Brasil, 90% do milho plantado é geneticamente modificado, segundo a Embrapa. A cultura lidera em eventos transgênicos (genes inseridos para resistência a pragas e secas), o que exige métodos eficientes de monitoramento. “Com a LIBS, daremos um salto na gestão de riscos e na confiança do mercado”, conclui Marangoni.
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