Resumo da notícia
- A bexiga natatória da pescada-amarela, conhecida como “grude”, alcança preços altíssimos no mercado internacional, chegando a US$ 701,95 por quilo, sendo uma iguaria de luxo e símbolo de status na Ásia.
- No Brasil, comunidades pesqueiras do Pará dependem da venda do “grude” para sustentar suas famílias, transformando o produto no principal item de exportação local.
- O alto valor do “grude” impulsiona a pesca artesanal, mas preocupa pesquisadores pela falta de controle e risco de esgotamento da espécie, ameaçando o equilíbrio ecológico da região.
- O Ministério da Agricultura implementou novas regras para regular o comércio da bexiga natatória, mas especialistas alertam que a fiscalização ainda é insuficiente para garantir a sustentabilidade.
A bexiga natatória da pescada-amarela, chamada de “grude” pelos pescadores do Norte, transformou-se em uma das iguarias mais caras e cobiçadas do mercado internacional. O órgão, que ajuda o peixe a flutuar, alcança até US$ 701,95 (R$ 3,8 mil) por quilo, segundo levantamento do portal InfoAmazonia. No Brasil, compradores pagam R$ 2,8 mil pelo mesmo produto.
Enquanto a carne da pescada é vendida a R$ 27 o quilo, a bexiga seca chega a valer 140 vezes mais, o que faz dela o verdadeiro tesouro da pesca artesanal. Essa valorização mudou a rotina de vilas costeiras e reacendeu o debate sobre sustentabilidade marinha.
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Iguaria de luxo e símbolo de status na Ásia
A bexiga natatória virou sinônimo de prosperidade na Ásia. Na China, no Vietnã e em Hong Kong, o produto é servido em sopas e tonificantes que, segundo a medicina tradicional, fortalecem pele, ossos e articulações.
Por seu alto teor de colágeno, o “grude” é considerado um elixir da longevidade e ocupa o mesmo patamar de iguarias como barbatanas de tubarão e ninho de andorinha. Em mercados de luxo, o quilo custa mais do que uma bolsa de grife. Assim, o produto passou a simbolizar poder e status social entre famílias abastadas do Oriente.
Do Pará para o mundo
A pescada-amarela (Cynoscion acoupa) habita todo o litoral brasileiro, mas se concentra no Norte e Nordeste, principalmente nos estuários e manguezais do Pará. Nas comunidades pesqueiras de Vigia e Bragança, o “grude” virou o principal item de exportação.
Os pescadores capturam o peixe, retiram a bexiga ainda no barco e a secam ao sol ou em pequenas estufas. Depois, intermediários recolhem o material e o revendem para exportadores. “Com a carne, pago o combustível. Com o grude, sustento a família”, contou um pescador ao Acervo Socioambiental.
Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) confirmam que a espécie movimenta a economia costeira. No entanto, alertam que o ritmo crescente da extração pode comprometer o equilíbrio ecológico da região.

Riqueza e risco ambiental
A bexiga natatória da pescada-amarela representa tanto uma oportunidade quanto um perigo. Por um lado, ela garante renda para centenas de famílias ribeirinhas. Por outro, impulsiona uma corrida extrativista que ameaça a própria sobrevivência da espécie.
A ausência de rastreabilidade e a falta de dados padronizados sobre o volume de pesca dificultam o controle da atividade, segundo estudo da revista Frontiers in Marine Science (2025). “Assim como qualquer corrida pelo ouro, é provável que se esgote”, alerta a publicação.
O Ministério da Agricultura (MAPA) editou novas regras para regular o comércio das bexigas, classificando-as por tipo de processamento e destino — alimentício ou industrial. Ainda assim, especialistas afirmam que a fiscalização permanece insuficiente e que parte do produto pode seguir por rotas ilegais até o mercado asiático.

A valorização do “ouro branco do mar” transformou a pescada-amarela em um ativo estratégico do comércio pesqueiro brasileiro. Entretanto, o país precisa equilibrar ganhos econômicos e preservação ambiental. O futuro dessa cadeia depende de políticas públicas que assegurem pesca sustentável, renda justa e transparência nas exportações.