Resumo da notícia
- O Brasil explora apenas 1% do mercado global de produtos florestais sustentáveis, que movimenta cerca de US$ 300 bilhões, indicando grande potencial para ampliar a participação da Amazônia no comércio internacional.
- Cinco produtos têm destaque na exportação sustentável: castanha-da-Amazônia, café, açaí, cacau e pescados, que unem tradição, inovação e conservação na nova economia da floresta.
- A castanha-da-Amazônia enfrenta desafios para agregar valor e fortalecer cooperativas; o Brasil exporta US$ 20 milhões, enquanto a Bolívia supera US$ 100 milhões, mostrando espaço para crescimento.
- O café amazônico, adaptado pela Embrapa ao clima tropical, alia alta produtividade à preservação ambiental, oferecendo oportunidades para pequenos produtores e recuperação de áreas degradadas.
Um estudo recente conecta a riqueza da Amazônia com oportunidades no mercado internacional. Segundo ele, o Brasil explora apenas 1% do mercado global de produtos florestais sustentáveis
O estudo identifica cinco produtos com maior potencial de expansão no mercado internacional: castanha-da-Amazônia, café, açaí, cacau e pescados. O manejo sustentável permite explorar esses itens, que se destacam pela importância econômica, ambiental e simbólica. Juntos, eles formam um retrato da nova economia da floresta, que alia tradição, inovação e conservação.
Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, destaca que a floresta pode gerar renda e oportunidades. “A Apex contribui com dados, estudos e estratégias para transformar produtos amazônicos em motores de uma nova economia. Que é sustentável do ponto de vista social, ambiental e econômico”, afirma.
“O mundo movimenta cerca de US$ 300 bilhões em produtos compatíveis com a floresta. O Brasil, que tem a maior floresta tropical do planeta, participa com apenas 1% desse total. Isso mostra o tamanho da oportunidade que temos”, explica Viana.
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O presidente da ApexBrasil calcula que o país pode expandir significativamente sua presença no mercado. “Se conseguirmos ampliar a participação dos nossos produtos da biosocioeconomia e da floresta, podemos transformar a realidade da Amazônia. Em vez de movimentar cerca de US$ 300 milhões, poderíamos gerar mais de US$ 2 bilhões aqui na região”, acrescenta.
Castanha-da-Amazônia enfrenta desafio de agregação de valor
A castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) representa um dos produtos mais emblemáticos da Amazônia. Além de seu alto valor nutricional e econômico, a castanheira funciona como espécie-chave para a floresta. A árvore alimenta a fauna e sustenta modos de vida tradicionais há séculos.
As castanheiras vivem mais de mil anos. A lei proíbe o corte dessas árvores — uma conquista histórica para a conservação. Jorge Viana alerta, porém, que “ainda falta uma política de incentivo ao plantio de castanheiras. A regeneração natural é lenta e precisamos garantir que essa cadeia continue viva.”
O Brasil exporta cerca de US$ 20 milhões em castanha atualmente. O valor fica pequeno quando comparado à Bolívia, que ultrapassa US$ 100 milhões. Viana identifica o desafio: agregar valor, ampliar o beneficiamento local e fortalecer cooperativas. A Cooperacre serve como referência em industrialização sustentável do produto.
Café amazônico combina produtividade com preservação
O café entrou no Brasil pela Amazônia em 1727. Quase 300 anos depois, a região protagoniza uma nova fase com o café amazônico, que a Embrapa desenvolveu em Rondônia.
A Embrapa adaptou essa variedade ao clima tropical. A alta produtividade representa uma oportunidade única para pequenos produtores e para a recuperação de áreas degradadas.
“O café amazônico é um produto compatível com a floresta, que pode ser 50 a 100 vezes mais rentável que a pecuária. Ele simboliza uma nova economia amazônica, que gera renda sem destruir”, destaca Viana.
Rondônia e Acre lideram o avanço desse café, com exportações superiores a US$ 130 milhões. O produto alia tecnologia, sustentabilidade e alto potencial no mercado de cafés especiais.
