Resumo da notícia
- A crise global na produção de cacau, causada por eventos climáticos e vírus em países africanos, eleva preços do chocolate e cria oportunidade para o Brasil ampliar sua produção e presença no mercado internacional.
- O Brasil busca retomar sua tradição cacaueira, principalmente no Ceará, onde projetos inovadores e a irrigação por gotejamento aumentam a produtividade, podendo superar em até quatro vezes a média africana.
- A irrigação localizada permite maior eficiência no uso de água e nutrientes, reduzindo doenças e elevando a produção para até 2.000 kg/ha/ano, o que representa um avanço tecnológico crucial para o cultivo sustentável do cacau.
- O projeto no Vale do Jaguaribe, iniciado em 2010, já alcança alta produtividade com variedades adaptadas, e a verticalização da cadeia produtiva local contribui para superar desafios logísticos e fortalecer a indústria cacaueira regional.
Resumo gerado pela redação.
A crise mundial na produção de cacau está criando uma oportunidade histórica para o Brasil retomar sua posição de destaque no mercado internacional. Enquanto os principais produtores mundiais enfrentam problemas estruturais, estados como o Ceará apostam em tecnologias inovadoras para revolucionar o cultivo da cultura no país.
A Páscoa de 2025 registrou os preços mais altos do chocolate dos últimos anos. Segundo a Organização Internacional do Cacau (ICCO), os valores aumentaram 66% em Londres entre outubro e dezembro de 2024, saltando de US$ 6.896 para US$ 11.441 por tonelada. Em Nova York, o crescimento foi similar, atingindo 64% no mesmo período.
Costa do Marfim e Gana, responsáveis pela maior parte da oferta mundial, enfrentam uma combinação de fatores críticos:
- Eventos climáticos extremos
- Aumento das infestações do vírus CSSV (Cacao Swollen Shoot Virus)
- Lavouras envelhecidas com baixa produtividade
Oportunidade histórica para o Brasil
“Com essa quebra de produção no mundo, o Brasil tem a chance de suprir essa demanda”, explica Adolfo Moura, engenheiro agrônomo especialista em pesquisas de cacau há mais de 10 anos. Para ele, o cultivo nacional precisa expandir áreas plantadas para primeiro atender a demanda interna e depois pensar em exportação.
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O país tem experiência no setor. Entre as décadas de 1930 e 1980, o cacau brasileiro foi símbolo de riqueza, especialmente na Bahia. Porém, a chegada da doença Vassoura-de-bruxa em 1989 devastou a produção, reduzindo-a de 400 mil para 123 mil toneladas anuais em menos de uma década.
Irrigação por gotejamento: a revolução tecnológica
A irrigação localizada emerge como protagonista da retomada cacaueira brasileira. A técnica permite aplicação precisa de água e nutrientes, com eficiência superior a 90% e aumento de produtividade de até 150% comparado a sistemas não irrigados.
Carlos Barh, engenheiro agrônomo da Rivulis com mais de 50 anos de experiência, destaca: “O cacau nasceu para ser irrigado por gotejamento, pois a técnica não aumenta umidade, evitando o desenvolvimento de fungos.”
Em áreas irrigadas com manejo intensivo, é possível atingir produtividades acima de 2.000 kg/ha/ano – quase quatro vezes a média de países africanos.
Ceará: o novo eldorado do cacau
O cacau cearense já é realidade. Desde 2010, um projeto de cooperação entre Associação Univale, Frutacor, CEPLAC e Embrapa, liderado pelo engenheiro Diógenes Henrique Abrantes Sarmento, revoluciona o cultivo no Vale do Jaguaribe.

“Testamos várias culturas na região. Após anos de estudos, o cacau foi o que melhor se adaptou”, conta Sarmento. A primeira área de quatro hectares consolidada em 2010 utilizou 12 clones, com destaque para as variedades CCN51 e PS319, que atingem produção de 2,5 a 3 toneladas por hectare.
Para resolver desafios logísticos, os produtores cearenses verticalizaram a produção. Em 2018, foi fundada a Cacau do Ceará, primeira indústria a usar matéria-prima exclusiva de produtores locais em Limoeiro do Norte.
O projeto evoluiu para consórcio com outras culturas como coco e banana, maximizando a renda por área. Atualmente, mais de 300 hectares de produtores cearenses apostam no cultivo, com meta de atingir 400 hectares até janeiro.
Potencial econômico e expansão
O retorno financeiro do cacau é atrativo. Com bom manejo, produtores conseguem atingir 3 mil kg de amêndoa por hectare. Considerando o preço atual de R$ 50 por kg, a renda bruta chega a R$ 150 mil por hectare, com custeio de cerca de R$ 22 mil.
A cultura apresenta vantagens competitivas:
- Baixa demanda de mão de obra
- Adaptação a épocas quentes
- Facilidade de consórcio com outras culturas
- Viabilidade para todos os portes de produtores
Para expandir a produção cacaueira brasileira, o setor busca:
- Parcerias público-privadas para pesquisas
- Financiamentos e linhas de crédito específicas
- Capacitação técnica especializada
- Ampliação de viveiristas para produção de mudas
Com qualidade comprovada dos clones atuais, o cultivo de cacau tem potencial para expansão por todo o Ceará, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, posicionando o Brasil novamente como protagonista mundial no setor.
A crise mundial do cacau representa uma janela de oportunidade única para o agronegócio brasileiro. Com tecnologia, manejo adequado e investimentos estruturantes, o país pode reconquistar sua posição histórica no mercado internacional da cultura.
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