China domina importações americanas, mas perde participação no mercado
Foto: Jefferson Christofoletti / Embrapa

A Embrapa concluiu um estudo que mapeia o mercado internacional de tilápia e identifica oportunidades estratégicas para produtores brasileiros na Europa e nos Estados Unidos. A tilápia lidera a produção e exportação de pescado no Brasil, consolidando-se como o principal produto da aquicultura nacional, setor que registra crescimento consistente nos últimos anos.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

O país ainda possui grande potencial inexplorado, especialmente quando se consideram vantagens naturais como qualidade da água e disponibilidade de áreas produtivas. O mercado brasileiro de tilápia tem margem significativa para expansão internacional.

Consumo nos EUA supera Europa em mais de 10 vezes

Os mercados europeu e americano apresentam cenários completamente distintos para o consumo de tilápia. A Europa registra consumo médio de apenas 39 gramas por habitante ao ano, com a Bélgica liderando o continente com 147 gramas per capita anuais. Os Estados Unidos consomem 460 gramas por habitante ao ano, cifra 11 vezes superior à média europeia.

“No caso dos Estados Unidos, chama a atenção a grande popularidade da tilápia junto aos consumidores em todo o país, o que tem proporcionado o crescimento do consumo de diversos produtos de tilápia, tanto frescos como congelados”, explica Manoel Pedroza, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).

O mercado europeu concentra o consumo em nichos étnicos específicos: comunidades latino-americanas, árabes, asiáticas e africanas dominam a demanda. Já os Estados Unidos expandiram o consumo desde a década de 1990, transformando a tilápia em um dos peixes mais populares do país e líder entre as carnes brancas.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Tarifaço de Trump reduz exportações em 32%, mas setor resiste

O governo de Donald Trump impôs recentemente tarifas sobre produtos brasileiros, afetando as exportações de tilápia para os Estados Unidos. Os dados de agosto de 2025, primeiro mês com vigência do tarifaço, mostram queda de 32% nas exportações em toneladas comparado a agosto de 2024.

“Especialistas do setor esperavam uma queda maior e esse resultado mostra que o setor continua presente no mercado norte-americano, mesmo no cenário atual”, afirma Pedroza. A resistência do setor surpreendeu analistas que projetavam impacto mais severo.

Produtos congelados representam nova fronteira para exportadores

Pedroza identifica oportunidade concreta para o Brasil expandir exportações de tilápia congelada para os Estados Unidos. Atualmente, os produtores nacionais concentram presença no mercado de filé fresco. O mercado de congelados, embora mais competitivo em preços, possui demanda substancialmente maior.

Nos Estados Unidos, a presença do produto brasileiro é mais forte no mercado de filé fresco do peixe – Foto: Divulgação

“Algumas empresas brasileiras já vinham investindo na exportação de tilápia inteira e de filés congelados para os Estados Unidos, mas o tarifaço atrapalhou esse processo”, complementa o pesquisador.

Europa oferece oportunidades para produtos frescos após reabertura

O mercado europeu apresenta boa oportunidade para exportação de produtos frescos de tilápia brasileira após a conclusão da etapa de reabertura. Pedroza projeta que “os exportadores brasileiros podem se beneficiar da boa reputação do filé fresco de tilápia do Brasil e também aproveitar a grande oferta de voos para diversos países da Europa”.

O transporte aéreo torna-se essencial para produtos frescos, e o Brasil possui vantagem logística nesse aspecto. Porém, o pesquisador ressalta: “será necessário um trabalho robusto de divulgação dos produtos brasileiros e desenvolver a demanda por tilápia fresca, que atualmente é baixa na Europa”.

A pesquisa indica que exportadores brasileiros devem investir em estratégia de diferenciação que destaque a qualidade superior do produto nacional no mercado europeu. O setor precisa expandir além dos nichos étnicos tradicionais e competir com outras espécies de filé branco: panga, polaca do Alasca e perca do Nilo.

Os preços da tilápia chinesa estão subindo devido a aumentos nos custos de ração e transporte, fator que pode elevar a competitividade de produtos brasileiros exportados para a Europa.

