Pesquisadores brasileiros concluíram um dos maiores levantamentos genéticos já feitos sobre microrganismos associados a plantas nativas do Brasil. Em geral, o estudo revelou mais de 257 mil bactérias e arqueias ligadas às velozias, típicas dos campos rupestres. O trabalho foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC), uma parceria entre Embrapa, Unicamp e Fapesp. Os dados foram publicados em 16 de abril, na revista Scientific Data.
Entenda o mapeamento de microrganismos
O mapeamento inclui material genético de microrganismos presentes em folhas, raízes e solos. Em resumo, os pesquisadores analisaram quatro espécies da família Velloziaceae, em diferentes estações do ano. Segundo os cientistas, os microrganismos podem ajudar as plantas a sobreviver em ambientes extremos. As velozias crescem em regiões com solos pobres em nutrientes e longos períodos de seca.
Duas espécies ressurgentes foram investigadas: Vellozia nivea e Vellozia tubiflora. Essas plantas toleram a dessecação e se reidratam após a chuva. Além disso, os cientistas também analisaram as espécies sempre-verdes Vellozia intermedia e Vellozia peripherica, que se mantêm hidratadas durante a seca. A pesquisadora Isabel Gerhardt, da Embrapa Agricultura Digital, liderou o estudo. Ela explica que o foco foi entender como os microrganismos auxiliam as plantas nas estratégias de tolerância à seca. “Queríamos ir além da planta. Investigamos também os microrganismos na superfície e no interior dos tecidos vegetais”, afirmou Gerhardt.
Para isso, os cientistas sequenciaram 374 amostras de tecidos vegetais e solo. O bioinformata Otávio Pinto, do GCCRC, destacou a abrangência do levantamento. “Coletamos amostras de várias partes das velozias em diferentes épocas do ano. Isso aumentou a diversidade encontrada”, explicou.
Acesso ao estudo
Os dados e metadados do estudo estão disponíveis em plataformas de acesso aberto, como JGI GOLD, GenBank e ENA. A iniciativa faz parte da ciência aberta, que prioriza a transparência e o compartilhamento de dados.
Ricardo Dante, também da Embrapa Agricultura Digital, reforçou a importância do formato escolhido para a publicação. “Nosso objetivo foi organizar os dados num padrão internacional, para facilitar o uso por outros cientistas.”
A pesquisa permite investigar a diversidade microbiana em diferentes contextos, como entre espécies ressurgentes e sempre-verdes, e entre períodos secos e chuvosos. Portanto, esse é o próximo passo do grupo. Além disso, o estudo pode gerar soluções para a agricultura em cenários de mudanças climáticas. Ou seja, microrganismos aliados às velozias possuem características promissoras para o desenvolvimento de biotecnologias.
Em um estudo anterior, o GCCRC já havia identificado bactérias com genes relacionados à solubilização de fósforo. Elas estavam associadas às raízes de Vellozia epidendroides e Barbacenia macranta. Ou seja, esses microrganismos tornam o fósforo mais acessível para as plantas, o que é fundamental em solos tropicais degradados. Portanto, segundo os pesquisadores, eles funcionam como aliados silenciosos das plantas. Essa capacidade pode inspirar a criação de biofertilizantes, que aumentam a eficiência do uso de fósforo em lavouras comerciais.
O GCCRC reúne cientistas da Embrapa e da Unicamp desde 2012. O centro atua no desenvolvimento de soluções biotecnológicas para a adaptação das lavouras às mudanças climáticas. A iniciativa conta com apoio da Fapesp, por meio do programa Centros de Pesquisa em Engenharia (CPE).
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