Resumo da notícia
- Cerca de 150 famílias do semiárido do Piauí produzem algodão orgânico livre de agrotóxicos, que abastece uma empresa francesa de tênis e conquista mercados nacionais e internacionais.
- A Secretaria da Agricultura Familiar investiu R$ 150 mil em uma miniusina que permite entregar algodão em fardos, agregando mais valor e aumentando a renda dos produtores locais.
- Produtores recebem capacitação da Embrapa para manejo natural de pragas, utilizando bioinsumos e técnicas sustentáveis para proteger a produção sem químicos.
- A produção sustentável do algodão possibilitou que o agricultor Manoel Aragão formasse suas três filhas, mostrando o impacto social e econômico da atividade na região.
Resumo gerado pela redação.
Cerca de 150 famílias do semiárido piauiense produzem algodão orgânico que abastece uma exigente empresa francesa de tênis. A matéria-prima cultivada sem agrotóxicos ou produtos químicos conquista as principais vitrines de calçados no Brasil e no exterior.
A Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) adquiriu uma miniusina de beneficiamento em 2024. O equipamento custou R$ 150 mil e chegou aos produtores de São Francisco de Assis do Piauí. A novidade permite que os agricultores entreguem o algodão em fardos ao invés de plumas. Esta mudança aumenta o valor agregado do produto e eleva a renda das famílias. A produção anual gira em torno de 10 toneladas de plumas.
Embrapa capacita produtores para combater pragas naturalmente
Os produtores mantêm parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) da Paraíba. O objetivo é capacitar agricultores dos municípios para melhorar os cuidados contra pragas. Como a produção não utiliza químicos, ela fica mais vulnerável ao bicudo, inseto que destrói as plantações.
“Precisamos compreender a existência de inimigos naturais, como o inseto bicudo do algodoeiro”, explica Antônio Pereira, diretor de Agroecologia e Agricultura Periurbana da SAF. “O manejo adequado inclui cultivo de outras culturas alimentares junto ao algodão, como milho e macaxeira.”
A estratégia também envolve inseticidas naturais, bioinsumos e técnicas de conservação do solo. Os produtores discutem questões de comercialização e necessidade de selo de verificação. Empresas estrangeiras demonstram interesse crescente pelos algodões agrícolas brasileiros.
Agricultor de São Raimundo Nonato forma três filhas com renda do algodão
Manoel Aragão Ribeiro trabalha na produção de algodão agroecológico na localidade Lagoa dos Prazeres, em São Raimundo Nonato. Ele conta como começou a atividade que hoje vende para uma empresa francesa.
“A associação começou no final de 2010. Em 2011 reunimos os grupos e em 2012 conseguimos registrar em cartório”, relembra o agricultor. “Esse trabalho já vem dos nossos antepassados. Formalizamos a partir do incentivo da Embrapa e da Diaconia.”

A iniciativa preserva a área com práticas sustentáveis de conservação do solo. Os produtores utilizam curva de nível, esterco natural de bode e outras técnicas ecológicas.
Manoel destaca que o trabalho evoluiu com a exportação da matéria-prima. A parceria surgiu através da Diaconia, instituição de Recife responsável pelo mapeamento da empresa francesa. Ele define a atividade como um trabalho que “transforma sonho em realidade”.
“Sou pai de três meninas, e todas cresceram com a produção de algodão”, conta orgulhoso. “Consegui formar uma em administração em faculdade privada. Ela cursa pedagogia na Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Outra se formou técnica em restaurante e a terceira terminou o ensino médio.”
A área de plantio ganhou destaque mesmo com chuvas irregulares. O trabalho de 30 anos sem queimadas e agrotóxicos criou a melhor área de produção da região. “Hoje eu calço um tênis francês feito com o algodão que eu mesmo produzi”, finaliza Manoel com satisfação.
A história exemplifica como a agricultura familiar sustentável pode gerar renda, preservar o meio ambiente e conectar pequenos produtores ao mercado internacional.
Leia mais:
+ Agro em Campo: Angola destaca-se no agronegócio com produção recorde