Extorsões e assaltos nas montanhas andinas ameaçam a produção de café premium e expõem fragilidades na cadeia de suprimentos de marcas globais
Foto: Wenderson Araújo/Trilux/Sisterma CNA/Senar

As regiões cafeeiras dos Andes colombianos, responsáveis por produzir alguns dos grãos mais valorizados do planeta, vivem sob crescente ameaça de grupos armados. Fazendas que fornecem café para gigantes como Starbucks e Nestlé têm sido alvo de assaltos sistemáticos e extorsões, comprometendo a segurança de uma indústria vital para a economia do país.

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A deterioração das condições de segurança nessas áreas estratégicas levanta alertas sobre o futuro do café colombiano no mercado internacional e suas consequências para milhões de consumidores em todo o mundo.

Qualidade do café exportado está em risco

O aumento da violência nas zonas produtoras pode impactar diretamente a qualidade e a regularidade do fornecimento de café colombiano. As interrupções causadas pelos ataques afetam desde a colheita até o transporte dos grãos, criando incertezas para empresas que dependem da consistência do produto.

Grandes marcas globais utilizam o café colombiano como componente essencial de suas misturas premium. Qualquer instabilidade na produção pode forçar essas empresas a buscar fornecedores alternativos ou lidar com aumentos de custos que eventualmente chegam ao consumidor final.

Fazendas certificadas escondem abusos trabalhistas

Paralelamente à questão da violência armada, denúncias recentes expõem violações de direitos trabalhistas em propriedades que ostentam selos de sustentabilidade. Trabalhadores rurais relatam condições precárias, jornadas excessivas e falta de equipamentos de proteção em fazendas que fornecem café para programas éticos das multinacionais.

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A descoberta dessas práticas abusivas em fazendas certificadas levanta questionamentos sobre a eficácia dos mecanismos de fiscalização e auditoria utilizados pelas empresas compradoras para validar suas cadeias de fornecimento.

Grupos armados intensificam atuação nas zonas cafeeiras

Embora paramilitares e ex-guerrilheiros tenham presença histórica nas áreas rurais colombianas, autoridades locais confirmam um recrudescimento das atividades criminosas nos últimos trimestres. Os ataques não se limitam às fazendas: transportadores e intermediários também são alvos frequentes, criando um clima de insegurança generalizada.

Exportadores do setor alertam que, sem intervenção efetiva do governo colombiano, a situação pode se tornar insustentável. Levando ao abandono de propriedades e à migração de trabalhadores para centros urbanos.

Multinacionais prometem melhorias, mas efetividade é questionada

Em comunicados oficiais, representantes da Starbucks e Nestlé afirmam estar comprometidos com a segurança dos produtores e a rastreabilidade ética de seus grãos. As empresas mencionam investimentos em programas de desenvolvimento comunitário e parcerias com organizações locais para fortalecer a proteção dos trabalhadores.

Especialistas em comércio internacional, no entanto, destacam que declarações de compromisso precisam vir acompanhadas de ações concretas e mensuráveis. Eles também afirmam que a transparência nos processos de certificação e a responsabilização de fornecedores que violam direitos humanos são essenciais para restaurar a confiança na cadeia produtiva do café colombiano.

Crise pode redefinir mercado global de café premium

A conjuntura atual nas regiões cafeeiras da Colômbia representa um ponto de inflexão para o mercado internacional. Assim, caso a violência continue e as condições de trabalho não melhorem, compradores globais podem decidir reavaliar suas estratégias de fornecimento, o que pode favorecer outros países produtores.

Para a Colômbia, que construiu sua reputação global com a qualidade de seu café, o debate envolve não apenas a economia, mas também a preservação de um patrimônio cultural reconhecido mundialmente.