Competição estadual bate recorde com 1.847 inscrições e transforma vida de famílias rurais; café campeão chega a valer R$ 6 mil por saca
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Os concursos de qualidade de café estão revolucionando a vida de produtores rurais em Minas Gerais. Em 2025, o Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais registrou um crescimento extraordinário de 31% no número de inscrições, saltando de 1.406 participantes em 2024 para 1.847 neste ano.

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O fenômeno é explicado pela valorização excepcional dos lotes premiados no mercado. Os grãos vencedores chegam a ser comercializados por até três vezes o valor do café convencional, proporcionando aumentos de renda que transformam completamente a realidade das famílias produtoras.

Valores recordes movimentam o mercado de cafés especiais

Os números da última edição impressionam: o café vencedor do concurso de 2024 foi adquirido por uma rede de supermercados por R$ 6 mil a saca, além do prêmio de R$ 10 mil recebido pelo Grande Campeão. Os grãos do segundo e terceiro lugares foram comercializados por R$ 5 mil e R$ 4 mil por saca, respectivamente.

“Como o café subiu bastante no último ano, comprado por R$ 2,5 mil a saca anteriormente, a diferença de preços foi menos acentuada, mas nos últimos anos tivemos o lote campeão sendo vendido por três vezes a cotação do dia”, explica Bernardino Cangussu, coordenador estadual de Cafeicultura da Emater-MG.

Matas de Minas: de região esquecida a potência nacional

A transformação é ainda mais notável na região das Matas de Minas, dentro da Zona da Mata mineira. Willem Araújo, coordenador estadual de Culturas da Emater-MG, destaca a evolução impressionante da área.

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“Há alguns anos, nas Matas de Minas, quase não havia café de qualidade, mas atualmente a região é uma das maiores produtoras de cafés finos do país”, afirma Araújo, ressaltando o papel fundamental dos concursos municipais, regionais e estaduais na melhoria da qualidade.

O Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais, agora em sua 22ª edição, consolidou-se como a maior e mais tradicional competição voltada exclusivamente para cafés especiais produzidos no estado.

Família Lacerda: seis prêmios e exportação para quatro países

Um dos casos de sucesso mais emblemáticos é o da família Lacerda, de Espera Feliz. José Alexandre Lacerda representa uma dinastia cafeeira que acumula seis prêmios estaduais (2012, 2014, 2017, 2019, 2022 e 2024) e três nacionais (2012, 2016 e 2020).

Família Lacerda. Foto: Rafael Soal/Emater-MG

“Nasci na cafeicultura, mas era uma vida muito difícil com o café convencional. Quando o extensionista da Emater-MG sugeriu entrarmos no concurso, já na primeira vez ganhamos um prêmio”, relembra José Alexandre.

Hoje, o sítio Di Lacerda vende para torrefações e cafeterias em vários estados brasileiros e exporta para Portugal, Espanha, Inglaterra e Japão. Os valores dos cafés especiais giram entre 60% e 100% acima do preço de uma saca comum.

“Vem gente do mundo inteiro aqui. Passar de produtor de café convencional para o gourmet foi como se tivéssemos achado uma mina de ouro”, celebra o cafeicultor.

Estratégias digitais impulsionam vendas diretas

Também na Zona da Mata, a cafeicultora Silmara Emerick, de Alto Jequitibá, desenvolveu uma estratégia diferente para aproveitar o prestígio dos concursos. Premiada regularmente nas competições regionais das Matas de Minas e do Caparaó, ela optou pela venda direta ao consumidor através das redes sociais.

“Temos nossa marca de café e usamos a internet, Instagram e WhatsApp para comercializar nosso produto”, explica Silmara. A família também participa anualmente da Semana Internacional de Café (SIC), importante vitrine do setor.

Plataforma digital amplia alcance dos produtores

A Emater-MG criou ainda o site “É do Campo”, uma plataforma de vendas online que conecta produtores da agricultura familiar diretamente aos consumidores. Muitos dos cafeicultores premiados nos concursos utilizam a ferramenta para comercializar seus produtos com suas próprias marcas.

Thiago Oliveira, coordenador regional da Emater-MG em Manhuaçu, destaca que os concursos, com inscrições gratuitas, representam “a vitrine mais acessível de projeção do cafeicultor”.

“Os concursos atraem a atenção do mercado pois facilitam que identifiquem bebidas de alta qualidade. Vale a pena participar também para estreitar relações com cafeterias e compradores”, conclui Oliveira.

Sobre o Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais

Promovido pelo Governo de Minas Gerais através da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), o concurso é gratuito e está em sua 22ª edição. A competição avalia exclusivamente cafés especiais produzidos no estado e se consolidou como a maior do gênero no Brasil.