Embrapa desenvolve cultivares adaptadas e testa sistemas de produção desde 2022
Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

A Embrapa Cerrados realizou nos dias 30 e 31 de outubro um workshop que capacitou cerca de 50 técnicos extensionistas do Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Bahia para o cultivo de açaizeiro irrigado no Cerrado. O evento “Sistema de produção sustentável de açaizeiro irrigado no Cerrado: capacitação e experiências” marca um avanço na expansão dessa cultura tipicamente amazônica para novas regiões produtoras.

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Foto: Embrapa

Os participantes assistiram a palestras técnicas e visitaram tanto a área experimental da Embrapa Cerrados quanto propriedades rurais do DF que cultivam açaí com mudas desenvolvidas pela instituição. Os pesquisadores Wanderlei de Lima e Fábio Faleiro coordenaram a programação.

O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, destacou o potencial extraordinário do açaí para a região. “O Cerrado pode se tornar uma nova fronteira produtiva para essa espécie tipicamente amazônica”, afirmou. Ele classificou o açaí como “a cultura do momento” devido ao seu valor econômico, agronômico e nutricional.

A Embrapa Cerrados completa 50 anos de atuação em 2024 e agora inicia uma fase voltada à diversificação agrícola com a introdução de culturas tropicais de alto valor. O cultivo do açaí no Cerrado começou em 2022 no âmbito da Rota da Fruticultura na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE-DF).

Desafios climáticos exigem pesquisa e inovação

Sebastião Pedro reconheceu que adaptar uma planta de ambiente úmido às condições do Cerrado apresenta desafios climáticos significativos. “Precisamos pesquisar e produzir ao mesmo tempo. Por ser uma planta perene, essa iniciativa foi muito ousada, mas topamos o desafio”, explicou o gestor.

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O pesquisador Wanderlei Lima ressaltou que os plantios de açaizeiro no DF e região já são realidade, enquanto os trabalhos de pesquisa avançam simultaneamente. O plantio mais antigo voltado à pesquisa na Embrapa Cerrados completa dois anos em 2024.

A Embrapa Cerrados conduz atualmente dois experimentos de campo em 2,3 hectares: um voltado ao manejo de irrigação e outro à avaliação agronômica de progênies geneticamente superiores de açaí provenientes de Tomé-Açu (PA).

“O estudo busca compreender o comportamento das plantas desde a germinação até o plantio definitivo”, explicou Wanderlei Lima. O trabalho inclui definição de sistemas de produção de mudas, manejo de irrigação, monitoramento de doenças e nutrição. A instituição também forma uma população base para melhoramento genético, com objetivo de desenvolver cultivares adaptadas ao Cerrado.

No Brasil, três espécies principais de açaí são conhecidas: Euterpe edulis, E. precatoria e E. oleracea. “Compreender a adaptação dessas plantas às diferentes condições ambientais é essencial para o sucesso da cultura no Cerrado”, avaliou o pesquisador.

Mercado em crescimento supera oferta

O pesquisador João Tomé de Farias Neto, da Embrapa Amazônia Oriental, apresentou dados econômicos que demonstram o potencial da cultura. O açaí é o segundo produto agrícola mais importante do Pará, com cerca de 1,6 milhão de toneladas anuais, ficando atrás apenas da mandioca.

Foto: Alexandre Veloso/Embrapa

O setor enfrenta desequilíbrio entre oferta e demanda: o comércio do fruto cresce cerca de 15% ao ano, enquanto a produção aumenta apenas 5%. Esse descompasso eleva o preço do produto, que chega a R$ 80 por lata de 14kg em períodos de entressafra.

“Quem quer ganhar dinheiro deve plantar açaí”, afirmou Tomé, especialista em melhoramento genético da cultura. Segundo ele, o mercado mundial ainda está longe de conhecer plenamente o potencial do fruto.

Irrigação é fator essencial para sucesso

Entre 70% e 80% da produção paraense ocorre no segundo semestre, o que provoca escassez e encarece o produto no início do ano. O cultivo em terra firme com irrigação permite escalonar a produção e garantir oferta constante.

“Se não tem como irrigar, não deve plantar açaí”, alertou Tomé. O pesquisador enfatizou que a irrigação é fator essencial para o sucesso da cultura fora das várzeas amazônicas.

O programa de melhoramento genético da Embrapa já lançou as cultivares BRS Pará (2005), primeira cultivar de açaí para terra firme no Brasil, e BRS Pai d’Água (2019), que se destaca por produção na entressafra e frutos menores. “Frutos menores produzem maior rendimento de polpa e melhor qualidade sensorial”, explicou Tomé.

O especialista destacou a importância das abelhas nativas na polinização do açaizeiro. “A presença desses insetos aumenta a produtividade e a qualidade dos frutos, o que torna a apicultura uma atividade complementar estratégica para os produtores”, afirmou.

Tomé prevê que a migração do açaí das várzeas para a terra firme irrigada é inevitável, tanto na Amazônia quanto em novas regiões como o Cerrado e o Nordeste, onde já há registros de produtividades superiores às do Pará.

Produtores compartilham experiências de sucesso

No segundo dia do evento, os participantes visitaram duas propriedades rurais que implantaram açaí há aproximadamente três anos. Os produtores compartilharam experiências relacionadas à implantação e ao acompanhamento da cultura.

O extensionista da Emater DF, Felipe Camargo, observou que produtores têm migrado da produção de hortaliças para frutas. “Depois que apresentamos as questões relacionadas à possibilidade de receita e aos ganhos com a venda do açaí, muitos produtores têm se interessado. O açaí surge hoje como uma alternativa viável para a nossa região”, destacou.

Foto: Embrapa

Para o pesquisador Fábio Faleiro, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, o workshop foi um momento histórico. “A realização do evento foi importante para compartilhar as experiências de sucesso na pesquisa, transferência de tecnologia, extensão rural e políticas públicas, promovendo a inovação no campo”, afirmou.

A Embrapa Cerrados tem promovido nos últimos anos a capacitação de agentes multiplicadores e produtores rurais em Fruticultura Tropical. Em 2024, a instituição lançou o livro “Fruticultura Tropical – capacitação e experiência de sucesso”, que registra a memória dessas capacitações sobre diferentes frutíferas, incluindo o açaí.

Rota da Fruticultura impulsiona desenvolvimento

A Rota da Fruticultura busca impulsionar o desenvolvimento sustentável da fruticultura no Distrito Federal e região. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) coordena o projeto, desenvolvido em conjunto com a Embrapa Cerrados e a Conab.

A iniciativa envolve também o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, a Superintendência Federal de Agricultura do DF, o Senar-DF, a Emater-DF e a Organização das Cooperativas do DF (OCDF). O objetivo é ampliar a produção e o fornecimento de frutas aos mercados interno e externo, gerar emprego e renda, e atrair novos agricultores para o setor.

Mais informações:

Acesse aqui a gravação do primeiro dia do evento:

Acesse aqui o livro Fruticultura Tropical – capacitação e experiência de sucesso

https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1174039/1/CPAC-2025-Fruticultura-tropical.pdf

Plataforma e-campo (procurar por açaí): https://e-campo.sede.embrapa.br/