Peixe revoluciona tratamento de queimaduras. Nordeste lidera consumo e Ceará se destaca na produção
Foto: Wenderson Araujo/Sistema CNA/Senar

O Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial de produção de tilápia, segundo a Associação Brasileira de Piscicultura. A espécie representa 63,5% de toda a produção nacional de peixes cultivados e conquista cada vez mais espaço no mercado brasileiro.

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O cultivo comercial de tilápias ganhou força no Nordeste durante a década de 90. O Ceará lidera o consumo da espécie na região, beneficiado pela produção natural nos reservatórios públicos estaduais. O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) realiza o povoamento desses reservatórios.

“A primeira tilápia que trouxemos para nossa região veio do Sudeste do país, mas ela não crescia muito e nem era produtiva”, conta Pedro Eymard, chefe do Centro de Pesquisas em Aquicultura Rodolpho von Ihering. Em 2002, Eymard e o engenheiro de pesca José Ilton Moura viajaram até a Tailândia, onde passaram 18 dias em treinamento com técnicos japoneses e tailandeses. “Trouxemos de lá a tilápia nilótica com um material genético mais preservado e que cresce bem mais que as outras”, explica.

O Centro de Pesquisas mantém uma unidade de reversão de sexo de tilápia e outra para preservação da linhagem tailandesa.

Propriedades nutricionais atraem consumidores conscientes

A tilápia apresenta sabor suave, cor branca, ausência de odor forte e baixo teor de gordura. O peixe contém alta quantidade de proteínas e mínima presença de carboidratos, características que o tornam aliado de quem busca ganhar massa magra e perder peso.

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A espécie também fornece vitaminas A, B e D, além de minerais como cálcio, ferro e zinco. Esses nutrientes melhoram a saúde de dentes e ossos, ajudam a prevenir doenças cardiovasculares, oferecem ação antioxidante e regeneram músculos e tecidos.

O peixe possui ainda ácido DHA, um ácido graxo tipo ômega-3 que beneficia a saúde cerebral e protege contra a ação degenerativa de radicais livres. A tilápia também facilita a digestão, previne inflamações e combate a prisão de ventre.

Pele de tilápia revoluciona tratamento de queimaduras

Em 2015, médicos e pesquisadores cearenses descobriram que a pele da tilápia funciona como curativo para queimaduras de 2º e 3º graus. O tratamento acelera o processo de cicatrização e diminui a dor dos pacientes.

“A grande vantagem da pele da tilápia, em relação ao tratamento convencional da rede pública brasileira, é que essa pele adere ao leito da ferida, evitando contaminação do meio externo para a lesão”, explica o médico Edmar Maciel Lima Júnior, coordenador geral da pesquisa. “Isso impede que o paciente perca líquido e fique desidratado. Com a pele, os profissionais também evitam as trocas diárias de curativo que são extremamente dolorosas pro paciente.”

O material passa por um processo de preparo e esterilização com enzimas. “A pele é desidratada, embalada a vácuo e radiada em São Paulo, em um aparelho gama cobalto”, detalha Edmar. Após os testes, o produto fica pronto para uso na pesquisa e possui validade de dois anos e meio.

Paciente relata recuperação completa sem cicatrizes

O caseiro Pedro Silva vivenciou os benefícios do tratamento há cerca de sete anos. Ele sofreu uma queimadura grave na perna esquerda durante um acidente doméstico. “Eu estava preparando a janta, escutei um barulho de gás saindo no botijão e fui olhar, daí começou a sair fogo”, relembra.

Pedro recebeu atendimento hospitalar e conheceu o médico Edmar, que aplicou as peles de tilápia na região afetada. “Fui pra casa e me recuperei totalmente. Hoje não tenho nenhuma sequela e nem cicatriz”, comemora.

O coordenador da pesquisa revela que a pele de tilápia liofilizada apresenta sucesso em diversos tratamentos. “Funciona em queimaduras e feridas em animais, já usamos na odontologia para lesões de cavidade oral e obtivemos sucesso total na ginecologia, na reconstrução de pacientes que nascem sem vagina, além de várias outras áreas que já estudamos”, enumera Edmar.

A tilápia comprova que seus benefícios vão muito além do valor nutricional, estabelecendo-se como uma solução inovadora na medicina brasileira.