Resumo da notícia
- O Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais teve um aumento de 31% nas inscrições em 2025, passando de 1.406 para 1.847 participantes, refletindo o interesse crescente dos produtores por cafés especiais.
- Os lotes premiados alcançam preços até três vezes maiores que o café convencional, com sacas vendidas entre R$ 4 mil e R$ 6 mil, gerando ganhos significativos para os produtores e impactando positivamente suas famílias.
- A região das Matas de Minas, antes pouco reconhecida, tornou-se uma potência nacional na produção de cafés finos, impulsionada pelos concursos municipais e estaduais que incentivam a qualidade do produto.
- A família Lacerda, exemplo de sucesso, conquistou múltiplos prêmios estaduais e nacionais e exporta cafés especiais para quatro países, aumentando em até 100% o valor de suas sacas em relação ao café comum.
Os concursos de qualidade de café estão revolucionando a vida de produtores rurais em Minas Gerais. Em 2025, o Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais registrou um crescimento extraordinário de 31% no número de inscrições, saltando de 1.406 participantes em 2024 para 1.847 neste ano.
O fenômeno é explicado pela valorização excepcional dos lotes premiados no mercado. Os grãos vencedores chegam a ser comercializados por até três vezes o valor do café convencional, proporcionando aumentos de renda que transformam completamente a realidade das famílias produtoras.
Valores recordes movimentam o mercado de cafés especiais
Os números da última edição impressionam: o café vencedor do concurso de 2024 foi adquirido por uma rede de supermercados por R$ 6 mil a saca, além do prêmio de R$ 10 mil recebido pelo Grande Campeão. Os grãos do segundo e terceiro lugares foram comercializados por R$ 5 mil e R$ 4 mil por saca, respectivamente.
- Motor da economia: faturamento do agro cresce 11,3% e alcança R$ 1,4 trilhão
- CNA apresenta o posicionamento do agro para COP30
“Como o café subiu bastante no último ano, comprado por R$ 2,5 mil a saca anteriormente, a diferença de preços foi menos acentuada, mas nos últimos anos tivemos o lote campeão sendo vendido por três vezes a cotação do dia”, explica Bernardino Cangussu, coordenador estadual de Cafeicultura da Emater-MG.
Matas de Minas: de região esquecida a potência nacional
A transformação é ainda mais notável na região das Matas de Minas, dentro da Zona da Mata mineira. Willem Araújo, coordenador estadual de Culturas da Emater-MG, destaca a evolução impressionante da área.
“Há alguns anos, nas Matas de Minas, quase não havia café de qualidade, mas atualmente a região é uma das maiores produtoras de cafés finos do país”, afirma Araújo, ressaltando o papel fundamental dos concursos municipais, regionais e estaduais na melhoria da qualidade.
O Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais, agora em sua 22ª edição, consolidou-se como a maior e mais tradicional competição voltada exclusivamente para cafés especiais produzidos no estado.
Família Lacerda: seis prêmios e exportação para quatro países
Um dos casos de sucesso mais emblemáticos é o da família Lacerda, de Espera Feliz. José Alexandre Lacerda representa uma dinastia cafeeira que acumula seis prêmios estaduais (2012, 2014, 2017, 2019, 2022 e 2024) e três nacionais (2012, 2016 e 2020).

“Nasci na cafeicultura, mas era uma vida muito difícil com o café convencional. Quando o extensionista da Emater-MG sugeriu entrarmos no concurso, já na primeira vez ganhamos um prêmio”, relembra José Alexandre.
Hoje, o sítio Di Lacerda vende para torrefações e cafeterias em vários estados brasileiros e exporta para Portugal, Espanha, Inglaterra e Japão. Os valores dos cafés especiais giram entre 60% e 100% acima do preço de uma saca comum.
“Vem gente do mundo inteiro aqui. Passar de produtor de café convencional para o gourmet foi como se tivéssemos achado uma mina de ouro”, celebra o cafeicultor.
Estratégias digitais impulsionam vendas diretas
Também na Zona da Mata, a cafeicultora Silmara Emerick, de Alto Jequitibá, desenvolveu uma estratégia diferente para aproveitar o prestígio dos concursos. Premiada regularmente nas competições regionais das Matas de Minas e do Caparaó, ela optou pela venda direta ao consumidor através das redes sociais.
“Temos nossa marca de café e usamos a internet, Instagram e WhatsApp para comercializar nosso produto”, explica Silmara. A família também participa anualmente da Semana Internacional de Café (SIC), importante vitrine do setor.
Plataforma digital amplia alcance dos produtores
A Emater-MG criou ainda o site “É do Campo”, uma plataforma de vendas online que conecta produtores da agricultura familiar diretamente aos consumidores. Muitos dos cafeicultores premiados nos concursos utilizam a ferramenta para comercializar seus produtos com suas próprias marcas.
Thiago Oliveira, coordenador regional da Emater-MG em Manhuaçu, destaca que os concursos, com inscrições gratuitas, representam “a vitrine mais acessível de projeção do cafeicultor”.
“Os concursos atraem a atenção do mercado pois facilitam que identifiquem bebidas de alta qualidade. Vale a pena participar também para estreitar relações com cafeterias e compradores”, conclui Oliveira.
Sobre o Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais
Promovido pelo Governo de Minas Gerais através da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), o concurso é gratuito e está em sua 22ª edição. A competição avalia exclusivamente cafés especiais produzidos no estado e se consolidou como a maior do gênero no Brasil.