Açaí evolui de alimento regional para superalimento global
O açaí (Euterpe oleracea) evoluiu de alimento tradicional das populações ribeirinhas para o status de superalimento global. O fruto representa o exemplo mais bem-sucedido de um produto compatível com a floresta. A Amazônia toda cultiva açaí, e o fruto movimenta cadeias produtivas que envolvem milhares de famílias, sobretudo no Pará e no Amapá.
Jorge Viana coloca o açaí como peça central na agenda climática: “Com a COP30 no Brasil, teremos recursos inéditos para restauração florestal e sistemas agroflorestais. O açaí precisa estar no centro dessas políticas.”
Além de ativo econômico, o açaí desempenha papel estratégico na recuperação de áreas degradadas. O fruto consolida sistemas agroflorestais (SAFs), que combinam produção e conservação. O Brasil também avança em soluções tecnológicas e sanitárias para ampliar exportações e agregar valor.
Cacau amazônico busca reconquistar mercado global
A floresta amazônica originou o cacau (Theobroma cacao), uma das bases da biosocioeconomia brasileira. Embora a produção africana tenha transformado o fruto em seu símbolo — Costa do Marfim e Gana respondem por cerca de 70% da produção mundial —, a Amazônia guarda as raízes genéticas e culturais do cacau.
Viana destaca uma distorção no mercado: apenas 6% a 7% do valor do chocolate global permanece com os produtores de cacau. Indústrias da Europa e dos Estados Unidos capturam a maior parte. “Isso precisa mudar. O produtor amazônico precisa receber melhor remuneração, e o Brasil tem que voltar a ocupar seu espaço como referência em cacau de origem”, defende.
Após décadas de retração causada pela vassoura-de-bruxa, o setor vive um renascimento. O Brasil voltou a produzir centenas de milhares de toneladas. O país investe em tecnologias de cultivo a pleno sol, inovação que pode revolucionar o setor e ampliar a produção nacional.
O cacau amazônico compõe sistemas agroflorestais junto com o açaí e a castanha. Esse tripé de sustentabilidade une recomposição florestal e geração de renda local. “O cacau está vivendo uma nova fase: é cultura, é economia e é inclusão social”, resume Viana.
Piscicultura amazônica representa fronteira econômica inexplorada
A Amazônia detém 12% da água doce do planeta e um dos maiores potenciais pesqueiros do mundo. Com 4 mil quilômetros de rios navegáveis e 25% da biodiversidade global, a região funciona como berço natural de espécies e alimentos sustentáveis.
Jorge Viana defende que o Brasil transforme esse patrimônio em nova fronteira econômica sustentável: “Se temos 12% da água doce do planeta, precisamos manejar essa água para produzir proteína.”
Espécies emblemáticas como pirarucu, tambaqui e tilápia sustentam a piscicultura amazônica. A atividade representa uma fonte estratégica de renda, alimentação e exportação, ainda pouco explorada.
A ApexBrasil apoia o avanço dessa cadeia. A agência promove o pescado brasileiro em novos mercados e integra projetos-modelo de manejo sustentável, especialmente na Bacia dos Solimões. Comunidades extrativistas já lideram exemplos de sucesso na região.
“A piscicultura pode se tornar o maior ativo econômico da Amazônia, unindo conservação da água, produção de proteína e geração de renda local”, conclui Viana.
COP30 abre janela de oportunidade para biosocioeconomia
O trabalho da ApexBrasil com esses produtos exemplifica a visão de uma biosocioeconomia de floresta em pé. Essa abordagem une saber tradicional, inovação tecnológica e acesso a mercados internacionais.
Com a COP30 em Belém, o mundo volta seus olhos à Amazônia. O Brasil tem a oportunidade de mostrar que desenvolvimento e conservação podem caminhar juntos. “A floresta pode ser nossa maior fonte de riqueza e de equilíbrio climático. Cabe a nós transformar esse potencial em realidade”, finaliza Jorge Viana.