Em uma cena que mistura força, tradição e conservação, o pescador Seu Luiz Ferreira viralizou nas redes sociais ao carregar um imponente pirarucu de 150 quilos para sua canoa. O vídeo, gravado em uma comunidade ribeirinha, mostra não apenas a grandiosidade do maior peixe de água doce escamado do mundo, mas também a eficácia do manejo sustentável, técnica que equilibra preservação e subsistência na região.
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O gigante das águas amazônicas
O pirarucu (Arapaima gigas) é um símbolo da biodiversidade amazônica, podendo atingir 3 metros de comprimento e pesar até 250 kg. Sua respiração aérea — ele sobe à superfície a cada 20 minutos — o torna vulnerável à pesca predatória, que quase o levou à extinção nos anos 1990. Hoje, graças ao manejo comunitário, a espécie se recupera: em áreas como a Resex Médio Purus, a população saltou de 16.555 para 19.678 indivíduos entre 2021 e 2023.
Como funciona o manejo sustentável
A técnica segue regras rigorosas:
Contagem científica: pescadores monitoram os pirarucus adultos que emergem para respirar, calculando estoques sem prejudicar a reprodução.
Cotas controladas: apenas 30% dos adultos podem ser pescados anualmente, garantindo a renovação dos estoques.
Vigilância comunitária: lagos são protegidos por moradores contra pesca ilegal, assegurando a sustentabilidade.
Essa abordagem já beneficia mais de 40 áreas na Amazônia, como as bacias dos rios Juruá e Solimões, onde o manejo gera R$ 360 mil por temporada em feiras locais.
Impacto além da conservação
Além de salvar o pirarucu, o manejo transforma vidas:
Geração de renda: na Feira de Tefé (AM), 42 pescadores venderam 6 toneladas de pirarucu em 2024, com ganhos médios de R$ 1.214 por família.
Empoderamento comunitário: em Carauari (AM), a venda do peixe financiou placas solares para comunidades ribeirinhas.
Turismo sustentável: em Pixuna do Tapará (PA), o manejo atrai visitantes para festivais gastronômicos, movimentando a economia local.
Desafios e futuro
Apesar do sucesso, secas severas — como as de 2024 — dificultam o acesso aos lagos, exigindo investimentos em infraestrutura. Projetos como o Programa Arapaima, lançado pelo Ibama em 2025, buscam ampliar parcerias com universidades e institutos de pesquisa para fortalecer a resiliência das comunidades.
Para Seu Luiz e outros manejadores, o pirarucu não é só um peixe: “O manejo representa vida”, como define um líder da Associação de Carauari. A cena do pescador carregando seu gigante de 150 kg é, assim, um retrato de como tradição e ciência podem escrever um futuro mais verde.
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