O mercado americano oferece oportunidades em nichos premium que valorizam a qualidade da tilápia brasileira. A crescente demanda por rastreabilidade, a queda na oferta chinesa e de países centro-americanos, o segmento de congelados e a agregação de valor em produtos (novos cortes, empanados, tilápia vermelha e embalagens prontas para consumo) representam oportunidades concretas.

Desafios exigem investimentos em marketing e certificação

Os produtores brasileiros enfrentam desafios específicos em cada mercado. Na Europa, precisam tornar a tilápia mais conhecida através de ações de comunicação e marketing, estabelecer preços competitivos e focar estrategicamente na qualidade como diferencial.

Nos Estados Unidos, os desafios incluem o recente aumento das tarifas de exportação, necessidade de redução de preços, logística ágil para produtos frescos e exigência de certificação internacional.

A produção mundial de tilápia cresceu 43% entre 2013 e 2023, passando de 4,75 milhões para 6,78 milhões de toneladas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

A China lidera com 1,8 milhão de toneladas (27% da produção global em 2023), seguida por Indonésia com 1,4 milhão de toneladas (21%) e Egito com 960 mil toneladas (14%).

O Brasil ocupa a quarta colocação com produção de 440 mil toneladas, representando 7% da produção mundial em 2023. O crescimento brasileiro impressiona: em 2013, o país produzia 170 mil toneladas, representando variação positiva de 161% em dez anos. O Brasil ocupava a oitava posição em 2013 e alcançou a quarta colocação em 2023.

Tilápia ainda ocupa posição discreta no varejo europeu

A tilápia ficou em sexto lugar entre os peixes brancos mais importados pela Europa em 2024, com 36,6 mil toneladas em um universo de quase 1,4 milhão de toneladas. O volume da tilápia equivale a apenas 11% das importações de polaca do Alasca (323,3 mil toneladas) e 47% das importações de panga (77 mil toneladas).

A publicação da Embrapa indica que “as importações europeias de tilápia têm apresentado estabilidade ao longo dos últimos dez anos, se mantendo em torno de 35 mil toneladas por ano”. Entre 2014 e 2024, as importações dessa espécie cresceram 13,5% em valor e apenas 2,4% em volume.

Dos dez principais países exportadores de tilápia para a Europa, seis atuam como reexportadores, recebendo e repassando o produto a outros países. Os outros quatro são asiáticos: China, Vietnã, Indonésia e Tailândia, conforme dados do European Market Observatory for Fisheries and Aquaculture Products (Eumofa).

Estados Unidos consolidam tilápia como segunda espécie mais importada

Os Estados Unidos importaram mais de 185,5 mil toneladas de tilápia em 2024, equivalendo a 13% do total de peixes importados e garantindo a segunda posição no ranking. O salmão lidera com 468 mil toneladas (34% do total).

Em termos financeiros, a tilápia movimentou mais de US$ 740 mil no mercado americano em 2024, respondendo por 6% do total. O salmão liderou o ranking financeiro com mais de US$ 5,760 milhões (metade do total), seguido pelo atum com mais de US$ 860 mil (7%), segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

China perde participação, Brasil ganha espaço no mercado americano

Entre 2014 e 2024, as importações americanas de tilápia caíram de 232.290 toneladas para 185.522 toneladas, recuo de 20%. Nos últimos anos, as importações se estabilizaram em torno de 180 mil toneladas.

A China domina as importações, mas perde participação. Em termos financeiros, caiu de 69% em 2014 para 52% em 2024. Em peso, passou de 75% para 67% no mesmo período.

O Brasil tornou-se o quarto maior exportador de tilápia para os Estados Unidos em 2024, quando nem figurava entre os dez principais em 2014. Os produtores brasileiros responderam por 7% do valor e 5% do peso importado pelos EUA em 2024.

A Embrapa Pesca e Aquicultura coordena e executa a pesquisa no âmbito do projeto “Fortalecimento das exportações brasileiras da aquicultura”. O financiamento vem de emendas parlamentares de números 45000016 e 31760007. A Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) apoiou a pesquisa, que gerou dois informativos especiais.