Em um estado sem litoral, Minas Gerais surpreende ao se consolidar como maior produtor de tilápia do Brasil, com Morada Nova de Minas, na região Central, ocupando o topo do ranking municipal. Com 20 mil toneladas/ano, o município responde por 44% da produção mineira e quase 4% do volume nacional, segundo dados do IBGE.

O sucesso, impulsionado por clima favorável e investimentos em tecnologia, ganha destaque na Quaresma, período de alta demanda por pescado.
De projeto-piloto a potência aquícola
A história começou em 2002, com um projeto experimental da Codevasf e 20 tanques-rede. Hoje, a cidade conta com assistência técnica da Emater-MG, que capacitou produtores e estruturou a cadeia. “Doamos tanques, alevinos e ração no início. Agora, focamos em regularização ambiental e crédito rural”, explica Eduardo Moreira, técnico da Emater-MG.

A temperatura média de 28°C, água de qualidade e organização da produção em etapas especializadas (reprodução, engorda e processamento) transformaram a atividade em modelo. Carlos Júnior, produtor local, vive a evolução: “Comecei com dois tanques. Hoje, produzimos 8 milhões de alevinos e 3 milhões de juvenis por ano”.
Vantagens estratégicas
- Localização privilegiada: proximidade de BH, SP, RJ, Brasília e Nordeste.
- Cadeia integrada: da reprodução ao filé congelado, tudo é feito no município.
- Clima ideal: água morna e estável acelera o crescimento dos peixes.
Verticalização e mercado em expansão
Após quatro meses de engorda, as tilápias são processadas em 18 frigoríficos locais, responsáveis por 51% da produção municipal. Washington Luís da Costa, dono do maior empreendimento, processa 12 toneladas/dia e lidera vendas em MG e ES. “A verticalização foi crucial. O filé congelado, prático e sem odor, conquistou o consumidor”, afirma.

Com selo do IMA e Sisbi, seus produtos podem circular nacionalmente. “Dois minutos na frigideira e está pronto. Isso revolucionou o consumo”, destaca. O otimismo é grande: o brasileiro consome apenas 9,5 kg de peixe/ano, contra 42 kg de frango, segundo a ABPA. “Há espaço para crescimento interno e exportação”, projeta.
Quaresma e o boom da tilápia
A demanda por pescado dispara no período da Quaresma e no verão, e a tilápia, de sabor suave, virou preferência. “Ela está ensinando o Brasil a comer peixe”, brinca Washington. Em 2024, a alta nas vendas confirmou a tendência, reforçando o potencial econômico do setor.
Apesar do sucesso, o setor busca ampliar mercados e melhorar logística. “Queremos exportar”, revela Washington. Enquanto isso, Morada Nova de Minas segue como exemplo de como a aquicultura pode transformar economias regionais, mesmo longe do mar.
Leia mais:
+ Agro em Campo: IPR Tapicuru: Paraná lança nova variedade de feijão
+ Agro em Campo: Pesquisadores investigam desaparecimento de tatuís nas praias brasileiras