Pesquisa brasileira desenvolve alimento híbrido que combina células animais e vegetais, prometendo nutrição personalizada sem abatedouros
Foto: Camila Yamashita/Jornal da Unesp

Uma colaboração internacional envolvendo pesquisadores brasileiros da Unesp desenvolveu um método revolucionário para produzir alimentos híbridos usando impressão 3D e células cultivadas em laboratório. O estudo, publicado na revista Nature Communications em julho de 2024, pode transformar completamente nossa relação com a alimentação.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

A técnica combina agricultura celular com impressão 3D para criar alimentos totalmente personalizados. Os cientistas desenvolveram “biotintas” especiais feitas com:

  • Células de frango cultivadas em laboratório (5 milhões de células por mililitro)
  • Microalgas Chlamydomonas e Chlorella ricas em proteínas
  • Nutrientes e vitaminas customizáveis
  • Gelificantes que dão textura ao produto final

Camila Yamashita, pesquisadora brasileira que participou do projeto durante seu doutorado sanduíche em Harvard, explica: “Conseguimos produzir o alimento do zero, a partir do cultivo celular, sem depender de ingredientes prontos como vegetais ou carnes tradicionais.”

Vantagens da carne de laboratório

A carne cultivada apresenta benefícios significativos em relação aos métodos tradicionais:

  • Menor uso de recursos naturais
  • Redução drástica de gases do efeito estufa
  • Eliminação da necessidade de abatedouros
  • Menor teor de gordura
  • Manutenção do valor nutricional
  • Possibilidade de fortificação com vitaminas específicas
  • Alimentos sob medida para necessidades individuais
  • Texturas adaptáveis para pessoas com disfagia
  • Controle preciso de nutrientes

Processo de produção inovador

O método desenvolvido segue estas etapas principais:

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
  • Cultivo celular: células de frango são multiplicadas em laboratório usando culturas específicas
  • Preparação das biotintas: combinação de células vivas com nutrientes e gelificantes
  • Impressão 3D: uso de impressora adaptada com dois cabeçotes para biotintas animal e vegetal
  • Diferenciação: células se transformam em tecido muscular após impressão

Os pesquisadores testaram com sucesso a impressão de fios de macarrão, donuts e até uma coxa de frango, todos mantendo estrutura e textura adequadas.

Mercado global da carne cultivada

O setor de alimentos cultivados está crescendo rapidamente:

  • Investimentos em 2024: US$ 139 milhões globally
  • Empresas pioneiras: JBS investiu US$ 22 milhões em centro de pesquisa no Brasil
  • Países que aprovaram: Singapura (2020), EUA (2023), Israel (2024), Austrália (2025)

Apesar do potencial, a tecnologia enfrenta obstáculos econômicos, regulatórios e culturais:

  • Altos custos de produção
  • Necessidade de escala industrial
  • Falta de legislação específica na maioria dos países
  • Resistência de setores tradicionais
  • Itália proibiu produção e venda em 2023
  • Estados americanos como Alabama e Flórida também vetaram
  • Brasil tem projeto de lei restritivo em tramitação

O futuro da alimentação

A pesquisadora Yamashita acredita que os grandes investimentos indicam um futuro promissor: “A tecnologia irá se popularizar, expandindo nossas ideias sobre alimentação.”

A impressão 3D de alimentos representa uma mudança paradigmática que pode revolucionar:

  • Segurança alimentar global
  • Sustentabilidade da produção
  • Personalização nutricional
  • Bem-estar animal

Com a população mundial caminhando para 10 bilhões de habitantes ainda neste século, segundo a ONU, tecnologias como a carne de laboratório podem ser fundamentais para garantir segurança alimentar sem comprometer o meio ambiente.

O Brasil, com sua tradição no agronegócio, tem potencial para liderar essa transição tecnológica, combinando inovação com sustentabilidade na produção de alimentos do futuro.

Saiba mais sobre a pesquisa no Jornal da Unesp.